A primeira gramática portuguesa, a sua impressão ocorreu em 1536, com o título “Grammatica da Lingoagem Portuguesa”, tendo sido redigida por Fernão de Oliveira.

No dia 27 de Junho a língua portuguesa fez 810 anos, data em que foi celebrado o primeiro testamento do terceiro Rei de Portugal D. Afonso II, filho de Sancho I. O testamento foi escrito no dia 27 de Junho de 1214, sendo o documento mais antigo, escrito em português. Foi também com D. Afonso II, que foram escritas as primeiras Leis, nas Cortes em Coimbra, altura em que esta foi Capital do Reino.

Cronologicamente, foi a partir do Sec. XVI, que surgiu a primeira gramática de português, como passarei a descrever neste artigo, a época brilhante do Renascimento, que veio trazer conhecimento em muitas áreas. O Renascimento na Europa desenvolveu-se desde o sec. XIV, mas em Portugal só se vislumbrou em meados do Sec. XV, sensivelmente 100 anos depois, até finais do Sec. XVI.


O Renascentismo Humanista floresceu no Sec. XV, movimento intelectual em que houve um interesse focado no mundo clássico e estudos menos religiosos e mais no ser humano. O Renascentismo Humanista acreditava na importância da educação construída na literatura clássica e na promoção de comportamentos mais cívicos, ou seja, no despertar do potencial das pessoas para realizar o bem contribuindo para o bem da sociedade. A prensa móvel, teve um papel fundamental nesta época, pois os primeiros livros foram impressos no Sec. XV, tendo chegado a Portugal através dos judeus via Itália, o primeiro livro impresso foi na cidade de Faro, pelo judeu Samuel Gacon, “O Pentateuco” em hebraico no ano de 1485. Um dos quatro primeiros livros impresso em Portugal, em Leiria por Abraão D´Ortas foi o “Almanach perpetuum” do famoso Abraão Zacuto, este Almanaque contém as famosas tábuas solares e outras tabelas fundamentais para toda a navegação, permitindo a descoberta do Brasil e Índia, utilizadas por Pedro Alvares Cabral e Vasco da Gama.


Passemos á questão da língua portuguesa e Camões.

A primeira gramática portuguesa, a sua impressão ocorreu em 1536, com o título “Grammatica da Lingoagem Portuguesa”, tendo sido redigida por Fernão de Oliveira.


Fernão de Oliveira, nasceu em Aveiro, estudou desde os 9 anos, no Convento de S. Domingos em Évora, sendo transferido depois para o Convento da mesma Ordem religiosa. Aos 25 anos fugiu para Espanha, e quando voltou a Portugal, em 1543, foi ameaçado que iria ser denunciado ao Tribunal do Santo Ofício, por heresia, razão que o levou a refugiar-se em França.


Na França escreveu sobre a construção naval e guerra naval, que muito contribuíram para o desenvolvimento naval e expansão marítima portuguesa no século XVI. Foi também autor do primeiro texto em português sobre arquitetura naval.


Esteve preso nas masmorras do Santo Ofício de 1547 a 1550, tendo sido liberto em 1551, por ordem do Cardeal D. Henrique, com a condição de não se ausentar do país. Viveu até aos 74 anos, algo incomum para a época. Fernão Oliveira, tinha um espírito crítico e humanista, contribuiu imenso para o aperfeiçoamento da língua portuguesa, com o seu trabalho meritório da gramática.


No ano de 1540 surgiu a gramática de João Barros, chamado “o Grande”, o qual nasceu em Viseu em 1496, considerado o primeiro grande historiador português e autor da segunda obra, destinada a normatizar a língua portuguesa, tal como falada no seu tempo.

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Ainda em 1576, surgiu a obra “Ortografia da lingoa Portuguesa”, compilada pelo cronista da casa Real, Duarte Nunez de Leon, filho do prestigiado Professor de Medicina João Nunes, Médico hebreu. Sendo também de sua autoria “Origem da lingoa Portuguesa”, impressa em 1606. Duarte Nunez de Leon ou Duarte Nunes de Leão, foi Jurista, gramático, cronista e Historiador, nasceu em 1508 em Évora, faleceu em Lisboa no ano de 1608.


