Angola questiona parceria estratégica com Portugal

José Eduardo dos Santos diz que “incompreensões ao nível da cúpula em Portugal não aconselham à construção da parceria estratégica”. “Só com Portugal, infelizmente as coisas não estão bem. Têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e o clima político atual, reinante nessa relação, não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada”, disse José […]

José Eduardo dos Santos diz que “incompreensões ao nível da cúpula em Portugal não aconselham à construção da parceria estratégica”.
“Só com Portugal, infelizmente as coisas não estão bem. Têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e o clima político atual, reinante nessa relação, não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada”, disse José Eduardo Santos, durante o discurso sobre o Estado da Nação em Luanda. O presidente referiu ainda os “bilhões de dólares” que todos os anos “empresas e bancos com capitais portugueses” levam de Angola, questionando por que razão “podem ter empresas privadas dessa dimensão” no território africano “e os angolanos não”. “Não faz sentido”, disse, referindo-se ainda a “campanhas de intimidação” que têm sido recorrentes contra cidadãos africanos. Em reação ao anúncio do Presidente angolano, o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, afirmou que os portugueses devem fazer mais para melhorar as relações com Angola, admitindo que têm surgido dificuldades que impedem o estabelecimento de relações estratégicas entre os dois países, citado pela agência angola Angop. O Diário Económico já pediu reacção ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e a vários empresários, mas até ao momento ninguém esteve disponível para qualquer comentário. Pedimos igualmente um comentário à embaixada portuguesa em Luanda, mas sem sucesso. O embaixador português, João Câmara, está também indisponível em visita oficial ao Lubango. As relações entre Portugal e Angola têm-se deteriorado nas últimas semanas, com a polémica em torno da investigação do Ministério Público português a algumas figuras de topo angolanas. O Jornal de Angola escreveu sábado novamente um editorial sobre Portugal onde defendeu a necessidade de uma clarificação nas relações luso-angolanas e, citando responsáveis portugueses, questionava a qualidade da independência política da antiga potência colonial. Mas este foi apenas mais um dos editoriais dedicado a Portugal. No domingo, 6 de outubro, o jornal atacava directamente a procuradora-geral da República portuguesa. As críticas seguiram-se à visita de Rui Machete a Luanda, em que o ministro dos Negócios Estrangeiros pediu desculpas a Angola, em entrevista à Rádio Nacional de Angola, por causa da polémica em torno das investigações em curso na Procuradoria-Geral da República portuguesa a altas figuras do Governo angolano. Dois dias depois, o Jornal de Angola escrevia que “ao alimentar manchetes e notícias falsas que têm no centro figuras públicas angolanas, o Ministério Público e a procuradora-geral da República, Joana Vidal, puseram-se fora da lei.” E na quarta-feira voltou a dedicar o editorial a Portugal criticando “as elites portuguesas corruptas e ignorantes”, e exigindo reciprocidade nas relações entre os dois países. Portugal e Angola têm previsto realizar, em Luanda, em Fevereiro do próximo ano, a primeira cimeira bilateral, cuja realização foi anunciada em Fevereiro passado pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas.

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