Viriato e Numância – História e Mito” Os trabalhos científicos de arqueologia retiraram Viriato dos altos cumes e desfiladeiros da Serra da Estrela e colocaram- no e às suas tribos lusitanas nas áreas periféricas que se estendem por terras da Beira Alta e do Vale do Douro, até Zamora (cujo escudo municipal ostenta as Vírias), […]

Viriato e Numância – História e Mito”

Os trabalhos científicos de arqueologia retiraram Viriato dos altos cumes e desfiladeiros da Serra da Estrela e colocaram- no e às suas tribos lusitanas nas áreas periféricas que se estendem por terras da Beira Alta e do Vale do Douro, até Zamora (cujo escudo municipal ostenta as Vírias), das campinas de Idanha à Extremadura Espanhola. Afirma Jorge Alarcão que “sustentaram guerra indómita contra os Romanos, não na defesa de uma pátria, que não tinham, nem de terras férteis, porque eram pobres as que possuíam, mas no resguardo da liberdade e na recusa da sujeição.” Nesta medida, a história e a lenda da Numância das Terras Sorianas, berço do Douro, que resistiu às legiões e teria preferido imolar-se pelo fogo a aceitar a submissão, constituem uma herança comum e atual dos povos primitivos da Hispânia romana. Uma ideologia social que privilegiava a bravura e o destemor mais do que a riqueza ou a comodidade era o ideário das antigas comunidades pastoris da região da Estrela. Escreve Adriano Vasco Rodrigues, que percorreu os caminhos da transumância: “…concluímos que a principal fonte de abastecimento dos Lusitanos foi o pastoreio e que as guerras com os Romanos resultaram do choque de dois géneros de vida baseados em economias diferentes. Por um lado, uma economia latifundiária, essencialmente cerealífera, defendida pelos Romanos, que buscavam espaço para a realizar. Por outro lado, uma economia pecuária lusitana, transumante, que precisava de espaço para os pastos…”

A queda do império trouxe aos reinos da península novos povos e uma magnífica Idade Média iluminada pela civilização árabe e a ação de reis sábios, como Afonso X, que organizou a transumância, na Meseta Ibérica e D. Dinis, o povoador. Devemos-lhe uma herança de paz e cooperação entre povos e culturas diferentes, e a permanência da “Mesta”, um processo multissecular que nos legou grandes canadas, veredas, cordeles e “portos de mal passar”, que, pelo menos até ao século XVIII, atravessavam Portugal e Espanha, construindo uma paisagem cultural – com lameiras, socalcos, prados, searas de centeio e campos de pousio, que os pastores e agricultores da montanha legaram, hoje, ao turismo cultural, de natureza e em espaço rural.

80 anos de pastor. (LAC)

80 anos de pastor. (LAC)

Viriato de Zamora. (LAC)

Viriato de Zamora. (LAC)

O Museu de Arte Moderna Abel Manta, uma colecção de importância nacional

“PÓRTICO”
“Quando estou na casa da Soutosa e me acontece chegar às janelas viradas ao Sul, reparo que os horizontes, que se abrem ante os meus olhos tal um leque japonês com paisagem de montanha, nua, fluida e torturada, abrangem Gouveia, a sua terra.

(…)O Abel Manta é destes, deve ter sido destes que do alto receberam o condão divino: pintar homens, ruas, campos, naturezas mortas, neves, as tão caprichosas neves da Serra, assim cumprindo a sua missão.

(…) Fez ainda o meu retrato em cuja fisionomia o seu pincel parece haver interpretado a dúvida benigna, mas positiva, que traduz a minha atitude perante a vida, a arte, os deuses, os piedosos ludíbrios de escritor. O Abel Manta pintou um céptico civilizado, esse que me prevaleço de ser, em prejuízo do campónio de tamancos ou de casco bicúspide de fauno, ocupado quer com os calandros, quer com as hamadríades da gleba, em que me paramentavam reinadiamente para o folclore regional.

(…)O Manta, além do mais, é uma natureza tão rica como generosa…”

Aquilino Ribeiro 1951

Reunindo a obra do pintor Abel Manta, de tendência figurativa e naturalista, onde se destacam os retratos e as paisagens urbanas, este museu tem uma outra mais-valia que o destaca no panorama nacional: uma vasta coleção de desenho, gravura, pintura e escultura doada por João Abel Manta, representativa das diversas gerações dos modernistas portugueses, das suas tendências e percurso criador, que atravessa o século XX até à década de 80. De Francisco Franco e Dórdio Gomes, a Júlio Resende, Sá Nogueira, Menez, João Vieira, Paula Rego, Milly Possoz e Joaquim Rodrigo, a António Sena e António Palolo. Passando pela obra singular de Carlos Botelho, Bernardo Marques, António Duarte e Frederico Kradolfe, pelos percursores do neo-realismo e do surrealismo, Júlio Pomar, Manuel Ribeiro Pavia, Rogério Ribeiro e Vespeira e António Dacosta. Até aos criadores contemporâneos, filiados nas tendências do abstracionismo ou no retorno à figuração, Manuel Batista, Fernando Conduto, Maria Velez, Zulmiro de Carvalho, Gil Teixeira Lopes e outras obras singulares como as de Sarah Afonso, Clementina de Moura e Luís Dordil.

A Arte Moderna e a Arte Antiga coexistem nos museus, monumentos e igrejas da Serra da Estrela.

Museu Abel Manta. (LAC)

Museu Abel Manta. (LAC)