Special Ski põe 300 pessoas com deficiência intelectual a fazer esqui

Até ao momento estão inscritas 12 instituições dos distritos de Castelo Branco, Guarda, Lisboa e Setúbal e cerca de 250 utentes que até janeiro vão poder ter aulas de esqui.

Todos os outros foram embora, mas Sónia e Luísa, ambas com deficiência intelectual, insistem em prolongar até poderem a aula de esqui que lhes foi proporcionada pelo Pizza Hut Ski4All, projeto da Federação Portuguesa de Desportos de Inverno.

Este ano, a organização introduziu neste de projeto de promoção da prática de esqui o Special Ski, numa parceria com o movimento Special Olympics, o que significa que das 2.100 vagas, 300 estejam reservadas para pessoas portadoras de deficiência intelectual.

“Este é um dia feliz para mim. Gosto de sentir o vento a bater-me na cara ao descer”, comenta Sónia, 38 anos, pouco depois de ter caído a meio da pista do Ski Parque, em Manteigas. “Não faz mal cair. Acontece, faz parte, mas também já aprendi muita coisa”, acrescenta a utente da Associação de Familiares e Amigos do Cidadão com Dificuldades de Adaptação da Serra da Estrela (AFACIDASE), na terça-feira, durante o primeiro dia do Special Ski, com 14 participantes.

Até ao momento estão inscritas 12 instituições dos distritos de Castelo Branco, Guarda, Lisboa e Setúbal e cerca de 250 utentes que até janeiro vão poder ter aulas de esqui durante uma manhã, na pista sintética do Skiparque, mediante o pagamento do valor simbólico de um euro, que inclui o equipamento e o almoço.

Já com desenvoltura, Maria Luísa, 25 anos, sobe o tapete artificial de lado e em passadas curtas, como lhe foi explicado, para depois deslizar entusiasmada uma e outra vez, testando a habilidade na travagem.

“Noto que estou a desenvolver as minhas capacidades. Aqui sinto-me livre, leve, à vontade. Quem me dera poder fazer muitas mais vezes”, deseja Maria Luísa, num discurso articulado.

Anunciação Calheiros, 27 anos, é utente da Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados da Guarda (CERCIG). Pela primeira vez calçou umas pesadas botas de esqui. A meio da pista, receosa, admitiu sentir-se “com formigas na barriga”, mas assim que venceu o medo emergiu o entusiasmo e agora só pensa em repetir.

Não é fácil, explica Rui Carvalho, professor de Educação Física da CERCIG. Apesar de valorizar a “experiência motora, desportiva e social”, frisa que fora do projeto “não seria possível eles terem aulas de esqui”. “É caro e as instituições têm dificuldade em suportar custos elevados”, lamenta, em declarações à agência Lusa.

Ângela Carvalho, da AFACIDASE e parceira do movimento Special Olympics, destaca o entusiasmo dos utentes escolhidos para a atividade numa modalidade que gostariam de praticar com frequência, não fosse “um desporto que envolve muitos custos”.
“Além de ser um desafio, é estimulante, desenvolve capacidades cognitivas e físicas, aspetos que trabalhamos”, acentua a técnica de desporto adaptado.

Rui Gomes, instrutor, dá indicações e incentiva: “Zé, levanta agora os bastões”, “Sónia, mais força. Boa.”. Ao receio inicial de lidar com uma população diferente, deu lugar a recompensa de ver os alunos conseguirem fazer o que se ensina.

Taila Wong, outra das instrutoras, mostra-se surpreendida com a interação e com a dedicação destes alunos. “Como se esforçam mais, conseguem captar logo o que estamos a dizer. Estão focados”, descreve a professora.

O Ski4All é apoiado pelo Programa Nacional Desporto para Todos. A iniciativa decorre também no âmbito do programa ‘Bring Children To The Snow’ [Tragam as Crianças Para a Neve], da Federação Internacional de Esqui.


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