O Santuário da Senhora da Lapa, nas Terras do Demo e a nascente do Vouga Subindo a serra da Lapa encontramos a capela de Nossa Senhora da Lapa, construída já no século XVII pelos jesuítas. Mas o culto remonta ao século X, quando as investidas dos mouros obrigaram a população cristã a esconder uma imagem […]

O Santuário da Senhora da Lapa, nas Terras do Demo e a nascente do Vouga

Subindo a serra da Lapa encontramos a capela de Nossa Senhora da Lapa, construída já no século XVII pelos jesuítas. Mas o culto remonta ao século X, quando as investidas dos mouros obrigaram a população cristã a esconder uma imagem da Virgem numa gruta ou “lapa”.

Era, segundo o Abade Moreira “grandioso, com escadaria cavada na rocha viva que alto arco sobrepuja”. A igreja compõe-se de duas partes que se completam: o corpo e a capela-mor. Aquilino Ribeiro, fez os primeiros estudos no seu colégio religioso, que imortalizou, bem como às suas romarias, na obra Terras do Demo.

As fundações do Santuário da Senhora da Lapa estão totalmente erguidas sobre uma laje de granito de Ariz, o mesmo granito onde se anicha a imagem de Nossa Senhora da Lapa.

Santuário da Lapa. (LAC)

Santuário da Lapa. (LAC)

O santuário guarda na capela-mor o rochedo milagroso com a imagem da Senhora da Lapa. No seu romance, Aquilino testemunha a crença de que o percurso entre rochas, por detrás do altar, só deixa passar quem não cometeu pecados graves. Merecem destaque a cenografia dos altares da Crucificação e da Morte de S. José que comove até lágrimas, a atração pelo Presépio implantado no rochedo. Tal como o altar da Virgem Adormecida, a Casa dos Milagres, cheia de quadros pintados, balanças pesando meninos de trigo, e o terrível “lagarto da Lapa”, preso ao teto por uma cadeia de ferro, fonte de outros contos e histórias do imaginário popular. O altar foi erguido no local onde, segundo a lenda, a pastora Joana encontrou a imagem escondida pelas religiosas e ali se venera há cerca de quatro séculos.

O presépio do santuário. (LAC)

O presépio do santuário. (LAC)

A lenda da pastora Joana

Era uma vez uma menina pastora, muda, que encontrou uma imagem da Virgem nos montes e levou-a para casa. A mãe não ligou à estátua e lançou-a para a lareira. Nesse instante, a menina começou milagrosamente a falar e pediu à mãe que não queimasse a imagem. Deste modo se explica que a estátua da Virgem que está no santuário apresente marcas de queimaduras.

Rebanho de cabras em Furtado. (LAC)

Rebanho de cabras em Furtado. (LAC)

O Lagarto do Santuário da Lapa

Outra história ligada ao santuário conta que uma menina se entretinha a fiar lã enquanto pastoreava os rebanhos, quando foi atacada por um enorme lagarto que aterrorizava a região. Para se salvar, invocou a Virgem enquanto atirou os novelos de lã para a boca do monstro que assim ficou engasgado. Arrastou-o então pela ponta de um fio até casa, onde foi morto e empalhado.

Na realidade, entre as dádivas de peregrinos, há no teto do santuário um enorme e estranho “lagarto”. Segundo consta, era um enorme crocodilo que teria vindo da Índia ou do Brasil. Reza a história que um emigrante nascido na zona teria sido atacado por um grande caimão. Nesse momento, de mortal aflição, o homem evocou a Senhora da Lapa para que lhe desse forças para matar o crocodilo, tendo-o conseguido. Em sinal de reconhecimento e gratidão pela ajuda, trouxe a carapaça dorsal e a pele e com elas reconstitui o “bicho”, que foi oferecido ao santuário como ex-voto. Com o passar dos anos a traça comeu a pele enquanto a outra parte se manteve. Mais tarde alguém o restaurou, cobrindo a carapaça com uma tela oleada.

O "Lagarto" do Santuário da Lapa. (LAC)

O “Lagarto” do Santuário da Lapa. (LAC)

A existência do “sardão” deu origem a outra lenda popular. Ela conta que uma mulher que vinha da aldeia da Forca (hoje Santo Estevão), a caminho de Quintela com novelos de linho para tecer, a meio da encosta da serra num local que tem o nome “Cova do Lagarto”, viu-se atacada por um enorme sardão que abriu a goela para a comer. A mulher, aflita, encomendou-se à Senhora da Lapa e logo lhe veio a ideia de lançar ao monstro os novelos que levava no saco ficando com as pontas dos fios seguras nas mãos. Engolidos os novelos, o bicho engasgou-se e a mulher foi puxando os fios, até sufocar o animal. Em sinal de gratidão, ofereceu a sua pele ao Santuário da Lapa.