Os preços das casas nos municípios em alta. Uns mais outros menos. E nos concelhos da Beira Interior?

Os preços medianos (Me) mais baixos para comprar casa situam-se, sobretudo, no interior do país, com três concelhos a pertencerem ao distrito da Guarda (C), outros três ao de Bragança (N), um ao de Castelo Branco (C) e ainda um município em Viseu (C) e outro em Vila Real (N).

O preço das casas é, se não a mais importante, uma das mais importantes variáveis a considerar quando se pensa adquirir uma habitação, vivenda ou apartamento. Comprar casa em Portugal está cada vez mais caro, sobretudo, nos grandes centros urbanos. Há quem goste da vida urbana e procure uma casa na cidade. Mas as estatísticas também demonstram que, com a pandemia, são cada vez mais as famílias a ponderar mudar de “ares” na expectativa de encontrar uma melhor qualidade de vida, sobretudo nas zonas rurais e do interior, i. é, no campo, mais junto da natureza no seu estado mais puro. Seja num lado ou no outro, a verdade é que o preço das casas é o principal factor a ter em conta na hora de adquirir uma casa.


O INE- Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou recentemente (2022/2/1) uma nova edição das Estatísticas dos Preços da Habitação ao nível local (concelhio) com base em dados fiscais. Estes dados, recentíssimos do INE confirmam que os preços das casas em Portugal estão cada vez mais caros. “Tomando como referência as vendas efetuadas durante os 12 meses que vão de outubro de 2020 a setembro de 2021, o preço mediano (Me) de alojamentos familiares em Portugal foi 1.250 euros/m2, aumentando 2,6% relativamente ao trimestre anterior e 7,8% relativamente ao trimestre homólogo”, segundo o boletim publicado por esta entidade no dia 1 de fevereiro de 2022. Por definição o valor mediano (Me) é o que separa os preços em duas partes iguais o conjunto ordenado de preços por metro quadrado, isto é, entre o menor e o maior).


Diz o boletim que dos 306 concelhos com dados apurados pelo INE em 49 registaram preços cuja mediana das casas se situava acima do valor da mediana nacional (os municípios do Corvo e Santa Cruz das Flores, por não terem dados contabilizados não foram considerados). Estes localizam-se sobretudo nas regiões do Algarve (em 14 de 16 municípios) e da Área Metropolitana de Lisboa (em 16 de 18), e na AM Porto. Analisando os 10 municípios com os preços medianos das casas mais elevados, os três mais caros situam-se no distrito de Lisboa: são eles, o próprio município da capital portuguesa, o mais caro de todos (3.427 euros/m2), seguido de Cascais (2.971 euros/m2) e de Oeiras (2.536 euros/m2). Aliás, dos dez concelhos mais caros de Portugal, quatro deles são do distrito de Lisboa, um do do Porto e cinco do de Faro. Ou seja, o Algarve é dominante no top 10 dos municípios mais caros para comprar casa. Esta situação é contrária à que se verificava na análise realizada pelo INE entre julho de 2020 e junho de 2021 (12 meses), na qual os concelhos de Lisboa tinham maior peso (5). Já a Norte de Portugal é o concelho do Porto que vai na frente e isolado com o preço mediano das casas a atingir 2.264 euros/m2, o quinto mais elevado do país. Verificaram-se também valores superiores a 2000 €/m2 em Cascais (2971 €/m2), Oeiras (2 536 €/m2), Loulé (2 498 €/m2), Porto (2 264 €/m2), Albufeira (2138 €/m2), Lagos (2109 €/m2), Odivelas (2104 €/m2) e Tavira (2038 €/m2).


Os preços medianos (Me) mais baixos para comprar casa situam-se, sobretudo, no interior do país, com três concelhos a pertencerem ao distrito da Guarda (C), outros três ao de Bragança (N), um ao de Castelo Branco (C) e ainda um município em Viseu (C) e outro em Vila Real (N). Dizem as estatísticas que onde é mais barato comprar casa em Portugal é mesmo no concelho de Fornos de Algodres, na Guarda, onde o preço mediano no período em análise (out/2020 a set/2021) não passou dos 169 euros/m2. Logo a seguir vem o concelho de Sernancelhe, em Viseu, onde comprar casa custa 190 euros/m2. Estes dois são os únicos municípios do país onde o preço por m2 é inferior a 200 euros.

