Assim, seis meses depois de iniciado o curso de formação, se o número de pessoas que encontraram trabalho for superior ao proposto na candidatura, receberão um bónus que pode ir até 10% do financiamento acordado; por outro lado, as escolas serão penalizadas se falharem as metas propostas no contrato.
A garantia foi dada por Miguel Poiares Maduro, ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional, à margem da 3ª conferência do Ciclo Portugal 2020, organizado pelo Dinheiro Vivo em parceria com a PwC, a EDP e a PT.
“Haverá um montante do financiamento dependente da obtenção ou não da taxa de empregabilidade contratualizada com essa escola profissional ou centro de formação profissional, que deve rondar os 10%. Se ele não for obtido, esse curso ou essa escola não obterão essa parte do financiamento. Por outro lado, se excederem a taxa de empregabilidade contratualizada, podem vir até a ter um prémio”, esclareceu o ministro, adiantando que a taxa de empregabilidade mínima que garanta uma candidatura ao financiamento “será de cerca de 50%”, abaixo do qual nem sequer será ponderado o apoio. “As escolas concorrem entre si com as respetivas taxas de empregabilidade que se propõem cumprir: esse será um dos critérios mais fortes para a seleção e a maior garantia que temos de estar a criar um incentivo para que as escolas invistam na qualidade da sua formação e na empregabilidade dos recursos que oferecem”, afirmou Miguel Poiares Maduro.
Um dos eixos de investimento do próximo quadro comunitário é a competitividade e a internacionalização das empresas, para as quais o governo vai canalizar mais de 40% dos 25 mil milhões do Portugal 2020, que também destina 20% dos fundos ao Programa Operacional Capital Humano, que, segundo José Reis, reitor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, “será o grande quadro das políticas públicas em Portugal”.
“A internacionalização é importante, mas Portugal ainda é muito deficitário na balança comercial quanto à exportação de bens. O nosso equilíbrio faz-se à custa dos serviços… e dos serviços baratos”, alertou José Reis. Ainda assim, o reitor considera que a maior desatenção está relacionada com o capital humano. “O maior desperdício [da economia portuguesa] não tem sido a emigração de pessoas qualificadas, mas o tipo de emprego das pessoas qualificadas. E esse tipo de emprego pode não ser mais do que resultado das dificuldades estruturais dos empregadores”, defendeu o diretor da Faculdade de Economia.
A falta de formação é também um entrave ao uso da tecnologia, o que, segundo Alexandre Santos, responsável pela área de soluções para a economia digital da PT, pode ser um desperdício de oportunidades. “A maior parte das empresas portuguesas não utiliza as ferramentas digitais: 22% não usa internet e apenas 6% compram e vendem online”, explicou. Os portugueses gastam, anualmente, entre 2 e 6 mil milhões de euros em compras online mas o lucro está a fugir do país. Por isso, o Portugal 2020 será uma “oportunidade para o tecido empresarial português tirar partido também de outras ferramentas digitais, como explorar os media sociais e tirar partido de toda a informação que por lá se encontra”, acrescentou.
No entanto, algumas grandes empresas não descuram a importância da formação. Há cinco anos, a EDP lançou a sua própria universidade, uma ideia que, para Vasco Concello, diretor da universidade, “está na moda”. “Não se mede o retorno deste tipo de investimento. Hoje em dia, partilhar é a alma do negócio e a preocupação da universidade é criar e partilhar conhecimento, sendo a ponte entre estratégia de negócio e execução”, adiantou Vasco Coucello. “A formação permite que as pessoas se sintam mais capazes de intervir na sociedade e mais capazes de intervir na empresa”, apontou.
Preocupado com o facto de a formação ser mais do que um “mero título”, José Reis, alertou que “qualificar não é só dar formação”. Para o economista, é fundamental que a sociedade seja também qualificada, quer através dos direitos sociais, quer pela manutenção dos empregos. Horácio Pina Prata, presidente da Associação Empresarial da Região de Coimbra, encerrou a conferência com um apelo relativo ao programa de financiamento: “Só pedimos ao Governo que ouça as empresas. Ouvir para intervir”.