PP/PR 10 – RIO ALVA Enquadramento Geral – Desenvolve-se na encosta SW do PNSE, no vale do rio Alva. Acesso rodoviário ao local de partida – Em S. Romão, nas proximidades de Seia, tome a direção da Srª do Desterro/Torre pela EM (estrada municipal), da Srª do Desterro, local de romaria e de singular enquadramento […]

PP/PR 10 – RIO ALVA

PR-LAC-03

Enquadramento Geral – Desenvolve-se na encosta SW do PNSE, no vale do rio Alva.

Acesso rodoviário ao local de partida – Em S. Romão, nas proximidades de Seia, tome a direção da Srª do Desterro/Torre pela EM (estrada municipal), da Srª do Desterro, local de romaria e de singular enquadramento paisagístico, onde encontrará estacionamento que serve também uma praia fluvial a jusante de um açude no Rio Alva.

Extensão aproximada – 12,0 km

Duração aproximada – 4h 30 min.

Grau de Dificuldade – Médio

Tipo de percurso – Circular com desníveis moderados

Apoios – Painel informativo no local de partida e balizamento com a marcação dos símbolos convencionais dos percursos pedestres.

Nota prévia – Se ainda não está habituado a caminhar, sugerimos- lhe que faça com a sua viatura a aproximação aos pontos de contacto com as vias rodoviárias e poderá escolher pequenos troços de caminhada que não duram mais de uma hora.

Percurso – Comece por admirar o local de partida e registe para além de uma praia fluvial a jusante de um açude no rio Alva, de singular enquadramento paisagístico, em especial se o coroamento do açude estiver a ser galgado por lâmina de água, o curioso e abundante número de capelas e árvores monumentais de carvalho-roble, Quercus robur; não confundir com Quercus rubra; carvalho-vermelho-americano. Terão estes espécimens sido conservados como árvores sagradas ou terão sido meramente salvas por se encontrar abrigo da chuva e do sol debaixo das suas copas?

Senhora do Desterro. (JC)

Senhora do Desterro. (JC)

O gaio-comum, Garrulus glandarius, muitas vezes visto como um incómodo, coleciona bolotas para as ter mais tarde no inverno. Ele esconde-as na terra e no inverno recolhe-as. No entanto, o pássaro não encontra algumas dessas bolotas, e na primavera elas podem desenvolver-se em pequenas plântulas e posteriormente em árvores adultas. Deste modo, o Gaio ajuda na expansão das florestas de carvalhos.

Dirija-se à Cabeça da Velha e 20 m antes de chegar a este notável bloco granítico antropomórfico e um dos ex-libris da Serra da Estrela, corte à sua direita para caminho florestal – CF junto a casa ardida de boa pedra de granito, hoje quase encoberta pela vegetação. Siga com rigor estas orientações, pois só um dos caminhos o levará margem direita do Alva acima, junto ao Cabeço dos Corvos, marco geodésico que lhe servirá de orientação.

Passados 400 m do início do CF, vire à sua direita e prossiga mais 2,8 km antes de decidir, em novo cruzamento, prosseguir a subida, adiando para mais tarde uma reconfortante descida. Não vai deixar este CF até chegar próximo da Srª do Espinheiro, local onde conflui um outro CF proveniente do Sabugueiro que irá tomar para alcançar o açude no rio Alva um pouco a jusante desta povoação. Este açude é de abastecimento do canal que, reforçado com os caudais das centrais de Sabugueiro I e Sabugueiro II, irá abastecer a câmara de carga da central da Srª do Desterro.

Gaio. Garrulus glandarius. (PR)

Gaio. Garrulus glandarius. (PR)

Tome então o referido CF para o Sabugueiro e praticamente no seu termo, antes de se tornar trilho pedonal estará no perfil do açude sobre o rio Alva. Procure encontrar acesso a corta mato e atravesse no açude por sobre o paredão, caso este não esteja a debitar caudal pelo seu coroamento. Não é possível e aqui expressa e formalmente se desaconselha o atravessamento, caso haja débito por mínimo que seja, pois a superfície com água será perigosamente escorregadia. Caso se esteja a verificar descarga, a alternativa é subir ao Sabugueiro pelo trilho pedonal que continua o caminho e regressar à quota do açude por caminho na outra margem que se toma já fora da povoação quando se começa a subir para a Torre pela EN339.

