Segundo o arqueólogo responsável pelas escavações, os trabalhos realizados este verão deram seguimento à intervenção efetuada no mesmo local, em 2018, com a colaboração de oito alunos da Universidade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa, que puseram a descoberto “dois blocos de granito muito bem aparelhados”.
“Este ano, decidimos alargar [as prospeções] nessa zona, para perceber se tinha alinhamento, ou se era uma esquina ou algo assim. Foi interessante, porque apanhámos a esquina de um edifício monumental, que poderá ser da desaparecida igreja de Santa Maria, que estaria ali naquele local”, contou o responsável pelas escavações realizadas entre 19 e 31 de agosto.
A igreja de Santa Maria, de origem medieval, tal como as outras duas existentes no Castro do Jarmelo, uma dedicada a São Pedro e outra a São Miguel, existiu até ao século XIX.
“A curiosidade é que esta poderá ser um pouco mais antiga, porque temos um elemento de uma janela que será datado do século X/XI, mas falta-nos alguns dados para podermos aferir que sim, que esta é do século X/XI, ou que é do século XIII, que é de quando temos a documentação inicial da igreja de Santa Maria”, admite Tiago Ramos.
Os arqueólogos acharam ainda lajes de granito, que estão associadas à cobertura do chão do interior do templo, alguns materiais cerâmicos “da alta Idade Média” e outros “da Idade do Bronze Final ou da Idade do Ferro”.
Segundo o responsável, a tradição popular falava da existência da igreja de Santa Maria do Jarmelo e agora existem “dados fidedignos” que poderão afirmar que o edifício encontrado “poderá ter pertencido a esta igreja”.
O arqueólogo espera continuar com as sondagens em 2020 para poder aprofundar os dados preliminares obtidos este verão.
As escavações no Castro do Jarmelo foram iniciadas em 2018 por Tiago Ramos, no âmbito de um projeto de doutoramento em Arqueologia na Universidade de Salamanca (Espanha), com o apoio logístico do município da Guarda.
As prospeções arqueológicas foram realizadas entre 19 e 31 de agosto, no local conhecido por Santa Maria, na encosta nascente do Castro do Jarmelo, por três arqueólogos que, entre os dias 19 e 23, contaram com a colaboração de oito jovens que participaram num curso de Verão do Museu da Guarda sobre Introdução à Arqueologia.
O vereador da Cultura da Câmara Municipal da Guarda, Victor Amaral, disse hoje à Lusa que o trabalho realizado pelo arqueólogo Tiago Ramos “é muito relevante” para a “salvaguarda do património do concelho da Guarda”.
Destacou ainda a iniciativa do museu local, que este ano realizou um Curso de Verão sobre arqueologia com uma componente teórica e outra prática.
“Temos aqui, no fundo, duas vertentes muito importantes e estratégicas para o futuro. Por um lado, através da arqueologia, descobrindo aquilo que pode ter sido a igreja de Santa Maria do Castro do Jarmelo, e, por outro lado, a sensibilidade dos mais jovens para as questões do património, da História e da memória do nosso território”, afirmou Victor Amaral.