O PIB recuou 0,6% no primeiro trimestre do ano, quando comparado com o último trimestre do ano passado, mostram os dados divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Em termos homólogos, ou seja, face ao primeiro trimestre de 2013, a economia cresceu 1,3%.
Em ambos os casos os números representam uma revisão em alta de uma décima face à estimativa rápida que o INE divulgou a 15 de maio.
Os primeiros três meses do ano foram marcados por uma travagem brusca das exportações, que recuaram 1,9% em cadeia, a primeira quebra desde o final de 2012. O crescimento em cadeia das importações foi nulo, mas foi suficiente para atirar o contributo da procura externa líquida para terreno negativo.
O comportamento negativo da procura externo foi ainda mais evidenciado em termos homólogos, porque as importações tiveram o melhor registo desde o segundo trimestre de 2010 – um ano antes do pedido de resgate. Cresceram 8,5%, quando a média dos últimos três anos era de uma quebra de 2,9%.
Em termos homólogos as exportações também cresceram, mas “apenas” 4,3%, o pior valo desde o primeiro trimestre do ano passado – mas no início de 2013 o fraco crescimento das vendas ao exterior foi compensado por uma quebra de 4,4% das importações.
Tudo somado, a procura externa retirou 1,6 pontos percentuais à economia nacional entre janeiro e março. É a primeira vez desde o segundo trimestre de 2010 que isso acontece. No final do ano passado o contributo das exportações líquidas para o PIB já tinha sido mais baixo, mas ainda assim positivo em um ponto percentual.
Procura interna puxa pela economia
Pela primeira vez desde que a ‘troika’ chegou a Portugal, foi a procura interna a aguentar a economia, evitando uma quebra maior em cadeia e puxando pelo crescimento homólogo de 1,3%.
Face ao primeiro trimestre do ano passado, a procura interna aumentou 2,9%, dando um contributo positivo ao PIB de 2,8 pontos percentuais.
O INE refere que foi o investimento que levou a um aumento mais expressivo da procura interna, ao registar um crescimento homólogo de 12,2%, que compara com os 0,9% do final do ano passado.
No entanto, os dados merecem ser analisados à lupa. É que a Formação Bruta de Capital Fixo, por si só, desacelerou dos 3,6% registados entre outubro e dezembro para 1,7%. Ou seja,o crescimento do investimento é explicado por um aumento de quase 3.000% dos ‘stocks’ das empresas e por uma subida de 8% das aquisições líquidas de objetos de valor – que são bens não financeiros não destinados à produção, são adquiridos e conservados como ativos de reserva.
“Refira-se que a variação de existências apresentou um contributo significativo para a variação homóloga do PIB, (…) destacando-se o aumento expressivo de existências de bens intermédios, em particular de produtos petrolíferos” sublinha o INE.
Consumo começa a recuperar
O primeiro trimestre do ano fica também marcado pela recuperação do consumo das famílias.
De acordo com os dados divulgados, o consumo privado aumentou 1,5% em termos homólogos, valor que representa o melhor registo desde o último trimestre de 2010, antes da chegada da ‘troika’. Nos últimos três anos, o consumo privado registou uma quebra média de 3,4%.
O INE nota que as despesas em bens de consumo duradouro “aceleraram significativamente”, refletindo “a evolução da componente de aquisição de automóveis”. O consumo de bens correntes e alimentares e de serviços voltou a terreno positivo depois da quebra do final do ano, crescendo 0,3%.
Em cadeia, as despesas de consumo das famílias subiram 0,2%, depois de um recuo de 0,5% no último trimestre.
Já os gastos das administrações públicas cresceram 0,1%, um aumento muito ligeiro, mas que representa a primeira variação positiva do consumo público desde o último trimestre de 2010, ou seja, antes da chegada da ‘troika’.