PP/PR 11 – CIRCULAR DO MACIÇO SUPERIOR / LAGOA COMPRIDA Enquadramento Geral – Desenvolve-se na Reserva Biogenética do PNSE, na zona planáltica do maciço superior da Serra da Estrela, com partida do Vale do Rossim em direção à Lagoa Comprida, com passagem na ida e no regresso por sete das barragens que de alguma forma […]

PP/PR 11 – CIRCULAR DO MACIÇO SUPERIOR / LAGOA COMPRIDA

PR-LAC-02

Enquadramento Geral – Desenvolve-se na Reserva Biogenética do PNSE, na zona planáltica do maciço superior da Serra da Estrela, com partida do Vale do Rossim em direção à Lagoa Comprida, com passagem na ida e no regresso por sete das barragens que de alguma forma estão, ou estiveram, associadas ao importante aproveitamento hidroelétrico da Lagoa Comprida.

Acesso rodoviário ao local de partida – Praticamente a meio caminho entre Manteigas e Gouveia na EN232, encontrará após a nascente do Mondego (Mondeguinho), um ramal que por estrada municipal o levará ao Vale do Rossim e que circundando a barragem pelo lado norte lhe permite aceder também à estância de montanha das Penhas Douradas, de que resulta que o acesso ao local de partida pode ser também pelas Penhas Douradas.

Extensão aproximada – 20,0 km

Duração aproximada – 8h

Grau de Dificuldade – Difícil

Tipo de percurso – Circular e extenso

Apoios – Painel informativo no local de partida e balizamento com a marcação dos símbolos convencionais dos percursos pedestres.

Nota prévia – Se ainda não está habituado a caminhar, sugerimos- lhe que faça com a sua viatura a aproximação aos pontos de contacto com as vias rodoviárias e poderá escolher pequenos troços de caminhada que não duram mais de uma hora.

Percurso
– Logo à partida junto do paredão da Barragem do Vale do Rossim, deverá tomar a estrada que foi aberta para a construção da Barragem do Lagoacho onde, logo após atravessar a linha de água, encontrará a indicação de que entrou na Reserva Biogenética e deve tomar o caminho da direita. Aqui encontram proteção o raposo, Vulpes vulpes e a perdiz, Alectoris rufa e o javali, Sus scrofa. No ar paira o falcão-peregrino, Falco peregrinus, o ógea, Falco subbuteo e o peneireirovulgar, Falco tinnunculus que é mais comum; a águia-cobreira, Circaëtus gallicus e a águia-de-asa-redonda, Buteo buteo. Uma imensa variedade de líquenes, Usnea sp., atesta a pureza do ar.

Comunidades lacustres. (LAC)(AC)

Comunidades lacustres. (LAC)(AC)

Por conduta subterrânea está assegurado o transvaze entre as barragens do Vale do Rossim e do Lagoacho. A bacia hidrográfica desta é algo de impressionante. A barragem foi construída neste local aproveitando a existência de um covão glaciário. A montante observam-se abruptos sucessivos que causam uma sequência de ressaltos nas vertentes, originados pelo glaciar que arrancou blocos desses locais, exemplo do efeito denominado “quarrying”, desalojamento. A construção da barragem do Lagoacho causou o desaparecimento de um pequeno núcleo de teixos, Taxus baccata, espécie, muito rara em Portugal. A sua quase extinção fica a dever-se a um longo processo histórico: no passado, pela utilização da sua madeira, dura e flexível, para fabricar as armas dos arqueiros e, modernamente, como resultado da caça excessiva aos pombos bravos, que eram os seus principais semeadores. O teixo produz uma semente, altamente venenosa, envolvida por um arilo que lembra uma cereja vermelha, mas, digerindo rapidamente a polpa e desfazendo com os ácidos do estômago a sua película fina, a semente expelida pela cloaca da ave fica em condições de germinar. Uma nova ameaça surgiu com a descoberta das propriedades anti-cancerígenas e anti-envelhecimento de uma das substâncias desta semente – o taxol – mas a sua síntese química permitiu superá-la, alertando-nos uma vez mais para a necessidade de preservar todas as espécies, mesmo aquelas que aparentemente não são úteis e essenciais à conservação da vida humana.

A jusante pode admirar-se o Covão do Urso um óptimo exemplo de um vale glaciário em forma de “U”, com uma espetacular moreia lateral que se desenvolve no topo da vertente NE. Trata-se da maior moreia lateral da Serra da Estrela com cerca de 3 km.

