Covid-19: Turismo no interior adapta oferta ao teletrabalho mas procura ainda é tímida

Unidades hoteleiras e de alojamento local no interior da região Centro têm estado a adaptar a sua oferta para o teletrabalho de famílias que procuram sair dos concelhos do litoral do país, com a expectativa de que este tipo de procura aumente.

Aquando da primeira vaga da pandemia de covid-19 no país, alguns alojamentos adaptaram-se logo à procura de casais e famílias que optaram por ‘fugir’ do meio urbano e continuar a trabalhar à distância, a partir de uma unidade hoteleira no interior do país, menos fustigado pela pandemia.

Agora, quando os casos aumentam, mais alojamentos reajustam-se às circunstâncias e tentam atrair clientes, numa altura em que o teletrabalho passou a ser regra em 121 concelhos no país, a maioria na grande Lisboa e grande Porto.

“Já em abril e maio, houve alguns alojamentos a posicionarem-se nessa frente e outros estão a adequar agora a sua oferta para esta questão, porque pode ser um fio condutor para se manterem ativos e tem havido vontade quer do lado da oferta quer do lado da procura”, disse à agência Lusa a coordenadora das Aldeias Históricas de Portugal, Dalila Dias.

O próprio projeto tem ajudado os alojamentos e restaurantes a adaptarem-se a essa possibilidade, mas ainda há pouca procura transformada em reservas efetivas, explicou a responsável.

No Colmeal Countryside Hotel, em Figueira de Castelo Rodrigo, a equipa está de momento a reajustar a sua oferta para pessoas em teletrabalho, tendo criado uma campanha de comunicação nesse sentido, contou à Lusa a responsável pelo espaço, Gabriela Fernandes.

“Anda não registámos interesse, mas também é muito recente e começámos a desenhar a campanha há pouco tempo. Mas acho que as pessoas, recebendo esta notícia, vão aderir, porque se calhar nunca tinham pensado num hotel para estar em teletrabalho. Estou com muita esperança de que vamos conseguir alguns clientes em teletrabalho”, frisou.

Paulo Monteiro, com três casas no centro da vila de Belmonte, já tinha adaptado a oferta no início da pandemia e, neste momento, tem duas reservas para clientes em situação de teletrabalho da área do grande Porto.

“Começámos a sentir mais esse tipo de procura nesta fase”, afirmou à Lusa o empresário, referindo que desde março têm tido casos de pessoas que estiveram em teletrabalho.

Por causa desta tendência, uma das primeiras perguntas que os clientes lhe fazem “é saber se há internet com fibra ou não”, que, no seu caso, existe.

Se nas 12 Aldeias Históricas a internet não é um problema para atrair pessoas em teletrabalho – há fibra em todas elas -, na Rede de Aldeias do Xisto, apenas 12 das 27 localidades têm fibra ótica, o que pode tornar mais complicado a atração de clientes neste regime, apesar de o interesse existir, notou o coordenador da Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto (ADXTUR), Rui Simão.

“A primeira pergunta que fazem é: Como é que é a velocidade de internet?”, contou Rui Simão, salientando que, mesmo com esse problema em várias das aldeias, tem havido procura, havendo “mais de 100 unidades [com regime de casa inteira] preparadas para essa oferta e que privilegiam estadias mais longas”.

A pensar nessa tendência, a ADXTUR está com uma campanha de desconto de 50% para quem fica mais de três noites para incentivar casais ou famílias em teletrabalho que queiram continuar a sua atividade a partir do interior, conciliando o trabalho com o lazer.

“Estamos a trabalhar ao nível de uma dúzia de reservas por dia, o que são números historicamente altos”, salientou, sublinhando que o verão foi um sucesso, tendo já ultrapassado o número de vendas em todo o ano de 2019, com a estadia média a evoluir de duas para cinco noites.

Na Ferraria de São João, em Penela, Pedro Pedrosa notou essa procura por famílias que conciliavam férias com teletrabalho no verão, tendo registado várias estadias longas de 15 dias.

“Embora não tenhamos fibra, temos rede 4G, restaurantes que trazem comida até aqui e supermercados que fazem entregas”, disse, referindo que, neste momento, ainda não regista procura de pessoas em teletrabalho.

Já Manuela Latado, com um espaço rural em Janeiro de Cima, no Fundão, sentiu uma “quebra brutal” nas reservas assim que foram assinalados os concelhos em confinamento, considerando que este é um momento “muito incerto” para fazer qualquer tipo de previsões sobre procura nesse sentido.

“Todas estas medidas que o Governo tem implementado só têm assustado os clientes e promovido desmarcações”, notou Tomé Custódio, com um empreendimento em Oliveiras, concelho de Proença-a-Nova, considerando que, no seu caso, a fraca rede de internet é um problema para atrair casais ou famílias em teletrabalho.

Não são apenas pequenos empreendimentos que procuram adaptar-se ao contexto, também o grupo Vila Galé avançou com uma campanha, em vigor até 21 de dezembro, em que quanto mais noites forem reservadas, maior será o desconto, afirmou fonte oficial do grupo, em resposta por ‘e-mail’.

No caso do Vila Galé Serra da Estrela, a unidade mais recente do grupo, a procura por parte de clientes em teletrabalho “tem sido marginal”, mas acreditam que “nas próximas semanas poderá aumentar, não só devido às medidas anunciadas, mas também pela campanha de outono que a Vila Galé lançou”, referiu a mesma fonte.


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