Também João Franco Barretto, formado em Direito Canónico, na Universidade de Coimbra, deu seu contributo escrevendo o livro “Ortografia da Lingua Portuguesa”, em 1671.


Antes de ter escrito essa obra, João Franco Barreto, tinha-se deslocado em 1641 a França, numa embaixada a Luís XIII, com o Monteiro mor e Embaixador em França D. Francisco de Melo, um dos primeiros 40 conjurados da Restauração da Independência de Portugal em 1640, a quem dedicou a obra de Ortografia da Língua Portuguesa.


Muito mais tarde Manoel Andrade de Fygueiredo, Mestre na Arte de escrever, da cidade de Lisboa Oriental e Ocidental, editou a obra literária com o título, “Nova Escola para aprender a ler, escrever e contar”, aprovada pelo Santo Ofício a 3.11.1719.Terminada que foi a fase de aprovação em 27.11.1719, a obra foi oferecida “A Augusta Magestade Do Senhor Dom João V”.

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Caligrafia de Manuel de Fygueiredo
Termino este artigo referindo o GRANDE poeta, denominado também “o príncipe do poetas castelhanos” Luís Vaz de Camões, descendente de Vasco Pires de Camões, trovador galego, guerreiro e fidalgo; autor da Epopeia “Os Lusíadas”, editada em 1572, obra única da literatura portuguesa. O célebre Autor, era detentor de inúmeros conhecimentos da história Universal, filosofia, mitologia grega, navegação, descobrimentos, rotas marítimas, cristianismo e história de Portugal, desde a sua génese.


O ilustre Poeta viveu na Corte de D. João III, por ser Homem de grandes conhecimentos e filho do Alcaide do Castelo de Alenquer. No entanto, por desentendimentos na corte, com um Guarda da Casa Real, foi julgado e condenado á prisão do Tronco em Lisboa. Mais tarde o Rei D. João III, “O Piedoso”, deu lhe carta de liberdade, com a condição de se afastar da “Pátria querida”, a qual Camões tanto enalteceu na sua epopeia. Seguiu como soldado nas Gales, viajou na frota de Fernão Álvares Cabral, filho de Pedro Alvares Cabral de Belmonte, em 1553, escrevendo parte da grande obra literária “Os Lusíadas”. Só voltou a Portugal depois do Rei D. João III falecer, sendo a sua obra publicado em 1572, pelo seu neto o Rei D. Sebastião I.


Viveu o final da sua vida de forma miserável, sem bens, o seu criado andou a pedir esmolas nas ruas e praças ricas de Lisboa, para sobreviverem, até que lhe foi concedido uma pensão de cerca de 370 escudos mensais, depois que foi publicado “Os Lusíadas”. Usufruiu poucos anos de tal pensão, pois veio a falecer a 10 de Junho de 1580, dia muito significativo para os portugueses, visto celebrarmos nesse dia o DIA DE PORTUGAL.


1975 – Camões, Os Lusíadas, Canto V, estrofe 3 (referem sua partida de Lisboa)
“ Já a vista, pouco e pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficavam,
Ficava o Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam.
Ficava-nos também a amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam.
E já depois que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu.”

Curiosamente, podemos verificar que a arte de escrever de Luís Vaz de Camões no Sec. XVI, coexistiu com Fernão de Oliveira, escritor da primeira gramática de português em 1536, com a gramática de João de Barros em 1540 e com Duarte Nunes de Leão, que escreveu a ortografia da língua portuguesa no ano de 1576, fazendo brilhar a época do Renascimento em Portugal.
Foi graças ao impagável esforço destes eruditos, que temos hoje uma gramática perfeita e perfeitamente capaz das melhores obras poéticas.