João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), prefere falar em “guerra de preços”, por via do esmagamento das margens, e admite que a situação foi agravada com a crise. E as PME “são mais vulneráveis, porque não dispõem da almofada financeira que têm as grandes organizações” que lhes permita entrar nessa guerra de preços em igualdade de circunstâncias, explica.
De acordo com o Estudo PME: Riscos e Oportunidades, realizado pela seguradora Zurich, são 30,5% as PME portuguesas que apontam a forte concorrência e o dumping como o principal risco para o negócio, logo seguido da quebra no consumo e overstocking (29%) e dos roubos (22%). João Vieira Lopes admite que haverá casos pontuais de dumping em Portugal, mas acredita que a grande preocupação é mesmo a “guerra de preços”, designadamente no mercado alimentar, em que duas cadeias de distribuição dividem, entre si, 60% do mercado. O que lhes concede um poder negocial tal, a montante, junto dos fornecedores que, depois, conseguem ter preços de venda mais baratos do que os seus concorrentes compram, diz.
E porque não se associam as PME para ganhar escala e poder negocial? “Isso é um problema estrutural, o individualismo dos empresários. Já há algum trabalho de agregação para os mercados externos, mas ainda há uma resistência muito grande no mercado interno”, diz o presidente da CCP, que representa 200 mil empresas, 98,5% das quais PME. Mas também aqui a crise começa a ter os seus efeitos, com os “sobreviventes a terem a tendência de se agregar”, mas a “mudança de mentalidades está a ser lenta”, reconhece.
Pedro Pimentel, da Centromarca, partilha deste ponto de vista, sobretudo tendo em conta que 46% dos inquiridos – foram feitas 3800 entrevistas em 19 países, 200 por país – em Portugal são empresas com 1 a 9 trabalhadores. “Não creio que estejamos a falar de dumping real e ilegal, de venda abaixo do preço de custo, quando muito é um dumping percecional de um conjunto de operadores de pequena dimensão que não conseguem obter preços concorrenciais”, diz o diretor geral da Centromarca.
Por outro lado, cerca de metade das empresas inquiridas em Portugal são referentes aos setores da hotelaria e restauração, comércio de retalho, serviços de consumo e outros serviços, o que ajuda a explicar que o risco de roubo seja a terceira maior preocupação das PME, apontada por 22% dos inquiridos em 2014, um valor bem inferior aos 31,6% de 2013. Dados que não serão alheios à conjuntura do país, com a quebra no consumo ainda no top dos receios, mas menos do que em 2013.
Curiosamente, os únicos países da Europa onde a quebra no consumo não está entre os dois principais riscos apontados pelas pequenas e médias empresas inquiridas são a Alemanha e a Áustria, onde a segurança e saúde de colaboradores e clientes assume maior preocupação.