Urtiga, de erva que pica a delícia na mesa

Gastronomia De planta repelente, embora já valorizada na antiguidade, a urtiga transformou-se esta semana em produto “gourmet”, reinando em sopas, entradas, prato principal e sobremesas, numa iniciativa de divulgação da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC). Já há um ano a ESAC fizera iguaria da infestante e desprezada beldroega, com diversas receitas criadas pelo chefe […]

Gastronomia

De planta repelente, embora já valorizada na antiguidade, a urtiga transformou-se esta semana em produto “gourmet”, reinando em sopas, entradas, prato principal e sobremesas, numa iniciativa de divulgação da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC).

Já há um ano a ESAC fizera iguaria da infestante e desprezada beldroega, com diversas receitas criadas pelo chefe cozinheiro António Neves que desmente assim o insulto popular de mandar alguém “às urtigas” já que esta semana, em Coimbra, isso significa comer uma refeição requintada e exclusiva.

“A urtiga, planta malvista pelos seus pelos urticantes, é um verdadeiro tesouro na horta”, sublinha à agência Lusa Leila Rodrigues, docente e organizadora da iniciativa.

Na sua perspectiva, a espécie “merece estudo e divulgação”, pelas suas propriedades medicinais, pela sua utilização na agricultura, nomeadamente na biológica, como fertilizante, como insecticida, no fabrico de queijos, e também pelo uso na culinária.

Assumindo o desafio que lhe foi lançado esta semana, o chefe de cozinha dos refeitórios da ESAC, António Neves, surpreendeu os gastrónomos com uma grande diversidade de aplicações, fazendo dela chá, sopa, esparregado, recheio de panado de peru, de lulas, de lombo assado, e componente de sobremesas, de “semi-frio”, crepes e bolos.

“Através dos meus conhecimentos foram criados pratos, depois de várias experiências de retoque aqui e acolá”, explicou o cozinheiro, frisando que para fazer sobressair o seu sabor, pouco notório, a conjugou com outros produtos.

Quem teve a oportunidade de degustar os pratos feitos com a “erva que pica” ficou surpreendido, apesar de alguns deles conhecerem referências desde a antiguidade ao seu uso medicinal, e a uma ou outra utilização popular na gastronomia.

“Não os experimentei a todos, mas os que experimentei estavam muito bons”, confessou à agência Lusa Rui Antunes, presidente do Instituto Politécnico de Coimbra, instituição de que a ESAC faz parte.

Rui Antunes deixou-se especialmente render ao esparregado, mas o palato da aluna Alexandra Francisco, do 2º ano de biotecnologia, foi mais estimulado pela sopa e pelo panado recheado com urtiga.

“Estas são boas iniciativas no sentido de mostrar que não podemos estar concentrados apenas naquilo que já sabemos, e que há outros aspectos, outras plantas, que podem ter utilidade”, observou Rui Antunes.

Filipe Melo, engenheiro agrónomo e docente na Escola Superior Agrária (ESAC), vê a urtiga como uma espécie com múltiplas utilizações medicinais, nomeadamente para o aparelho urinário, como anti-inflamatório, para o reumatismo, mas também como insecticida biológico e fertilizante agrícola.

“A urtiga em si não dá grande sabor, como outras plantas. Esta deixa a marca invisível. Não deixa a marca no trato gustativo, mas deixa lá os componentes que são bioestimuladores de um conjunto de reacções no organismo”, acentuou.

Mas, os seus benefícios não se esgotam aí. David Gomes, outro docente da ESAC, constatou que, devido à riqueza em sais de potássio e cálcio, ao envolver o queijo com as suas folhas se pode prevenir o aparecimento de bolor, e que na indústria artesanal pode substituir o habitual antibiótico utilizado como inibidor.

“Merece ter um tratamento mais nobre, ainda mais neste momento de crise. Muitas pessoas terão urtigas nos seus quintais, e poderão utilizá-las” na cozinha, afirma Leila Rodrigues, recordando que a fibra extraída dessa planta foi utilizada na I Guerra Mundial para as roupas dos soldados alemães, numa altura em que escasseava o algodão.

Fonte:  Lusa


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