Associação de Caçadores do Massueime está de luto

ALVERCA DA BEIRA – PINHEL A forma como veste a natureza é fascinante. Enlouquece e embriaga os seus amantes, seduzindo-os com a sua vasta paleta de cores, que vai usando conforme as exigências do tempo. A esse leque de cores, que durante milhões de anos soube usar naturalmente, juntou-se mais uma, que, a não ser […]

ALVERCA DA BEIRA – PINHEL

A forma como veste a natureza é fascinante. Enlouquece e embriaga os seus amantes, seduzindo-os com a sua vasta paleta de cores, que vai usando conforme as exigências do tempo. A esse leque de cores, que durante milhões de anos soube usar naturalmente, juntou-se mais uma, que, a não ser pela noite, não se vislumbraria normalmente na paisagem; o negro profundo. Esta cor, sinónimo de luto e catástrofe, é infelizmente hoje em dia, a cor mais predominante no nosso campo, fruto de mentalidades mesquinhas e hipócritas, geradas pela ganância e arrogância da sociedade moderna, que esquece os princípios básicos na formação das mentalidades.

Estou muito triste, desmotivado e revoltado, com o que aconteceu, na nossa zona de caça, onde esperávamos um ano esplêndido. Após muito trabalho, dedicação e empenho, ardeu 70% da nossa área. Vi lebres em verdadeira agonia correrem em chamas pelos caminhos até virarem cadáveres carbonizados, perdizes cercadas por várias frentes a suicidarem-se nas chamas, javalis em fuga a arderem e a atearem mais fogo por onde passavam.

Quem pode ter a coragem de pintar de negro a natureza, assassinando o património florestal e cinegético de um povo, prejudicando os proprietários, a fauna, a flora, os ecossistemas, o ambiente, o clima.

O flagelo dos fogos não são obra do acaso, são as mãos e mentalidades criminosas que não existiam num passado recente, mas que emergem hoje, de um novo homonídeo com uma nova mentalidade destruidora. Esses homonídeos não olham a meios para atingir os fins. Estão estranhados pelos vários sectores sócio-económicos, são isentos de remorsos e agem em seu interesse. É devido aos fogos florestais que existem hoje grandes empresas privadas de aeronaves de combate a incêndios, grandes empresas de madeiras tratadas para repor cercas, sinalizações das zonas de caça, postes de telefone, etc. Qualquer uma destas empresas obtém mais lucro num Verão assim, do que em vários anos.

Enquanto houver interesses privados todos os anos a catástrofe será maior, e no nosso País serão (infelizmente) duas as estações do ano – Inverno e Época de incêndios. As associações ambientalistas, que sobrevivem à conta dos subsídios, que existem para proteger a natureza, onde estão enquanto a mesma arde? O que fazem para isso não acontecer? E o que fazem para proteger os animais? Nunca os vi colocarem alimento, e dar-lhes o apoio médico, que necessitam após o fogo, aos animais que “deambulam” em agonia pelo monte. Temos de ser nós, caçadores, os únicos que conhecemos realmente o campo, não retiramos lucro dele, e parece que somos dos poucos que estamos interessados que ele se mantenha intacto. Agora que o terreno cinegético está ordenado, cada caçador “se o for realmente” tem obrigação de preservar, vigiar e trabalhar na sua zona de caça. Temos de ser nós, os caçadores, os verdadeiros amigos dos animais, a deitar a semente à terra para sustentar esses animais, para poderem sobreviver e reproduzirem-se.

A mim dá-me imenso prazer produzir alimento para os animais e sinto-me recompensado pelas sensações e imagens únicas que tenho o privilégio de sentir. São sentimentos que, infelizmente, nem todos podem usufruir e muitos que podem não têm vocação. As zonas de caça, quando bem trabalhadas, e com boa cooperação dos seus associados, devem ter no futuro um papel fundamental na preservação de incêndios, se quisermos continuar a desfrutar do maior prazer que pode ter um homem/caçador, até à eternidade, constituindo esse privilégio, que só durará enquanto continuar a haver local e espécies cinegéticas para o podermos exercer.

Nuno Pissarra


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