Famílias portuguesas estão a comprar menos e mais barato

Os portugueses estão a comprar menos. E mais barato. No primeiro trimestre do ano, as famílias foram, em média, 29,5 vezes ao supermercado, contra 31,6 vezes no ano anterior.

E, apesar de cada vez que vão às compras, as famílias até gastarem mais – 24,26 euros, mais 1,02 euros do que nos primeiros três meses de 2013 -, o valor total gasto na cesta de compras nestes três meses baixou 2,8%, uma quebra de quase 20 euros por família, segundo os dados da Nielsen.

A explicação para estes números está no facto de os portugueses estarem a regressar às chamadas compras de quinzena. E de saltitarem de cadeia em cadeia de supermercado à procura dos melhores descontos e promoções.

“O decréscimo de 2,8% do valor da cesta de compras não é um sinal de quebra do consumo, pelo menos dessa dimensão; é, seguramente, o resultado de um aproveitamento de tudo o que é promoções”, defende Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca. Ana Trigo Morais, da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), concorda e diz que o consumidor “continua a privilegiar, acima de tudo, o fator preço” e que se tornou “infiel”. Porquê? Os dados da Nielsen, intitulados “Comportamento do shopper português no arranque de 2014”, mostram que saltita de supermercado em supermercado à procura dos melhores descontos e promoções. Vai às compras de três em três dias, mas, em 71% das vezes, não repete a mesma loja na compra seguinte.

“Como andam à procura de propostas de valor, os consumidores mudam de insígnia com grande facilidade. Em cada dez vezes que vão às compras, sete delas vão a lojas diferentes, o que só vem acentuar a dinâmica concorrencial, obrigando cada retalhista a tentar ajustar a sua oferta de modo a conquistar clientes”, diz Ana Trigo Morais.

Pedro Pimentel acredita que as promoções “estão tão normalizadas”, que o cliente já não precisa de ir a uma determinada loja em busca delas. “Não vamos às lojas porque estão em promoções, aproveitamos as promoções quando chegamos à loja. O consumidor aproveita o folheto enquanto peça informativa e não como planificador. Mais do que um chamariz, passa a ser uma bússola”, defende.

Carlos Martins, professor na Faculdade de Ciências da Economia e da Empresa da Universidade Lusíada e especialista em marketing e vendas, está convicto de que “enquanto houver uma economia de sobrevivência em Portugal, a maior parte dos consumidores continuará a olhar atentamente os folhetos e as promoções”. E, por isso, os principais players no mercado – Continente e Pingo Doce detêm 49,6% de quota – “vão vigiar-se mutuamente” porque “quem conseguir ganhar a guerra da fidelização terá o jogo ganho”. O mais provável, considera o professor da Lusíada, é que cada ponto de venda tente ajustar as suas ofertas ao seu consumidor regular. Caso contrário, “ele continuará a saltar de cadeia em cadeia”.


Conteúdo Recomendado