Em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 10 anos da criação da Rede, Manuel Lopes explicou que as unidades de cuidados continuados de saúde mental irão ter “diferentes tipologias” para “responder a necessidades de aproximadamente 300 pessoas em todo o país”.
“As unidades piloto que queremos para a área da saúde mental não são unidades que promovam a reinstitucionalização, mas que promovam a proximidade e levem os cuidados o mais possível a casa das pessoas”, adiantou o coordenador nacional para a reforma do Serviço Nacional de Saúde na área dos cuidados continuados integrados.
O objetivo é que as pessoas com dependência psicossocial possam permanecer nas suas casas, junto das suas famílias e das equipas de saúde que lhes dão apoio.
Manuel Lopes explicou que “são tipologias que estão na comunidade” e “simulam muito a casa das pessoas, sempre com um número reduzido de doentes”.
A referenciação das pessoas para estas unidades será feita pelos profissionais de saúde que as acompanham nos hospitais ou nos cuidados de saúde primários.
No decorrer deste este ano serão também ser abertas unidades de cuidados continuados pediátricos.
“Nos dois casos arrancamos com um ano de experiência-piloto, um aspeto “particularmente importante”, porque não há experiências anteriores nesta área, disse o responsável.
“Precisamos de reunir um conjunto de condições que nos permitam durante um ano acompanhar essas unidades de muito perto e irmos aprendendo, em conjunto, que tipo de alterações precisamos de introduzir (…) para que correspondam às necessidades das pessoas que pretendem cuidar”, acrescentou.
Fazendo um balanço dos 10 anos da rede, assinalados a 06 de junho, Manuel Lopes afirmou que foi a “primeira grande alteração do Serviço Nacional de Saúde”, com a criação de um novo nível de cuidados, e correspondeu a uma necessidade que decorre da “incidência e prevalência de situações de dependência”.
“A rede não é um conjunto de instituições que funcionam como lares de terceira idade mais diferenciados”, disse, observando que a “maioria esmagadora das pessoas” sai da rede “com muito menos dependência e nalguns casos com independência”.
Isto quer dizer que “a rede está a cumprir os seus objetivos”, embora seja preciso “aprofundar na sua dimensão e nalguma especialização da resposta”.
“Olhando para as aprendizagens do passado, aquilo que constatámos foi que ao longo destes 10 anos se privilegiou essencialmente a resposta” institucional, mas neste momento é “claro para nós que o âmago de uma rede desta natureza deve ser a casa das pessoas”, disse Manuel Lopes.
Nesse sentido, o “grande investimento” terá de ser feito na criação de equipas que levem os cuidados a casa das pessoas, “um esforço que depende essencialmente do Estado porque são equipas que dependem dos agrupamentos de centros de saúde”.
Para obter uma melhor prestação de cuidados em casa, Manuel Lopes defendeu a aposta na colaboração com entidades até agora afastadas deste desafio, como as autarquias.
“Queremos a participação de setores (…) como as autarquias e outro tipo organizações da sociedade civil que sejam capazes de criar movimentos” para que possam ser feitas pequenas alterações na casa das pessoas para estas viverem “com mais segurança e com mais dependência”.