“Nemátodo da Madeira do Pinheiro continua a avançar de forma descontrolada”

Associação faz prospeção de árvores afetadas pela doençaA doença do Nemátodo do Pinheiro, que alastra nas florestas portuguesas, sem exceção para a região da Beira Serra, levou à criação do Programa de Ação Nacional para Controlo do Nemátodo da Madeira do Pinheiro, que estabelece medidas extraordinárias de proteção fitossanitária das explorações. A chamada “doença do […]

Associação faz prospeção de árvores afetadas pela doençaA doença do Nemátodo do Pinheiro, que alastra nas florestas portuguesas, sem exceção para a região da Beira Serra, levou à criação do Programa de Ação Nacional para Controlo do Nemátodo da Madeira do Pinheiro, que estabelece medidas extraordinárias de proteção fitossanitária das explorações.

A chamada “doença do pinheiro” é provocada pelo Nemátodo, um verme microscópico que ataca preferencialmente árvores resinosas e que é transmitido por um inseto-vetor, que contamina as árvores por onde passa, afetando sobretudo a copa e os ramos. A dispersão do Nemátodo ocorre no período de voo do inseto, entre abril e outubro.

Para o presidente da Federação Nacional das Associações de Produtores Florestais (FNAPF), José Vasco de Campos, “o Nemátodo da Madeira do Pinheiro continua a avançar de forma descontrolada, por falta de medidas”. O também presidente executivo da CAULE – Associação Florestal da Beira Serra garante mesmo que, em menos de uma década, “o Nemátodo da Madeira do Pinheiro reúne condições para dizimar 80 a 90 por cento do pinhal adulto da região Centro”.

Operação em vários concelhos da região

O combate ao Nemátodo da Madeira do Pinheiro envolve, atualmente, vários grupos de investigação, através de estudos financiados pela Autoridade Florestal Nacional (AFN) e constitui uma medida prioritária do Plano Específico de Intervenção Florestal nas ZIF tuteladas pela CAULE. Foi neste contexto que a FNAPF, através da sua associada CAULE, lançou uma operação nos concelhos de Seia, Oliveira do Hospital, Tábua, Arganil, Penacova e Santa Comba Dão, com o intuito de combate à propagação do Nemátodo do Pinheiro, através da identificação e marcação de pinheiros-bravos com sintomas de declínio.

Sofia Oliveira, responsável pela coordenação da Ação de Combate ao Nemátodo da Madeira do Pinheiro, explica que, desde o início de fevereiro, a Associação Florestal “conta com três equipas a trabalhar diretamente no terreno, cuja função consiste, essencialmente, na identificação de pinheiros-bravos secos ou a secar e na sua marcação com uma cintura de tinta branca, sensivelmente à altura do peito”. Sofia Oliveira, geógrafa de formação, esclarece também que “todo este trabalho é obrigatório”, tratando-se de uma diretiva do Estado português e “é feito com o conhecimento dos proprietários florestais”, a quem são dirigidos os editais afixados nas juntas de freguesia e “a quem se destinam as ações de sensibilização ‘porta a porta’, que também são asseguradas por uma funcionária da CAULE”.

Os trabalhos de combate ao Nemátodo da Madeira do Pinheiro não se esgotam com a cinta de tinta branca estrategicamente desenhada nos pinheiros, conforme explica a coordenadora do projeto. “De acordo com o definido nos editais e o divulgado nas ações de sensibilização, os proprietários dispõem de um prazo de dez dias úteis para corte das árvores assinaladas pelos técnicos no terreno”, refere Sofia Oliveira.

Prejuízos na economia local e “impacto grave na paisagem”

Já na propriedade florestal, um território privilegiado pela CAULE, Emília Nunes, uma das técnicas contratadas pela Associação Florestal para a Ação de Combate ao Nemátodo, refere já ter encontrado parcelas em que os pinheiros marcados pela sua equipa foram alvo de nova marcação, mas, desta vez, pelos proprietários florestais, que, usando uma sinalética diferente (uma cinta de cor distinta ou um pedaço de roupa velha a envolver a árvore), demonstram ter conhecimento das ações de prospeção e erradicação de pinheiros afetados pelo Nemátodo e solicitam, desse modo, um prolongamento do prazo para corte dos pinheiros.

Sofia Oliveira revela que “esta segunda marcação dos pinheiros é em tudo vantajosa para os proprietários florestais, que dispõem, assim, de um prazo alargado para erradicação das árvores afetadas”, revertendo a lenha e os sobrantes para usufruto do proprietário. “Caso não se verifique a intenção de corte dos pinheiros secos ou a secar, a CAULE sobrepõem-se aos proprietários e procede ao corte destas árvores, revertendo o seu valor para o Estado Português”, esclarece a geógrafa.

O presidente da CAULE não esconde a sua preocupação e considera que a doença do Nemátodo “vai ter um impacto grave na paisagem”, sendo previsível que os proprietários rurais, face à decadência progressiva do pinheiro-bravo, “comecem a plantar outras árvores de crescimento rápido, como o eucalipto, por exemplo, que já ocupa uma área substancial da mancha florestal da região”. José Vasco de Campos alerta ainda para os prejuízos nas economias locais que a doença poderá causar, caso não seja devidamente atacada e controlada, dirigindo aos proprietários florestais um apelo no sentido do “controle atento das suas matas e na verificação, de forma atempada e contínua, da evolução dos pinheiros, abatendo-os imediatamente e eliminando os resíduos da exploração florestal”. Com efeito, o presidente da FNAPF salienta que “o controlo do Nemátodo da Madeira do Pinheiro é somente possível através da gestão ativa dos povoamentos de pinheiro-bravo”.

De referir ainda que, na impossibilidade de um combate efetivo ao Nemátodo da Madeira do Pinheiro, as medidas essenciais para o seu controlo passam pela deteção e remoção dos pinheiros mortos ou com sintomas de declínio, preferencialmente no período de novembro a março de cada ano, pela eliminação dos sobrantes de exploração florestal e pelo controlo da população do inseto-vetor durante o seu período de voo, por meio de armadilhas.


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