A Auchan, dona do Jumbo, que já explora várias bombas de gasolina de baixo custo, admitiu ao SOL a possibilidade de alargar esse conceito ao gás. «Tal como considerámos que criaríamos valor para os nossos clientes no mercado dos combustíveis, tendo conseguido baixar de uma forma clara os preços, consideramos que no mercado do gás existe também capacidade para criar valor para os nossos clientes, conseguindo baixar o preço final deste tipo de produto», avançou fonte oficial do grupo francês.
Também o grupo de origem francesa Os Mosqueteiros, que tem as lojas Intermarché e uma rede de postos de abastecimento de combustíveis no país, está a estudar a hipótese. «Estamos sempre atentos a novas oportunidades que permitam oferecer um melhor serviço ao cliente. Como tal, a venda de gás de botija de marca própria nas grandes superfícies está a ser analisada», confirmou fonte da companhia.
Em França, por exemplo, já existe esta prática, como explicou a Deco, apontando o caso do Carrefour. «Vende botijas de gás butano de 13 quilos, iguais às nossas, por menos sete euros do que a média dos revendedores tradicionais», frisou à Lusa Tito Rodrigo, da associação de defesa do consumidor.
Questionada, a Jerónimo Martins afirmou que «esta não é, no momento, uma prioridade para o Pingo Doce», apesar de garantir que o grupo está «sempre atento às necessidades dos consumidores». A Sonae, que detém o Continente, não respondeu até ao fecho da edição.
A venda de botijas de gás pelas retalhistas é uma das medidas propostas pelo Governo, por recomendação da ENMC, para baixar o preço deste combustível, que supera em 50% o do gás natural.
Há vários anos que a venda de botijas está em queda no mercado nacional, tendo o consumo sido substituído pela eletricidade e pelo gás natural. Desde 2008, a queda foi de 24%.
A concentração do mercado é uma das críticas feitas pela ENMC. O negócio da distribuição deste segmento é controlado maioritariamente por Galp, BP, Repsol e Oz Energia, do empresário Manuel Champalimaud. O estudo da ENMC concluiu que há «tendência para uma prática de preços mais baixos em regiões fronteiriças» no gás de botija.
Para contrariar a diferença de preços entre o gás butano e propano, o Governo quer ainda definir preços de referência que permitam bases comparativas aos consumidores.
Governo e Galp em guerra
O Governo estendeu esta semana a guerra dos cortes das rendas excessivas à Galp, depois de no passado ter imposto cortes no setor eléctrico.
Ao abrigo de um pacote de propostas no setor energético enviadas à troika, o Executivo quer baixar em 5% o preço do gás natural aos consumidores, nos próximos três a quatro anos, através da renegociação do contrato de concessão com a petrolífera.
De acordo com o ministro da Energia, Jorge Moreira da Silva, o Governo quer que a Galp partilhe mais-valias, calculadas em 500 milhões de euros, obtidas entre 2006 e 2012 com a revenda de gás natural no mercado internacional.
Em causa está o facto de os contratos de longo prazo da comercialização deste combustível com a Nigéria e a Argélia serem considerados um bem público, uma vez que foram assinados num contexto de mercado protegido, tendo por base um projeto de infra-estruturas financiadas com fundos comunitários e nacionais.
Mas os argumentos do Governo foram rejeitados pela energética. O presidente da Galp, Ferreira de Oliveira, mostrou-se disponível para procurar «uma solução de forma construtiva com o Governo», mas refutou a ideia de ter beneficiado de ganhos excessivos na comercialização de gás oriundo dos contratos da Nigéria e Argélia. «Não percebemos o valor calculado pelo Governo e onde estão as rendas excessivas», disse o responsável durante a apresentação de resultados do primeiro trimestre, que resultaram numa queda de 38% dos lucros.
Confrontado com uma possível batalha jurídica, Ferreira de Oliveira descartou a hipótese. No entanto, adiantou que o contrato que o Governo diz querer renegociar já cessou no final de 2012. «Desde essa data que a Galp gere o gás dos contratos por sua conta e risco», defendeu.
Preço da luz desce
Outra medida de Moreira da Silva para baixar os preços da energia é o alargamento da tarifa social da eletricidade a 500 mil consumidores.
Esta solução vai traduzir-se numa redução de 34% do preço da luz a partir de 1 de janeiro de 2015 para as famílias mais carenciadas, através de cortes de 24,4 milhões de euros nas chamadas rendas de energia – mecanismo de compensação financeira de que beneficiam as centrais.
Esta medida deverá ser suportada maioritariamente pela EDP. Contactada pelo SOL, a empresa liderada por António Mexia não quis comentar.