Hermano Sanches não tem dúvidas de que os franceses “não vão esquecer as manifestações dos luso-descendentes” durante o todo o tempo que durou o Euro 2016, uma onda que diz ter nascido e crescido de geração espontânea, sem o apoio das autoridades do país-mãe.
Em entrevista ao Público, o primeiro vereador português eleito para o município parisiense afirma que o torneio de futebol deveria ter sido potenciado em França a nível político, económico e cultural, numa altura em que o país “nunca viu uma mobilização tão grande da comunidade luso-francesa” .
Apesar das críticas, o vereador defende que esta é “uma oportunidade única” para os governos dos dois países escutarem as reivindicações da população emigrante, que ronda milhão e meio de pessoas e quer manter uma identidade própria. A começar pelo reforço da língua-pátria, que defende ser uma prioridade.
Sanches frisa que nenhum partido português compreendeu ainda completamente a questão das comunidades lusas espalhadas pelo mundo, embora reconheça que António Costa “parece ter outro entendimento sobre a noção de portugalidade e lusofonia”, ao defender que o apoio às comunidades não pode ser restrito aos países de língua portuguesa. “É um dado novo e algo que apenas ouvi com este Governo e penso que também ter sido compreendido pelo novo presidente da República”.
O vereador português acredita que as recentes visitas do primeiro-ministro e de Marcelo Rebelo de Sousa obrigaram François Hollande a comprometer-se a apoiar a língua portuguesa, censurando Cavaco Silva por não ter organizado visitas de Estado regulares a França durante os seu mandato.
Hermano Sanches refere que o Euro 2016 garantiu uma maior visibilidade da comunidade portuguesa, alvo de várias reportagens nos media locais, mas também revelou a falta de coordenação desta mesma comunidade e das autoridades portuguesas em redor da presença da seleção, “como fizeram outros países”, mobilizando as 900 associações franco-portuguesas para apoiar a equipa de Fernando Santos.
O autarca afirma que desenvolveu contactos oficiais “junto aos embaixadores em Paris”, considerando fundamental a criação de um alto conselho informal, composto por pessoas representativas de redes com capacidade para orquestar, por exempo, a campanha de promoção da língua portuguesa ou da cidadania.
Na entrevista, preconiza ser importante que os portugueses em França esteja inscrito não apenas para as eleições em Portugal, mas também onde residem, porque em em França que podem conseguir “politicamente defender os interesses portugueses, nomeadamente económicos e culturais, mas também defenderem os interesses franceses em Portugal”.