Dez anos depois das primeiras garrafas de vinho kosher saírem da adega cooperativa da Covilhã, os compradores não surgiram como esperado e, neste ano, só sairá vinho gentio das cubas beirãs.
«Ainda temos duas colheitas para vender», lamenta o presidente Francisco Matos Soares. A Covilhã parecia ser o sítio certo para produzir vinho kosher, preparado de forma considerada pura pelos judeus. Os habitantes de Belmonte, ali ao lado, ainda compram algum, mas não o suficiente para cobrir os custos. Também a exportação corre mal. Soares Matos recebe inúmeras manifestações de interesse, mas os contratos nunca são assinados. «Começamos há dez anos, já com um importador, mas entretanto ele desistiu», disse ao Jornal de Notícias o presidente, que só tomou posse em 2008. Desde então tem procurado angariar esse e outros compradores, sem sucesso. Com as colheitas de 2005 e 2010 do Terras de Belmonte ainda em stock, vai deixar de o produzir.
Aveleda experimenta
Outro produtor seguiu o mesmo caminho. Há dois anos, saíram da Aveleda as primeiras garrafas de Grinalda. A empresa minhota escolheu a certificação com a melhor relação consumidor-custo: vinho para consumo na Páscoa judaica, data em que se bebe praticamente metade do consumo anual, disse o enólogo Pedro Costa. A experiência tem corrido bem, em particular nos Estados Unidos que, além de terem uma forte comunidade judaica, são também o maior destino das exportações da Aveleda. Mas este será sempre nicho de mercado. As 20 mil garrafas de vinho verde kosher são uma gota no oceano das 14 milhões produzidas por ano.