Para aumentar a mobilidade, atrair visitantes e beneficiar a fixação de empresas, o presidente da Câmara Municipal de Manteigas, Esmeraldo Carvalhinho, continua a defender a construção de túneis de atravessamento da serra.
“Eu sei que já foi respondido na Assembleia da República que os túneis não estão no Plano Rodoviário Nacional (PRN). Pois o que nós pretendemos é que se incluam no PRN com perspetiva de virem a ser construídos no futuro”, diz à agência Lusa.
Admitindo que o financiamento necessário é “avultado”, o autarca lembra que outros investimentos já foram feitos no país, “como o túnel do Marão, que está hoje pago e também era uma obra difícil de financiar”.
“Eu não desistirei [de defender a construção de túneis] e, no momento próprio, voltarei à carga junto de algumas instituições com a solicitação da integração no PRN, com a possibilidade de virem a ser construídos”, promete.
Segundo o autarca, os túneis, “além de resolverem um problema natural de acessibilidade” a Manteigas, “resolvem um problema muito maior – o de atravessamento da serra, que agora se faz com a massificação da presença automóvel em patamares de proteção muito exigentes, aos dois mil metros de altitude”.
Com a solução que defende, evitava-se “a pressão automóvel na serra da Estrela” e seria resolvida a ligação entre os distritos de Viseu e de Castelo Branco.
O responsável lembra que a montanha divide os dois distritos e os movimentos pendulares entre as duas regiões “são demasiado onerosos neste momento” – ou se fazem pelo norte da Guarda ou pelo sul da Covilhã, “com custos elevadíssimos para as empresas e pessoas que transitam entre estas duas economias”.
Esmeraldo Carvalhinho defende ainda que os itinerários complementares (IC) previstos para a região “são absolutamente necessários” e “devem ser discutidos ao mesmo tempo” do que os túneis, mas “uma coisa não impede a outra”.
O presidente da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE) e da Câmara Municipal de Seia, Carlos Filipe Camelo, tem uma opinião contrária.
Considera legítima a posição do autarca de Manteigas, mas enquanto líder do município de Seia não concorda com ela: “Nada nos faz, por enquanto, mudar de opinião, porque o túnel será um corredor de passagem e leva a beneficiar aquelas zonas que já hoje beneficiam. Nós o que precisamos são estradas que não levem gente, que tragam gente até à região”.
Segundo Carlos Filipe Camelo, a questão da discussão dos túneis “estará sempre em cima da mesa”. Contudo, questiona-se sobre o financiamento: “Se não são construídas estradas porque não há dinheiro para estradas, eu penso que muito menos há dinheiro para construir túneis”.
O autarca considera que a importância da construção dos IC6, 7 e 37 “é grande”, porque sempre foi reivindicada “a possibilidade de se poder chegar” à zona da serra da Estrela “o mais rapidamente possível”, mas lembra que o país passou por dificuldades económicas e que as candidaturas para construção dos IC caíram, fixando-se prioridades com a construção do IC6 até Folhadosa, uma obra que “está revertida” no Programa Nacional de Investimentos 2030.
O presidente da Associação Empresarial NERGA, Pedro Tavares, reconhece que a construção de túneis para atravessamento da serra da Estrela contribuiria para a melhoria da mobilidade na região.
“Às vezes, pensa-se que os túneis iam desunir a região. Eu não penso assim, penso o contrário. Os túneis iam permitir que a zona norte e sul da serra se unissem”, comentou.
Com a construção dos túneis e dos IC, aponta, os empresários da zona da Covilhã e do Fundão “iam ter um acesso mais rápido ao norte” do país.
Já com as portagens nas autoestradas que servem a região (A25 – Aveiro/Vilar Formoso e A23 – Guarda/Torres Novas), o dirigente diz que “as empresas são altamente prejudicadas”.
Zulmiro Almeida, da Comissão de Utentes da A25, afirma que as portagens são “um flagelo que afeta a atividade económica” e “agrava o empobrecimento” de quem vive e trabalha no interior do país.
“As portagens são um elemento de destruição da economia local, um entrave à liberdade de circulação dos cidadãos. […] Com esta medida, continuando a sua teimosia, o Governo dá a machadada final neste interior”, vaticina.
Sobre a questão das portagens, o presidente da CIM-BSE considera que “a tendência deverá ser para a abolição”.