Adeja o derradeiro pássaro. Gritar, debandar, morrer e assassinar. O caos e a brutalidade das guerras. Lugares dilacerados e homens de mãos postas. A injustiça na lâmina de cada espada. Balas que cortam a espessura do ar. Sabor amargo de deliberações contaminadas. Homens sem alma. Fantasmas aos molhos. Vermes sepulcrais. O frio que perfura mapas, tábuas e betão. Honra ultrajada. Impiedosos assassinos. Desejos cruéis. Testemunhos silenciosos da ausência. Sangue derramado de milhares de justos. Desfilam taças de fel. Perfeita obscuridade. Escadas sem degraus. Apenas restará a noite. Ódio armado. O som de mísseis de cruzeiro, morteiros e metralhadoras. Caçadores que não andam aos pássaros. Serpentes ondulantes. Lobos que mentem e matam. Carne triste e desamparada. Entranhas abertas. O sonho inexistente à janela da infância. Céus enfurecidos. A curvatura da perda. Vitórias sanguinárias. A constante humilhação e o regozijo de alguns. Infernos a céu aberto. O suspiro do mundo. Poetas que traduzem poetas. Chorar ao contemplar as fotografias. Estandartes de cólera. As mãos do medo. Corpos rasgados ao meio. Assembleias de punhais. Atmosfera perturbante. Facear a morte de tão perto. Corpos inumados directamente na terra. Morte da madrugada. Névoa compartilhada. Violência perversa e nua. A intimidade das lágrimas. A Ilusão e a vingança. Sílabas de sangue. Bocas feridas e olhos tristes. Pérfidos danos colaterais. As nódoas estalam. Sombria substância dos lugares. Novidades atrozes sobre o mundo. Ecos de despedida. Insipiência miserável. Parceiros do crime. Poemas substituídos por prisões. Dedos trémulos. Mãos profanas. O egoísmo e o jugo do sofrimento. Lágrimas infindáveis. Horas de prece. Palavras Interditas. Chacais no meio da poeira. Forjas bélicas. Palcos de impiedade. As faces do luto. O clamor da guerra. Hinos de lamento colectivo. A indigestão oriunda de mastigar a angústia. Indumentárias de cinza. Cadáveres que adubam as terras. Rios de chumbo. Narrativas de separação. O frio coagula a tinta das canetas. Tensões permanentes. Cicatrizes indestrutíveis. Corações em pedaços. Cálices de morte. Horrores indescritíveis. Noites sem tecto. O tormento engolido pelo choro das crianças. Horizonte de cidades bombardeadas.
Citando Eleanor Roosevelt: “ninguém ganhou a última guerra, nem ninguém ganhará a próxima”.
De relembrar o que José Fanha escreveu: “Se as bombas inteligentes/fossem mesmo inteligentes/explodiam ininterruptamente/em cada Primavera/e mesmo que não fosse Primavera/explodiam/pelo simples e desvairado prazer/de lançar em todas as direcções/ogivas carregadas/de brisas cantantes/águas felizes/e pólen”.
Ainda assim, acreditemos nas palavras de esperança que Pavlo Korobchuk redigiu: “quando a primavera chegar e o inverno abrandar/quero oferecer-te flores” ou “quando voltar a haver verão e silêncio nos terraços/quero acariciar-te ao amanhecer”.
Palcos de Impiedade






