O elefante Salomão, cuja história foi contada pelo escritor José Saramago, está a “renascer” em Tondela para começar, no dia 29, uma nova viagem, já com várias paragens previstas em Portugal e Espanha.
Baseando-se na obra “A viagem do elefante” – sobre um paquiderme indiano que, no século XVI, caminhou de Lisboa a Viena de Áustria – o Trigo Limpo teatro ACERT criou um espetáculo de rua, em coprodução musical com a Flor de Jara (Espanha) e parceria com a Fundação José Saramago. Um elefante gigante está a ser construído em Tondela, com madeira e vime, preparando-se para começar a aventura em Figueira de Castelo Rodrigo. Não terá descanso durante todo o verão, com espetáculos em São João da Pesqueira, Pinhel, Sortelha (Sabugal), Fundão, Castelo Branco, Tondela, Lisboa e Madrid. Uma equipa fixa de atores, técnicos e produtores, num total de mais de 20 pessoas, irá descolar-se a cada uma das localidades. Chegará na terça-feira e trabalhará com a comunidade até sábado, dia de apresentação do espetáculo. “Vai juntar nessa grande família Trigo Limpo/Flor de Jara 80 pessoas da comunidade, que anteriormente se inscrevem junto do promotor local, na maior parte dos casos as autarquias, e que têm sessões de trabalho connosco”, explicou hoje, em conferência de imprensa, José Rui Martins, da ACERT. José Rui Martins explicou que “cada um dos espetáculos é diferente, não só porque os atores, na sua grande maioria, são diferentes”, mas também porque integram grupos com grande identidade local, como os bombos de Lavacolhos no Fundão, as adufeiras de Monsanto em Castelo Branco e as concertinas de Figueira de Castelo Rodrigo. A arquitetura local também será integrada no espetáculo. “A população vai assistir aos ensaios, viver de forma intensa todo o processo. Para nós é tão importante esse processo como o espetáculo”, frisou. O ator e encenador Pompeu José referiu que “há sempre um processo de construção que tem de deixar marcas na equipa que o faz”, para que depois esta possa passar o testemunho. “Temos que lá estar cinco dias (em cada localidade) para deixar a doença, para deixar o nosso bichinho”, sublinhou, admitindo que gostaria que este espetáculo funcionasse como um incentivo para 20 ou 30 das 80 pessoas da comunidade que vão estar envolvidas. José Rui Martins explicou que o objetivo é potenciar ao máximo o espetáculo, avançando já ter tido contactos da Catalunha e de Bilbau. “Seria um erro fazer uma produção desta natureza para esgotar numa temporada, porque mesmo o próprio investimento é avultadíssimo”, considerou. Este deverá ser o ano “para viabilizar o projeto”, esperando que os próximos “abram portas para o rentabilizar”. O projeto conta com o apoio da Direção Geral das Artes, da Câmara de Tondela e do Turismo Centro de Portugal. Segundo José Rui Martins, as partes do projeto que são quantificáveis em dinheiro orçam cerca de 200 mil euros, mas há muitas outras a ter em conta, porque se trata de “um trabalho que tem uma grande componente de voluntariado”. Miguel Torres, da ACERT, realçou que este espetáculo de teatro de rua faz uma síntese do que tem sido o projeto da associação. “Continuamos a manter esta enorme capacidade de sonhar e continuamos a ter a capacidade de passar esses sonhos aos nossos parceiros”, referiu. Já Luís Pastor – que em 2006 editou um livro CD com músicas criadas para poemas de Saramago e é o autor da música deste espetáculo – considerou que Salomão poderá ser a chave para romper as barreiras entre Portugal e Espanha, com portugueses e espanhóis a terem “os mesmos sentimentos desta utopia da viagem até à morte, que não é outra coisa que a vida de cada um”.