PP/PR 19 – PLANALTO DE VIDEMONTE Enquadramento Geral – Percurso de média distância desenvolvendo- se em zona plana (planalto) entre as cotas 1.100 e 1.200 metros de altitude. Acesso rodoviário ao local de partida – Depois de alcançar Videmonte vindo da Guarda pela EN338 via Trinta, ou vindo por Celorico da Beira, pela EM554 via […]

PP/PR 19 – PLANALTO DE VIDEMONTE

PR-LAC-05

Enquadramento Geral – Percurso de média distância desenvolvendo- se em zona plana (planalto) entre as cotas 1.100 e 1.200 metros de altitude.

Acesso rodoviário ao local de partida – Depois de alcançar Videmonte vindo da Guarda pela EN338 via Trinta, ou vindo por Celorico da Beira, pela EM554 via Prados, dirija-se ao largo principal de Videmonte, onde encontrará além da igreja e do Centro Cultural de Videmonte a Casa Abrigo do PNSE e onde pode sentir o calor do acolhimento desta aldeia de montanha.

Extensão aproximada – 14 km

Duração aproximada – 3 h e 30 min.

Grau de Dificuldade – Fácil

Tipo de percurso – Circular

Apoios – Painel informativo no local de partida, junto à Casa Abrigo do PNSE e balizado com a marcação dos símbolos convencionais dos percursos pedestres.

Nota prévia – Se ainda não está habituado a caminhar, sugerimos- lhe que faça com a sua viatura a aproximação aos ponto de contacto com as vias rodoviárias e poderá escolher pequenos troços de caminhada que não duram mais de uma hora.

Percurso – A partir do largo principal de Videmonte, dirija-se à saída para Prados e percorra na EM616 para esta outra aldeia de montanha cerca de 4,0 km até encontrar à esquerda um largo estradão que o levará à Penha de Prados, sobre um granito porfiróide biotítico, talvez um antigo castro pré-histórico. Admire neste miradouro o Vale do Mondego:
O miradouro da Penha de Prados ocorre sobre um imponente Tor granítico a 1.152 m de altitude, dominando uma vasta região deprimida que ronda a cota dos 500 m, por onde corre o Rio Mondego. Neste local o granito apresenta-se porfiróide biotítico de grão médio, idêntico ao granito em que assenta a povoação e Castelo de Linhares situado a SW. Repare-se que a serra se eleva desta plataforma deprimida ao longo da grande falha Seia-Lousã de direcção NE/SW que marca o início da elevação a norte da Serra da Estrela. Este local é igualmente, atravessado pela falha Vilariça-Manteigas de direção NNE/ SSW, que é bem evidenciada na paisagem pelo alinhamento dos vales das ribeiras que atravessam a região. O próprio Rio Mondego apresenta o seu leito marcado por alinhamentos com estas duas direções, evidenciando controlo tectónico do seu traçado. Ao longe, a povoação de Fornos de Algodres, situada a meia encosta na vertente oposta, marca igualmente o controlo tectónico na morfologia da região.

Pastor de "mondegueiras". Estrada de Videmonte - Quinta da Taberna. Primavera. (LAC)

Pastor de “mondegueiras”. Estrada de Videmonte – Quinta da Taberna. Primavera. (LAC)

Ramo de armérias. Primavera. (JC)

Ramo de armérias. Primavera. (JC)

Subimos ao seu cume entre tufos de armérias e narcisos.

Estamos na transição do andar basal para o andar intermédio da Serra, numa paisagem profundamente humanizada, onde pequenos bosques de carvalho-negral, Quercus pyrenaica, como os situados a norte de Linhares e a nordeste de Prados, coexistem com manchas de carvalho-roble, Quercus robur e antiquíssimos soutos de castanheiros, Castanea sativa. Ao longo do Mondego e dos seus afluentes, galerias de salgueiros, Salix salvifolia e amieiros, Alnus glutinosa, ensombram as margens. Dentro deles ouve-se o canto do papa-figos, Oriolus oriolus. Nos pequenos regatos, nos ribeiros e no rio, uma miríade de libelinhas atestam a pureza das águas, como a Libellula quadrimaculata e a Cordulogaster boltonii. Aqui ganham vida as crenças animistas dos lusitanos, que acreditavam na permanência das almas no sopro dos ventos, surgem em cada recanto encruzilhadas, nascentes e cumeadas que o cristianismo sacralizou com cruzes e alminhas, ali onde as modernas tecnologias das energias renováveis fizeram erguer um moderno parque eólico. Mantenha-se no CF e após deixar para trás e à sua esquerda o marco geodésico do Seixo (1.256 m) inflita à sua esquerda até encontrar cruzamento de caminhos vicinais, onde deve seguir em frente na direção do marco geodésico de 1ª ordem, Cabeça Alta (1.287 m), já em terrenos do complexo de gnaisses, rocha metamórfica com estrutura bandeada e migmatitos, rochas na fronteira ígneo/metamorfico. Aqui se encontram os prados fabricados pelo Homem, adaptados à secura das encostas, onde predomina o baracejo, Stipa gigantea, de longas hastes verdes e cabeleira castanho-claro. Prossiga em frente no cruzamento seguinte até alcançar novo caminho florestal, mais amplo, conhecido como estrada do planalto de Videmonte. Virando para Leste percorrerá cerca de metade do planalto e estará de regresso a Videmonte, por onde entra pelo lado do Campo de Futebol.

