Segundo três taxistas de concelhos situados junto da fronteira com Espanha, nem a proximidade com o país vizinho, onde os combustíveis costumam ser mais baratos, contribuem para ultrapassar o grave problema que afeta o setor devido à recente crise energética.
“O preço do quilómetro é o mesmo e os custos são quase a duplicar”, disse à agência Lusa José Balhessa, de 57 anos, taxista há 31 anos na aldeia de Vale da Mula, Almeida.
O profissional confessa que costuma abastecer regulamente o seu veículo em Espanha “para não ter tanto prejuízo, porque se abastecesse só em Portugal, quase que mais valia estar parado”.
O taxista também se queixa da falta de clientes, por operar numa zona que “tem cada vez menos gente” e por as pessoas “não terem dinheiro e, praticamente, só saírem de casa para irem ao médico”.
“Tenho alturas de ter semanas sem um único frete. Por exemplo, este mês, só ainda tive um serviço para transportar um doente à Guarda, para fazer hemodiálise. Como é possível resistir numa situação destas? Se o Governo não aumentar as ajudas ao setor, encaro a possibilidade de abandonar a atividade”, declarou.
Segundo José Balhessa, o aumento dos combustíveis “veio prejudicar ainda mais” a sua atividade “que já tinha levado um rombo com a pandemia e com a diminuição da população nas aldeias”.
Muitas vezes transporta um cliente de Vale da Mula para Almeida, percorrendo um total de 14 quilómetros, acompanha-o na ida ao Centro de Saúde e ao supermercado “e o frete é no valor de 10 euros”.
“O que o cliente me paga é pouco, mas se assim não fosse, perdia o serviço. Se formos a fazer as contas ao gasóleo que se gasta e ao tempo despendido, trabalho praticamente para aquecer”.
Para fazer face ao aumento dos combustíveis, o Governo decidiu pagar um auxílio aos táxis no valor de 342 euros, mas José Balhessa, apesar de ter feito a candidatura diz que ainda não recebeu qualquer verba.
O mesmo se passa com Francisco Pacheco, de 54 anos, que é taxista há 15 anos na cidade do Sabugal.
“Já apresentei a candidatura, mas ainda não obtive resposta”, disse o profissional, que se queixa do baixo valor da medida, alegando que uma verba superior vai gastá-la “por mês, depois dos aumentos dos combustíveis”.
Com a recente subida “drástica” do preço do gasóleo, calcula que despende mensalmente “mais 350 a 370 euros, no mínimo dos mínimos” e a manutenção do veículo “também está mais cara”.
Francisco Pacheco desejava que houvesse outra ajuda do Governo para o setor, mas “duvida muito” que tal aconteça.
Na sua opinião, entre outras medidas, o Governo podia voltar a atribuir aos taxistas o transporte de serviço de doentes com credenciais emitidas pelas unidades de saúde.
“Se voltássemos a ter alguns serviços de credenciais, sempre se realizava algum movimento ao fim do mês. Tenho serviços fixos, mas, se os perder, é uma hipótese [cessar a atividade]”, rematou.
Na fronteira de Vilar Formoso, Almeida, o taxista João Valente Moreira, com 77 anos, que exerce a profissão desde 1980, está sentado num banco de granito, à espera que o tempo passe e que surja algum pedido.
O profissional queixa-se do fraco movimento e lembra outros tempos quando chegou a fazer 120 mil quilómetros por ano.
“Agora, se fizer 40 mil quilómetros já é muito. Não há serviços, não há gente, não há movimento. Tenho semanas em que não faço nenhum serviço. Noutros tempos, havia comboios especiais de emigrantes. No verão, chegavam mais de 100 autocarros com gente. Agora, só há três ou quatro”, relatou à Lusa.
O taxista diz que a falta de clientela causou problemas, mas o aumento dos combustíveis acabou “com tudo”.
“Com a idade que tenho, se as coisas não se alterarem, [a atividade] é para fechar”, disse João Valente Moreira, acrescentando que fazia serviços para as companhias de assistência em viagem, mas deixou de os realizar “porque têm um preço muito reduzido”.
O taxista apela ao Governo que tome a iniciativa de “colocar o combustível mais barato nas bombas, para toda a gente, ou ter gasóleo especial para os transportes públicos”.