“A conclusão a que chegamos foi que, do ponto de vista do aquecimento no inverno, é ótimo, porque vão ser menos frios e, portanto, vamos diminuir o número de pessoas vulneráveis do ponto de vista da necessidade de aquecimento das habitações”, avançou à agência Lusa Sofia Simões.
Mas, a especialista do Centro de Investigação para o Ambiente e Sustentabilidade (CENSE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa estimou que, “do ponto de vista do verão, das ondas de calor e das necessidades de arrefecimento, a situação vai piorar”.
O trabalho foi realizado no âmbito do projeto Climadapt.Local, com 29 municípios de todo o país, para ajudar as autarquias na adaptação às consequências das alterações climáticas, como o aumento da temperatura, que em alguns concelhos pode chegar a três graus, a maior incidência de ondas de calor, chuvas abundantes e repentinas, e cheias.
Alguns destes municípios definiram planos de adaptação, tendo em conta as características climáticas previstas para cada região, com base em cenários climáticos futuros, resultado do trabalho de investigadores daquela faculdade.
O estudo para o futuro “tem uma incerteza enorme”, advertiu a especialista, mas os cientistas avaliaram o que poderá acontecer, em termos de vulnerabilidade relacionada com o conforto térmico, se todas as condições se mantiverem, e só mudar o clima.
Foi definido um índice de vulnerabilidade e atribuído um nível, para a situação atual e para o futuro, nas freguesias dos 29 concelhos, que representam 30% da população portuguesa.
A escala de vulnerabilidade tem um máximo de 20, correspondendo a altamente vulnerável ao conforto térmico.
No inverno, “a ideia é que a vulnerabilidade passa para um valor médio de 10, a escala estaria agora em 12. Portanto, a vulnerabilidade no inverno diminuiu porque está mais calor”, disse Sofia Simões.
No verão, ao contrário, “a vulnerabilidade que estava nos nove passa para 11, agrava-se”, continuou.
Segundo as conclusões do trabalho, “os locais onde se agrava mais [a vulnerabilidade] estão no sul e em Trás-os-Montes, onde os verões também são muito quentes”.
A cientista salientou que “as habitações antigas tradicionais conseguem lidar bastante bem com os verões muito quentes, como as casas do Alentejo, com as paredes grossas e as janelas pequenas”.
O grupo coordenado por Sofia Simões realizou um primeiro levantamento, com dados do último Censos, de 2011, e concluiu que, tendo em conta o clima atual, “as pessoas não têm as habitações adaptadas ao conforto térmico, seja no verão, seja no inverno, tanto para aquecimento, como para arrefecimento, e há uma variabilidade grande nos 29 concelhos”.
A diferença tem a ver com o tipo de casa e de construção, com o clima, mas também com as condições económicas das famílias, já que, se tiverem disponibilidade, podem pode comprar equipamentos de aquecimento ou de arrefecimento.
“As habitações construídas nas décadas de 1970 e 1980 são aquelas que, do ponto de vista do conforto térmico, têm piores características”, disse.