Na estrada para o Sabugueiro predominam: a giesta-branca, Cytisus multiflorus e a florida giesteira-da-serra-amarelada, Cytisus striatus. As espécies de giestas eram normalmente cortadas por agricultores e usadas de diversas formas. Se forem misturadas com estrume do estábulo, podem ser usadas em terrenos aráveis (nutrientes para o centeio). Também podem ser usadas como forragem ou como combustível. As encostas mais húmidas são por vezes cobertas com a giesta-pioneira, Genista florida, a espécie de giesta que mais cresce, em altura, nesta área (até 5 m).

Os locais de pastagem incluem pastos terófitos, pastos perenes (maioritariamente dominados por saudades, Agrostis castellana; ou ervas-molares, Holcus mollis), terras de pousio, campos de restolho e, durante a estação do inverno, até campos de centeio, mas, no decorrer da primavera, nascem jovens rebentos de centeio que são deixados tranquilos para poderem atingir a maturidade.

Rio Alva. Poldras. (JC)

Rio Alva. Poldras. (JC)

Uma vez na outra margem, aprecie o encanto de um passeio na companhia de água corrente muito calma que se desenvolve em paralelo com os canais de abastecimento da central (é desaconselhável que este tipo de canais tenham inclinações superiores a 2%), ao longo de quase 2,5 km até à câmara de carga da Central da Srª do Desterro.

Aí chegado, passe para a margem esquerda das condutas forçadas que daí partem encosta abaixo. Durante cerca de 250 mts. acompanhe as ditas condutas pelo trilho a elas adjacente. Encontrará então trilho à esquerda que o levará à Casa das Mimosas e, depois desta, CF até ao local de partida na Srª do Desterro.

PP/PR 10 A – RIO COBRAL E RIO SEIA

PR-10C_RCobral

Não deixe de fazer uma incursão pedestre ao longo das margens do Rio Cobral, que passa cerca de 2 km a Norte de Oliveira do Hospital, e do Rio Seia (um pouco mais distante), no qual o primeiro desagua antes deste despejar as águas no Rio Mondego. Além das paisagens, se realizar o percurso nos meses de fevereiro/março, com um pouco de sorte e/ou persistência habilita-se a desfrutar de uma das maravilhas naturais que ainda aí ocorre – os campos de narcisos selvagens em flor.

Narcissus asturiensis. (JC)

Narcissus asturiensis. (JC)

Sentados junto a este paraíso podemos deixar o nosso espírito devanear pelas intrincadas histórias da mitologia grega. Narciso, filho do deusrio Cesifo e da ninfa Liríope, nasceu uma criança lindíssima, o que foi, desde logo, preocupação para a sua mãe pois a beleza dos mortais era interpretada como um desafio aos deuses. A mãe, assustada com tamanha formosura, levou o menino ao mais renomado adivinho de então, Tirésias. Este terá dito que a criança poderia viver muito tempo se não se visse a si próprio. Todas as ninfas e jovens que o conheceram apaixonaram-se por ele. Narciso, porém, a nenhuma se inclinava e mantinha-se frio e indiferente. Essa atitude levou à desgraça da ninfa Eco que vagueava pela floresta, depois de Zeus, aborrecido com a sua tagarelice, lhe ter tirado as palavras e condenado, apenas, a repetir as dos outros. Um dia, no verão, depois de uma caçada, Narciso aproximou-se da nascente límpida e pura que dava origem ao lago Danacon, em Téspias, para matar a sede, e viu a sua imagem no espelho de água. Apaixonou-se por si mesmo, nunca mais saindo da margem, e ali morreu. Cumprira-se a profecia do cego Tirésias e surgia aqui o conceito de narcisismo. Morto, afundou-se no rio e o corpo desapareceu restando, no local, apenas uma flor amarela – o narciso. Para os mais narcisistas, ou mais descuidados, relembramos que o narciso-do-mondego (Narcissus scaberulus) é uma espécie rara, com colheita na natureza proíbida, o que aliás também acontece com todas as outras espécies de narcisos espontâneos em Portugal, cuja distribuição mundial se restringe a um troço de cerca de 30 km ao longo das margens do Mondego e às margens destes seus afluentes. A importância de proteger esta espécie esteve na génese do Sítio da Rede Natura 2000 – PTCON0027, maioritariamente localizado no concelho de Oliveira do Hospital, mas com extensão a Seia, Nelas e Carregal do Sal.

Vipera latastei. Víbora-cornuda. (JC)

Vipera latastei. Víbora-cornuda. (JC)