Ajustamentos necessários?!

São tempos de colher os frutos da globalização e de sofrer os efeitos de muitas concorrências e de repensar o futuro. São tempos para uma séria governação, com rumo e firmeza.

Olhando para os títulos dos jornais, concluímos que vivemos tempos de mudança, de cortes nos direitos adquiridos, de dificuldades nos financiamentos, de ponderação nos investimentos e de austeridade. São tempos difíceis, sobretudo para aqueles que nunca conheceram tempos fáceis. São tempos de colher os frutos da globalização e de sofrer os efeitos de muitas concorrências e de repensar o futuro. São tempos para uma séria governação, com rumo e firmeza.

Por cá, mais pela pressão dos mercados internacionais do que por visão política nacional, fazem-se sérios cortes no rendimento disponível e na qualidade de vida. Pretende-se com esses cortes reduzir o défice de 8 para 7%. Imagine-se os cortes necessários para regressar ao défice de 3%…

Por todo o lado, vamos lendo medidas e sugestões para sairmos da crise (nestas crónicas, quando avançámos com as dificuldades da nossa economia, não raro, fomos apelidados de pessimistas). Uma nota comum e transversal a quase todas as análises refere que deveríamos reganhar competitividade através da perda de salário em 20 a 30%. Em boa verdade, esse ajustamento já ocorre sempre que um desempregado alcança novo emprego, ou seja, aceita trabalhar com perda do salário anterior e com perda na qualidade de vida.

As taxas de juro vão subir em breve? Sim, esse ajustamento também já ocorre sempre que se renegoceiam os empréstimos vigentes, mais por força do aumento dos spreads do que pelo aumento das taxas de referência (Euribor, por ex.). Decorre também um ajustamento quando se corrigem em baixa os valores dos imóveis, que se sabia estarem especulados. Ajustam-se os salários dos políticos e decisores públicos com cortes de 5% e demais subidas dos impostos. Também na fronteira os consumidores se vão ajustando às diferentes tributações, consumindo mais barato em Espanha e aí atestando as viaturas automóveis. Ajustam-se igualmente as taxas de juro para a dívida pública interna com lançamento de novos Certificados do Tesouro com remuneração superior (tal como aqui se havia proposto).

Do mesmo modo se ajustam os jovens licenciados procurando fora do país as oportunidades que por cá lhes são negadas. Também os imigrantes que outrora procuraram o nosso país para trabalhar se estão a ajustar, saindo! São inúmeros os ajustamentos. Até o governo e a oposição se ajustam, acordando nas medidas que permitem dar credibilidade externa ao país.

São ajustamentos necessários? Talvez, e mesmo inevitáveis alguns, sobretudo quando se fez quase tudo errado até aqui. Recentemente foi anunciado o nosso crescimento trimestral como um dos melhores da Europa (quase 1%), não obstante a Bolsa portuguesa esteja a cair este ano três vezes mais do que a média europeia (-19,41% contra -6,61%) e a aumentar fortemente o risco de incumprimento quer do Estado quer da banca nacional, começando a delinear-se um quadro duradouro de dificuldades no acesso ao endividamento exterior. Pelo menos neste ponto, nada ficará como dantes. O dinheiro barato acabou! E bastará uma pontinha de inflação – que surgirá com as recuperações das economias da zona euro – para que as taxas de juro disparem para níveis incomportáveis.


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