A Transumância. Entre a Estrela, Alto Douro, Montemuro, o Campo de Coimbra, Beira Baixa e Alentejo. E os Campos e as Serras de Castela. “…São as «invernadas» …,para o vale do rio Douro, indo alguns até às encostas do Marão, ao Pinhão e ao Tua, onde encontram a folha da vinha como alimento, além das […]

A Transumância. Entre a Estrela, Alto Douro, Montemuro, o Campo de Coimbra, Beira Baixa e Alentejo. E os Campos e as Serras de Castela.

“…São as «invernadas» …,para o vale do rio Douro, indo alguns até às encostas do Marão, ao Pinhão e ao Tua, onde encontram a folha da vinha como alimento, além das ervas dos caminhos e dos terrenos maninhos ou terras de pousio, pertencentes ás quintas…”

Jorge Dias

A colonização romana da península e o desenvolvimento das villae, contribuiu para a expansão da criação de gado, mas no que respeita aos rebanhos de ovelhas parece que eles serviram sobretudo a fiação da lã, pois os romanos apreciavam mais o queijo de vaca. No século VIII d.C. os povos originários do Norte de África trouxeram consigo uma cultura valorizadora da pastorícia e da função social dos pastores. As terras mais pobres da Península foram ocupadas pelos berberes, povo nómada e transumante entre as serras da Estrela ou de Gredos, no Verão, e o Alentejo, no Inverno, que trouxe consigo a raça merina branca. As guerras de reconquista cristã e as disputas feudais, ermaram muitas destas zonas, mas a paz prolongada entre os reinos de Castilla y León e Portugal, sobretudo pela ação de Afonso X e D. Dinis, trouxeram de novo os rebanhos e pastores aos caminhos da transumância.

A maioria da vegetação na área da Serra da Estrela está relacionada diretamente ou indiretamente com a tradição da pastorícia.

Desde a Alta Idade Média, entre o outono e a primavera, que os pastores migravam longas distâncias (transumância) até à bacia do Douro (a norte), a Idanha (a sudeste) e mesmo até ao Alentejo (a sul). Na Primavera, regressavam com os seus rebanhos de ovelhas e algumas cabras, através dos caminhos tradicionais (canadas), até às pastagens de montanha da Serra da Estrela.

Ali predominam os cervunais, prados pobres em nutrientes que ocupam solos orgânicos, dispondo-se em pequenas depressões e vales abertos, como é a Nave de Santo António, onde domina o cervum, Nardus stricta, sendo os dos andares intermédios mais ricos em espécies, coexistindo com os matos e lameiros, secos e irrigados, onde os pastores ceifam a erva crescida.

Nas menores altitudes, o pastoreio era feito, como atualmente, ao longo de todo o ano: no inverno os rebanhos ficam nos vales e planaltos intermédios, e no verão sobem aos pastos elevados da Serra da Estrela.

A tradição de pastorícia deu origem a duas raças autóctones de ovelhas, a Mondegueira e a Bordaleira, esta, a melhor para a produção de leite. Para fabricar o queijo da Serra da Estrela adiciona-se ao leite um coalho vegetal obtido a partir do cardo-do-coalho (Cynara cardunculus), cuja enzima a cardosina (proveniente do cardo) provoca a precipitação da caseína do leite e forma a massa do queijo.

Nave- e Sto. António. Outouno. (JC)

Nave  de Sto. António. Outono. (JC)

O cão pastor da Serra da Estrela é um animal de raça criado para guardar os rebanhos e defendê-los dos ataques dos lobos.

Canil de Manteigas. (LAC)

Canil de Manteigas. (LAC)

Com o estrume das reses (deixado mas terras onde pernoitavam) os pastores retribuíam, adubando as vinhas e os campos de cereais, oliveiras e amendoais, com a consabida estrumação a bardo ou “a rabo de ovelha”.

Constituíam uma parte de um multissecular processo que, pelo menos até ao século XVIII, atravessava Portugal e Espanha.

Antiga fábrica de Lanifícios. Covilhã. (LAC)

Antiga fábrica de Lanifícios. Covilhã. (LAC)

A Igreja Moçárabe de Lourosa, na Rota Europeia da Moura Encantada.

A igreja paroquial, peça arquitetónica de influência moçárabe, é dedicada a S. Pedro e foi integrada na Rota da Moura Encantada, roteiro de percursos europeus baseados na presença árabe no continente. Numa pedra solta, está gravado «ERA dccccL», que corresponde ao ano de 912. A Igreja de Lourosa constitui um exemplar único, a nível nacional, da arquitetura do tipo moçárabe e por isso foi classificada como Monumento Nacional. As épocas das construções podem-se resumir deste modo: cabeceira moderna, transepto moçárabe, naves moçárabes na parte baixa, que é a das arcadas, baixa idade média nos muros superiores aos arcos, átrio de traçado moçárabe, onde se expõem antigas pedras trabalhadas. Os visitantes, se encontrarem as portas do templo fechadas, devem tocar o sino do campanário, acessível por uma longa corda, mas apenas duas vezes: logo aparecerá a Tia China, guardiã e guia popular da igreja, notável exemplo de devotamento à cultura e ao serviço público.

Interior da igreja. (LAC)

Interior da igreja. (LAC)