Como estão os preços nos municípios/concelhos do Interior?

Neste caso como em tantos outros há diferenças muito grandes entre os preços no litoral, onde se situam os grandes centros, e no interior, seja ele o Norte, Centro ou Sul. Por exemplo, cingindo agora a análise ao nível dos municípios da Beira Interior – englobando com esta designação os concelhos ou municípios dos extintos distritos da Guarda e C. Branco – os dados acabados de publicar pelo INE mostram que os municípios mais caros entre os 23 concelhos que selecionámos, mas muito abaixo da mediana do Continente, são os mais urbanos como o da Covilhã em primeiro com 723€/m2 (-532€/m2 face à Me nacional, apenas 58% da Me nacional (MeN)), o da Guarda em segundo (675€/m2, -580€ MeN, apenas 54% da MeN), e o de C. Branco (661€/m2, -594€, apenas 53%MeN) em 3º). No meio ficam os municípios da Sertã (644€, -611€, 51%), Fundão (572€, -683€, 46%), Seia (469€, -786€, 37%), Proença-a-Nova (449€, -806€, 36%), Belmonte (435€, -820€, 35%), Vila de Rei (427€, -828€, 34%), Manteigas (417€, -838€, 33%), Gouveia (385€, -870€, 31%), Oleiros (356€, -899€, 28%), Pinhel (304€, -956€, 24%), Mêda (299€, -956€, 24%), Idanha-a-Nova (278€, -977€, 22%) e Sabugal (243€, -1012€, 19%). Entre os mais baratos temos, ainda por ordem decrescente, Vila Velha de Ródão e Celorico da Beira (241€, -1014€, 19%), Penamacor (229€, -1026€, 18%), Trancoso (223€, -1032€, 18%), Almeida (210€, -1045€, 17%), Figueira de Castelo Rodrigo (204€, -1051€, 16%) e o já referido concelho de Fornos de Algodres (169€, -1086€, apenas 13% da MeN), o mais barato do país. Como se pode concluir facilmente as diferenças destes municípios para a mediana nacional (MeN=1255€/m2) são enormes, e oscilam entre os 532€/m2 da Covilhã e os 1086€/m2 de Fornos de Algodres (13% do valor da Me). Se comprássemos com o valor mais elevado, o de Lisboa, (3.427 euros/m2, 207% acima da MeN), as diferenças seriam ainda muito mas escandalosas.

MunicípioDif. p Contin.%
Portugal1250-5100%
Continente12550100%
Covilhã723-53258%
Guarda675-58054%
Castelo Branco661-59453%
Sertã644-61151%
Fundão572-68346%
Seia469-78637%
Proença-a-Nova449-80636%
Belmonte435-82035%
Vila de Rei427-82834%
Manteigas417-83833%
Gouveia385-87031%
Oleiros356-89928%
Pinhel304-95124%
Mêda299-95624%
Idanha-a-Nova278-97722%
Sabugal243-101219%
Vila Velha de Ródão241-101419%
Celorico da Beira241-101419%
Penamacor229-102618%
Trancoso223-103218%
Almeida210-104517%
Figueira de Castelo Rodrigo204-105116%
Fornos de Algodres169-108613%

Terminamos dizendo que à luz da teoria económica os preços dos produtos e também das casas, reflectem, normalmente, as condições de mercado do bem. Essas condições ou factores incluem, entre outros, as condições de vida, o dinamismo da actividade económica, o seu poder de compra per capita e, sobretudo, a sua procura e oferta. Assim, se a procura de casas é grande os preços/m2 sobem (ceteris paribus, cp). Mas se a sua oferta é alta (cp) os preços baixam e, logicamente, se a oferta de casas for baixa (cp) eles sobem. Os preços são no geral resultado do equilíbrio (igualdade) entre procura e oferta. Quer isso dizer que nos concelhos onde os preços são mais altos (Lisboa, Porto e Algarve) a actividade económica é mais dinâmica, o nível de vida é mais alto e o poder de compra é maior, ao passo que nos municípios em que os preços são mais baixos (sobretudo no interior, mas não só) isso significa que a actividade económica é pouco dinâmica, o nível de vida é moderado ou baixo e o poder de compra do município / região é certamente baixo. E, desta forma, fica tudo dito.


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