Cordulogaster boltoni immaculifrons. (JC)

Cordulogaster boltoni immaculifrons. (JC)

O planalto de Videmonte neste local é constituído por litologias bastante variadas que correspondem a gnaisses e migmatitos. Os migmatitos são rochas metamórficas de alto grau de metamorfismo, tendo sido atingidas temperaturas que originaram fusão parcial da rocha metassedimentar inicial, com neoformação de magma granítico. Este começa a concentrarse em pequenos níveis quartzo-feldspaticos intercalados nos restantes níveis de xistos biotíticos que resistiram à fusão. Observam-se por vezes nos afloramentos rochosos e mesmo em blocos soltos, interessantes estruturas dobradas (dobras ptigmaticas) neste tipo de litologias. Este planalto, a cerca de 1.200 m de altitude, corresponde a uma antiga superfície de aplanamento que se estabeleceu durante um longo período, que teve o seu retoque final no Tortoniano (há cerca de 10 Ma – milhões de anos). Movimentos de compressão relacionados com a Orogenia Alpina provocaram a movimentação ao longo das falhas com elevação de blocos que constituem a Serra da Estrela. O planalto de Videmonte corresponde a um desses blocos soerguidos, preservando-se ainda o aplanamento primitivo.

A paisagem agrícola é agora influenciada pelo clima temperado, favorável à rotatividade das culturas de sequeiro, com os matos a serem utilizados para cama dos animais e estrume, campos de centeio, terras lavradas, em pousio e pastagens, muitos já abandonados e florestados, enquanto nas encostas do Vale do Mondego predomina a vegetação mediterrânica. Ali se encontram os lameiros de secadal e os irrigados com água de lima, regatos finíssimos que repartem a água como uma rede que impede o gelo de queimar a erva no inverno e a protege da secura no verão, ceifada após os ciclos de crescimento para alimento dos animais. Nestes prados, que resultam da ação dos pastores ancestrais, com o desbaste e o fogo controlado, constituídos por gramíneas e herbáceas anuais, bianuais ou vivazes, também chamados lameiros de fenos, os rebanhos de ovelhas e algumas cabras pastam durante todo o ano. Constituídos por plantas terófitas, que esperam pela primavera e o início do verão para lançar as suas sementes, aguardam em dormência para nascer em pleno inverno e cobrir os campos da cor verde. Com a chegada do calor enchemse de flores e produzem as suas sementes antes da secura do Estio: os tapetes de Sedum arenarium dão-lhe a cor vermelha alaranjada; as campainhas, Campanula lusitanica transmitemlhe um tom claro de violeta; a bole-bole-maior, Briza maxima agita-se como um cacho de pequenas cápsulas verde-claro; a Xolantha guttata tem uma corola amarela de cinco pétalas finíssimas e transparentes. Nestes novos biótopos antrópicos, que o trabalho humano criou, a grande diversidade de plantas atrai inúmeros insetos e as aves que deles se alimentam, criando também biodiversidade. Na primavera encontram-se inúmeras borboletas, como a Aricia agestis, reconhecível pelo debruado laranja na extremidade das asas, ou a borboleta-limão, Gonepteryx rhamni. Em dias limpos e quentes, escuta-se o canto das cigarras e podem ver-se nos céus o tartaranhão -caçador, Circus pygargus, a águia-cobreira Circaetus gallicus, o açor, Accipiter gentilis, o milhafre-preto, Milvus migrans, o milhafre-real, Milvus milvus, o falcão-peregrino, Falco peregrinus, o gavião-da-europa, Accipiter nisus, o penereiro-vulgar, Falco tinnunculus e a ógea, Falco subbuteo.

Árvores da Serra da Estrela. (AC)

Árvores da Serra da Estrela. (AC)

Aves de Rapina. (AC)

Aves de Rapina. (AC)