Há muitos anos que o gasóleo era mais caro em Vilar Formoso do que em Fuentes de Oñoro, mas esse cenário alterou-se nas últimas semanas.
Longe vão os tempos em que compensava ir a Espanha encher os depósitos de combustível das viaturas. Desde setembro, quando o valor da taxa de IVA no país vizinho subiu de 18 para 21 por cento, que a diferença se foi esbatendo e, gradualmente, os preços se aproximaram. Nas últimas semanas o preço dos combustíveis passou a ser similar dos dois lados da fronteira e, nos últimos dias, é mais barato abastecer em Portugal. Foi este o cenário que o jornal O INTERIOR encontrou na última segunda-feira, onde a diferença de preços se cifrava em mais de seis cêntimos, enquanto durante anos o cenário era rigorosamente ao contrário.
No Intermarché, logo à entrada de Vilar Formoso, o gasóleo custava 1,275 (segunda-feira), enquanto a gasolina sem chumbo 95 tinha o preço de 1,475 e a de 98 1,515. Quanto à Repsol, ainda em Vilar Formoso, o gasóleo era vendido a 1,299 e a gasolina sem chumbo 95 a 1,504. Em Fuentes de Oñoro, no posto de abastecimento da Cepsa, as primeiras bombas após a fronteira, o gasóleo custava 1,339 e a gasolina sem chumbo 95 1,419. Mais à frente, nas da Galp (supermercado Gildo), o gasóleo tinha exatamente o mesmo valor da sua concorrente, ao passo que a gasolina sem chumbo 95 custava 1,428. Ana Cláudia, residente em Vilar Formoso, garante que há algumas semanas que se nota que é «mais barato abastecer em Portugal do que lá», reconhecendo que «dantes ia meter gasóleo a Espanha». Também os camionistas de empresas nacionais aproveitam agora para atestar os depósitos em Vilar Formoso, pois «basta fazer as contas para ver que sai muito mais barato», realça Adrien Filipovic. Este camionista moldavo a residir em Albergaria-a-Velha, que realiza viagens para vários países europeus, adianta que costuma atestar nas bombas da Repsol, de Vilar Formoso, e que só abastece em Espanha quando «é mesmo necessário para chegar aqui outra vez», constatando que o gasóleo estava a 1,299 e que «do outro lado da fronteira, na Espanha toda, onde é mais barato deve ser a 1,33».
Também Luís Nunes aproveitou para abastecer o depósito do camião da sua empresa, sedeada no Algarve, no mesmo posto, embora garanta que «em certas províncias espanholas encontra-se o gasóleo mais barato do que aqui». O camionista confessa que «normalmente» abastece em Espanha, «tanto quando saio como, quando entro» e esta vez foi «uma exceção porque já estava no limite». O motorista considera que, «em relação aos combustíveis, o Estado português cada vez perde mais dinheiro e se baixasse mais os preços havia mais empresas de camionagem a abastecer em Portugal e os impostos ficavam cá», frisa.
Gasolina sem chumbo 95 continua a ser mais barata em Espanha
Uma coisa é certa, o negócio nas bombas da Repsol tem «melhorado bastante» nos últimos meses, embora os clientes espanhóis sejam «poucos» porque «eles são muito bairristas e apesar de ser mais barato cá preferem continuar a meter lá», frisa Luís Ferreira, funcionário do posto. Também nas bombas do Intermarché, as vendas, sobretudo de gasóleo, subiram, e de que maneira. «Estamos a vender mais do dobro do que vendíamos antes. Até setembro vendíamos uma média de 50 mil litros por mês e agora chegamos aos 120, 130 mil», sendo 90 por cento de gasóleo e o restante de gasolina, revela o gerente do supermercado. Francisco Andrade indica que a diferença de preços começou a esbater-se a partir de setembro do ano passado, quando o IVA em Espanha subiu dos 18 para os 21 por cento. O responsável recorda que abriu o posto de combustível em outubro de 2000 e nessa altura «as vendas estavam ao nível do que estão hoje. Vendíamos o gasóleo mais barato 18 cêntimos do que em Espanha». O empresário também se mostra agradado porque a «disparidade» de subidas e descidas parece ter sido afastada, assegurando ter «muitos espanhóis» a abastecer nas suas bombas, porque «o que acontecia dantes do lado de lá, acontece agora do lado de cá».
Na gasolina, nomeadamente na sem chumbo 95, é que o preço ainda é mais barato em Espanha, daí que Maria Manuela, residente em Aldeia Velha, garanta que «ainda compensa» abastecer nas bombas da Galp, em Fuentes de Oñoro, até porque «não venho cá de propósito e quando atesto é normalmente aqui». De resto, o conselheiro-delegado do grupo Gildo, que explora a estação de serviço da Galp, desvaloriza a diferença de preços: «Se compararmos a Galp de Espanha com a Galp portuguesa verão que há mais de 10 cêntimos de desconto e, ainda por cima, nós fazemos cinco ou sete cêntimos de desconto a partir do preço que temos marcado. Então estamos a falar de uma diferença de 17 cêntimos, o que é dinheiro», sustenta Juan Luiz Bravo que assegura que continuam a ter «muitos» clientes portugueses. O empresário realça também que «se não tivéssemos a Galp aqui ainda teríamos os preços, pelo menos, sete cêntimos mais baratos do que temos atualmente», mas essa marca «dá uma garantia de qualidade».