O projeto autárquico envolve a recuperação do imóvel conhecido como Casa do Passadiço, um edifício situado no bairro da Biqueira, na cidade de Gouveia, que irá albergar a futura Casa da Vivência Judaica.
Segundo a autarquia presidida por Luís Tadeu, a Casa do Passadiço situa-se “no coração da judiaria” de Gouveia e funcionou, “por tempos imemoriais, como um local de passagem, comunicação e interação social entre os habitantes de dois dos mais icónicos bairros da cidade: o bairro do Castelo e o bairro da Biqueira”.
A intervenção em curso irá permitir adaptar a Casa do Passadiço a Casa da Vivência Judaica, onde será instalado um espaço museológico dedicado ao património judaico que, segundo a fonte, “irá constituir um excelente ponto de partida para o conhecimento do património judaico de todo o concelho de Gouveia”.
O município refere em comunicado enviado à agência Lusa que o futuro espaço “terá características singulares” e que irá cativar visitantes e turistas para a descoberta do “património rico e evocativo da presença judaica” no território.
O projeto inclui a criação de três salas, “enriquecidas com marcas de simbologia judaica do concelho, relacionadas com três itinerários distintos”: um em Gouveia, dedicado à judiaria medieval; outro na freguesia de Melo, relacionado com o tema da inquisição; e outro da aldeia de Folgosinho, sobre o tema do criptojudaísmo.
“Estas três salas serão enriquecidas com marcas da simbologia judaica do concelho, nomeadamente de artefactos arqueológicos que o município de Gouveia tem à sua guarda, como, por exemplo, as inscrições hebraicas que atestam a construção da última sinagoga na Península Ibérica, antes do édito de conversão obrigatória de Dom Manuel, em 1496; a padieira de uma habitação; ou, até mesmo, uma estela sepulcral com a Estrela de David, em relevo”, anuncia o município.
Uma das salas do equipamento cultural será dedicada às entradas da inquisição em Gouveia, indicando a fonte que no seguimento de um levantamento realizado pelo município “foram identificados 112 processos relativos a indivíduos naturais ou moradores do concelho, cuja memória será garantida e preservada no espaço”.
Existirá também outra área, denominada “Sala de fogo/multimédia”, que “irá possuir uma experiência sensorial”.
Nesse espaço “será contada a história da morte de três cristãos-novos naturais de Gouveia, falsamente acusados da destruição de uma imagem sagrada”, um episódio que “despoletou a construção da capela de Santa Cruz”, erguida pelos frades franciscanos como forma de arrependimento por esse crime.