Nos concelhos da Covilhã e do Fundão muitos cães domésticos estão a ser vítimas de armadilhas ilegais que são colocadas junto às aldeias para caçar javalis.
Chandi tem dois anos e é uma das mais recentes vítimas dos laços que são colocados para apanhar javalis. A jovem cadela está há vários dias internada numa clínica veterinária com ferimentos graves nas patas e na zona do crânio. «Os meus animais têm sido atacados não por pessoas, mas por seres selvagens», desabafa Alberto Teixeira, dono da Chandi e que, nos últimos anos, já perdeu dois cães e viu outros dois chegarem-lhe a casa com sinais de terem sofrido ataques violentos. O problema não são só as armadilhas em que os animais são apanhados. Hugo Brancal, veterinário, tem recebido na sua clínica vários cães com sintomas semelhantes: «São lesões muito típicas deste tipo de caça furtiva em laços, em que muitas vezes para libertarem o animal usam objetos cortantes desferindo-lhes golpes na zona da cabeça», refere. Muitos morrem, outros ficam com sequelas para o resto da vida. Residente na Barroca Grande, Covilhã, Alberto Teixeira não se conforma e diz que este tipo de atuação «arrepia qualquer ser humano». Por isso, não hesitou e apresentou queixa no posto da GNR de Silvares, onde também André Marques, que mora na localidade de S. Martinho, concelho do Fundão, já fez o mesmo. Neste caso chegou a haver flagrante delito. «Eu andava a apanhar pinhas quando ouvi o meu cão a ladrar de dor, quando corri para ver o que se passava vi um homem a desferir-lhe vários golpes». O cão de André Marques tinha ficado preso num laço para javalis colocado pelo alegado agressor, residente na zona e que chegou a ser identificado pela GNR ainda com a camisola cheia de sangue e a faca com que supostamente terá ferido o animal. A queixa não deu em nada, mas o cão esteve várias semanas internado e acabou por perder a visão. A Instinto, associação de defesa e proteção dos animais da Covilhã, tem vindo a alertar para o facto da colocação de laços para apanhar javalis ser uma prática comum na região que, para além de ilegal, está a matar e a deixar marcas violentas em muitos animais domésticos. Por sua vez, Alberto Teixeira alerta ainda para o perigo que este tipo de armadilhas pode também representar para as crianças, já que, segundo constata, são colocadas cada vez mais próximo das aldeias.