Covid-19: Deco recebeu 3.600 pedidos de ajuda desde o estado de emergência

No topo das preocupações destas famílias está a falta de dinheiro para comprar “coisas básicas”, como alimentação ou as contas da luz, água e gás.

A Deco recebeu 3.600 pedidos de ajuda, entre 18 de março e 11 de maio, por parte de famílias em dificuldades financeiras devido à redução de rendimentos causada por situações de desemprego, ‘lay-off’ ou não pagamento de salários.

A coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira (GPF) da Deco, Natália Nunes, habituada a lidar com casos de famílias sobre-endividadas, registou uma mudança nos motivos e no tipo de pedido de ajuda que chegaram a este gabinete desde que o país entrou em estado de emergência e, posteriormente, em estado de calamidade, devido à pandemia de covid-19.

“São dados que em nada têm a ver com os de anos anteriores”, referiu Natália Nunes, assinalando que nestes quase dois meses as solicitações que chegaram ao GPF partiram de famílias que “vinham de uma situação mais ou menos normal, que estavam a trabalhar e que, de um momento para o outro, deixaram de ter rendimentos”.

Segundo Natália Nunes, trata-se de situações “muito diferentes daquelas a que já” se assistiu.

No topo das preocupações destas famílias não está a prestação do crédito da casa, mas a falta de dinheiro para comprar “coisas básicas”, como alimentação ou as contas da luz, água e gás, sublinhou à Lusa a coordenadora do GPF da Deco – Associação de Defesa do Consumidor.

A perda de rendimentos foi o motivo que levou 27,3% destas famílias a pedir ajuda, a que se somaram 23,5% que recorreram ao GPF por estarem no desemprego, 15,5% por se terem visto numa situação precária e 2,6% devido a negócio mal sucedido.

“Mais de 70% dos [3.600] pedidos de ajuda têm a ver com este aspeto da diminuição de rendimentos ou até da ausência total de rendimentos”, precisou Natália Nunes, especificando que nestes 70% há “uma grande parte” explicada pela perda de rendimentos informais, pela entrada em ‘lay-off’ (redução temporária dos períodos normais de trabalho ou suspensão dos contratos de trabalho), o não pagamento de salários e ausência total de rendimentos.

Com a moratória do crédito à habitação, a prestação da casa não é, pelo menos no imediato, a maior preocupação destas pessoas.

“A questão do pagamento do crédito à habitação neste momento não é uma das grandes preocupações das famílias. Com toda a certeza irá sê-lo a partir de setembro. Neste momento ainda não é”, afirmou a coordenadora do gabinete de Proteção Financeira da Deco.

De acordo com os dados do GPF, 42% dos pedidos de ajuda que chegaram ao gabinete foram para aconselhamento sobre as medidas tomadas pelo Governo no âmbito da covid-19, bastante acima dos 25,1% que procuraram aconselhamento sobre a forma de reestruturarem os créditos, sobretudo pessoais e de cartão de crédito.

Houve ainda 1,2% que pediram aconselhamento sobre a forma de aceder aos apoios sociais existentes.

A forma como a pandemia e as medidas tomadas para conter a sua propagação se foram prolongando no tempo alterou os causas para o recurso ao GPF da Deco, referiu Natália Nunes, precisando que, em março, as famílias, já “muito preocupadas”, procuravam essencialmente informação, enquanto que em abril ainda procuravam informação, mas queriam sobretudo ajuda. Já este mês procuram ajuda para serem encaminhadas para apoios sociais e para reestruturar os créditos.

Durante o mês de abril o GPF iniciou 234 processo de intervenção, através dos quais é dado apoio na renegociação de dívidas, entre outras medidas. Deste total, 41% dizem respeito a trabalhadores do setor privado e 17% a desempregados.


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