A psicóloga afirma que, com o confinamento, se perderam várias rotinas diárias dos mais velhos, que, “além de estarem privados de conviver com família, ficaram com a impossibilidade de frequentar as aulas” pelas quais ansiavam.
“Observei em muitas pessoas que sigo que a perda dos contactos sociais e da oportunidade de manterem uma atividade cognitiva ativa agravou o seu estado emocional”, explana Renata Benavente, em declarações à agência Lusa.
Este é o caso de Maria de Fátima Oliveira, aluna de 59 anos que frequentava as aulas de motricidade e biodança da universidade sénior de Campolide, em Lisboa, suspensas desde o início deste ano.
“Estou muito triste desde então. Tenho depressão crónica e, por isso, ando a passar por uma fase muito depressiva: choro muito e qualquer coisa me põe a chorar”, confessa.
Maria de Fátima, que passa o dia sozinha, diz que, além do exercício físico que lhe era recomendado e do qual tanto gostava, lhe faz falta sobretudo o convívio com as amigas, com quem continua a manter o contacto, mas agora à distância.
“Tenho falado com as minhas colegas da universidade: fazemos videochamada, elas passam pela minha janela quando vão fazer os passeios higiénicos… Assim vamos convivendo. As meninas [coordenadoras da universidade] também vão ligando para casa para ver como estou. Se não fosse por elas passava muito mal”, garante.
Raquel Moreira da Silva, uma das coordenadoras, revela que, através desses contactos, notam que quem não acompanha as aulas ‘online’ está “com muita necessidade de conversas e de afeto”, pelo que tentam manter a proximidade.
“Se não morrermos pelo vírus, morremos por solidão e ansiedade… Isto está a mexer muito connosco”, partilha Maria de Fátima.
A psiquiatra Lia Fernandes sublinha que “é fundamental que os idosos tenham três grandes tipos de estimulação: a social, tendo uma boa rede de convívio e contacto permanente; a cognitiva, estando continuamente ativos a nível mental; e a física, andando de forma firme duas a três vezes por semana durante meia hora”.
Como um estímulo não basta para se manterem saudáveis, a médica considera que as universidades seniores são um importante instrumento de envelhecimento ativo e de integração do idoso.
Todas as aulas práticas da universidade sénior de Campolide — como tai chi, motricidade, yoga do riso, biodança, pano para mangas e pinturas — tiveram de ser suspensas, mantendo-se as restantes disciplinas em regime ‘online’.
O número de alunos inscritos desceu de 80 para 14 devido, em parte, às aptidões e condições dos alunos em casa, mas também porque “o que lhes fazia participar nas aulas era saírem de casa e ir até à Junta [de Freguesia]: o convívio entre todos”, elucida Inês Brito, também coordenadora da universidade.