Séculos depois, a neve da Serra da Estrela voltou a chegar a Lisboa

A neve que viajou da Serra da Estrela até Lisboa, foi entregue, simbolicamente, aos diversos representantes do poder local, de hoje e de antigamente.

A tradição de “Dar Neve a Lisboa” foi retomada na passada sexta-feira pelo Clube Escape Livre. A neve chegou aos antigos armazéns de gelo do Martinho da Arcada para que se voltasse a tomar neve da Serra da Estrela e sorvetes como antigamente, como refere a nota informativa.

Pouco passava das oito horas da manhã da passada quinta-feira, quando o grupo de aventureiros subiu até antigos neveiros do Covão da Ametade, na Serra da Estrela para se encontrar com o Neveiro-Mor, Pedro Fernandes Castello Branco, e os seus ajudantes, ali caracterizados pelo grupo de teatro Hereditas.


Assinado o contrato de transporte de neve, como outrora se fazia, tempo de carregar “as carroças” com alguns quilos de gelo prensado envolto em serapilheira, e seguir caminho rumo ao destino final, o Terreiro do Paço, em Lisboa. Pela frente, estavam trilhos fora-de-estrada para descer a Serra e as antigas estradas-reais que desciam até ao rio.


Foi o professor Carvalho Rodrigues que recordou esta tradição secular de transportar neve da Serra até Lisboa e, contou ainda que começou em 1619, há mais de 400 anos, quando o Rei de Portugal fazia chegar à corte neve fresca da Serra da Estrela, entre os meses de maio e setembro, para que a corte pudesse tomar bebidas frescas e fazer sorvetes. Anos mais tarde, o excedente de neve da corte era distribuído pelos comerciantes do Terreiro do Paço, como o antigo Martinho das Neves, hoje Martinho da Arcada, para que o vendessem à população.


Ana Abrunhosa que também participou na expedição aproveitou o momento para referir que “a valorização da nossa história permite construir futuro. A estruturação de novas ofertas turísticas une os diferentes territórios, tanto por estradas de terra batida, estradas de asfalto ou estradas do mar”.


A neve embarcou no varino “O Boa Viagem” da câmara Municipal da Moita e da Marinha do Tejo, pelas 12 horas de sexta-feira com destino ao Cais das Colunas, em Lisboa. Durante a viagem, o mestre fragateiro João Gregório e Paulo Andrade, presidente da Marinha do Tejo que acompanhou toda a expedição, falaram da história destes barcos e da sua importância ao longo da história náutica portuguesa.

Ao longe, já se avistava Lisboa, e na margem do Terreiro do Paço, já esperavam a neve os bombos e fanfarras dos arautos do reino. Foi assim, num desfile escoltado pela polícia municipal de Lisboa do Cais da Colunas até às arcadas do Terreiro Paço, que seguiu a neve até ao Martinho da Arcada, onde foi recebida por António Marcos Sousa, atual proprietário.

A neve que viajou da Serra da Estrela até Lisboa, foi entregue, simbolicamente, aos diversos representantes do poder local, de hoje e de antigamente.


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