Os turistas saltaram das praias para o interior e os investimentos estão a acompanhar a nova tendência. No próximo ano vão nascer nove hotéis na região centro – mais do dobro das aberturas programadas para o Algarve. “O turista hoje não vem para a praia e, se vier, vai também para mais qualquer coisa; quer conhecer melhor o país. O turismo de hoje é assim: já não vou para a praia e fico quieto a apanhar sol. Esse era o turismo dos anos 70 e 80, e já foi”, disse ao Dinheiro Vivo Raul Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal. As zonas de Lisboa e do Porto continuam a monopolizar o setor hoteleiro, tanto em unidades como em novos projetos. Mas o centro começou a entrar no horizonte dos grupos hoteleiros a partir de 2013. Nesse ano, havia 259 unidades hoteleiras na região centro; hoje são mais 45 (304). “Há muito hotel a fazer-se no interior e o Compete 2020 tem sido muito aplicado no centro e no Porto. Quer dizer, não são hotéis grandes, mas já não há interesse em fazer hotéis grandes”, refere Raul Martins, que escolheu Coimbra como o destino do 29.o Congresso de Hotelaria e Turismo, que terminou na passada sexta-feira, dia 17.
“Coimbra não foi por acaso. É uma região que hoje está de facto em alta, em crescimento e, portanto, nós entendemos que era bom estar lá para dar apoio e dar relevância. No ano passado fomos aos Açores, que é uma região que só se abriu aos estrangeiros com a chegada das low cost, e também já estivemos no Norte. Vamos assim ao encontro das várias regiões e das tendências”, adiantou o também administrador do Grupo Altis. A região centro é, a par do Norte e dos Açores, uma das que mais cresce em número de turistas. Mas há muito caminho a andar, refere Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, que apela à criação de estratégias focadas para vender os destinos menos procurados. “Do Turismo de Portugal tem de haver uma estratégia diferente para vender Portugal nos mercados externos e sobretudo para combater a sazonalidade sem ser numa afirmação única e exclusiva apenas nesses sítios mais massificados. Se a estratégia de vender Portugal continuar a ser sobre esses sítios que já estão massificados, a consequência é que os massificados, mais se massificarão e os que não estão massificados cada vez terão menos fluxo.” Os números ainda mostram a diferença.
Em setembro (últimos dados), a taxa de ocupação da hotelaria do centro não chegava a 58%, numa altura em que o total do país estava dez pontos percentuais acima. “Somos uma região diversa, acreditamos que a diversidade pode ser um instrumento poderoso à massificação do turismo. Isto é, hoje procura-se discutir o turismo massificado em zonas como as áreas metropolitanas. Nós não sentimos esse peso. Mais do que isso, acreditamos que a diversidade de uma região, pela sua área, pela sua heterogeneidade, pode fazer a diferença”, refere, lembrando que “somos uma região que não consegue atrair transporte aéreo por razões óbvias”, o que obriga a um reforço da promoção externa. “Acho que há um desafio grande que é conseguirmos este diálogo permanente entre as regiões e a marca Portugal e apoiá-la em termos digitais”, acrescentou Ana Mendes Godinho, secretária de Estado do Turismo, que coloca como desafio “garantir uma informação quase diária do que está a acontecer nos territórios regionalmente e o que está a ser comunicado internacionalmente”. E a promoção, garante a governante, tem de passar necessariamente pelo digital, uma “ferramenta poderosa” que, bem dominada, permitirá “tirar o máximo de rentabilidade e de concretização de vendas e de comercialização dos nossos territórios e do nosso destino através do digital”. Ana Mendes Godinho até tem uma ideia: aproveitar o site de promoção do país – VisitPortugal -, que tem dez milhões de visitantes, e criar uma ferramenta de venda direta para “agarrar” estes turistas.