Crocus carpetanus. (LAC)(JC)

Crocus carpetanus. (LAC)(JC)

Atravessada a barragem, haverá que alcançar a estrada que do outro lado do Covão, também ela praticamente de nível, fará a ligação à EN339. Esta inicia-se junto à saída do túnel que vindo do Lagoacho alimenta o canal que irá acompanhar. É curioso ouvir o rugido que vindo das entranhas da Serra provoca o importante caudal que habitualmente alimenta o canal. Percorrido este canal e chegado à câmara de carga da central hidroelétrica do Sabugueiro II, no local onde se cruza com a conduta forçada que vem da câmara de carga da central hidroelétrica do Sabugueiro I deverá atravessar para a margem esquerda da conduta e na berma da EN339, imediatamente antes do segundo poste de eletricidade, encontrar o caminho mais adequado para vencer o desnível que o levará até à referida câmara de carga. Suba ao lado de cerca de 300 m de conduta e se não quiser pisar mato até ao topo, encontrará trilho à direita que o levará à estrada de acesso à câmara de carga. Aí chegado percorra o canal de adução que o leva até à Lagoa Comprida com passagem pela barragem do Covão do Forno e panorâmica sobre a Barragem do Covão do Curral e do Vale Glaciário do Covão Grande, setor a montante do Vale da Caniça.

Barragem do Covão do Forno. (JC)

Barragem do Covão do Forno. (JC)

Este canal de adução encontra-se parcialmente capeado como medida de prevenção de acidentes e de minimização de mortalidade de fauna selvagem. Os canais de adução “abertos”, para além de constituírem uma barreira para a dispersão de muitas espécies selvagens, representam uma armadilha mortal para muitos animais. Aprecie os afloramentos de rocha nua e polida, fruto da ação erosiva do glaciar, que contrastam com a zona da Coitada, mais abaixo, que apresenta já alguma vegetação devido à presença de areias graníticas que não foram erodidas pelo glaciar, pois o mesmo não desceu até essa cota. Em alguns pontos encontramos “blocos erráticos”, deixados pela passagem do glaciar.

Chegado à Lagoa Comprida e a partir do posto de vendas de artigos regionais, tome o caminho que circunda a vertente Norte da barragem. A cerca de 300 metros do início desse caminho, encontrará à esquerda uma pedreira que foi aberta para construção da barragem. O granito é porfiróide de duas micas, de grão grosseiro, designado por Granito de Seia. O corte na pedreira permite observar como se desenvolve o maciço granítico em profundidade. Na parte superior a rocha tem uma coloração amarelada resultante da alteração dos minerais que estão em contacto com os agentes atmosféricos que vai sendo progressivamente atenuada em profundidade até meio do corte em que o granito passa a ter cor cinza não alterada.

A zona da Lagoa Comprida caracteriza-se por uma elevada biodiversidade quer a nível florístico, quer a nível faunístico, aí ocorrendo um número muito significativo de espécies com estatuto de conservação ameaçado. Nas suas margens é possível encontrar vestígios de ocorrência de espécies associadas a ambientes aquáticos como a lontra (Lutra lutra) e o rato-d’água (Arvicola sapidus), não sendo rara a observação da cegonhanegra (Ciconia nigra).

Cegonha-negra. (LAC)(AC)

Cegonha-negra. (LAC)(AC)

A partir de uma altitude de 1.300 m aparece o zimbro-rasteiro (Juniperus communis subsp. alpina), mostrando que estamos a entrar na zona mais típica dos matos da Serra da Estrela onde surgem espécies como giesteira-da-serra-amarela, Cytisus striatus, giesta-branca (Cytisus multiflorus), sargaça-amarela (Halimium alyssoides), urze-vermelha-arroxeada (Erica australis) e urze-branca (Erica arborea).

Prosseguindo pelo caminho na direção dos Charcos não tardará a encontrar uma turfeira que resulta de uma depressão no terreno. É o chamado Lagoacho das Favas, por aí poder encontrar a fava-de-água (Menyanthes trifoliata) que em anos favoráveis forma um admirável jardim aquático. A Serra da Estrela tem um longo período de secura no verão e por isso as turfeiras, são muito vulneráveis. Mas a principal causa da sua deteorização é a poluição e o lixo deixado pelos turistas do piquenique no verão e do esqui no inverno.

Este percurso até aos Charcos permite observar uma paisagem com muito interesse para o estudo da glaciação. Sobre esta área encontra-se um dos mais interessantes campos de blocos erráticos da Serra da Estrela. Estes blocos foram arrancados da vertente abrupta que se encontra a Sul da Lagoa Comprida tendo sido transportados pelo glaciar até este local. O sentido do movimento do antigo glaciar pode ser determinado pelo estudo das características petrográficas destes blocos e a geologia da área, localizando assim o local de origem dos blocos.

A partir dos Charcos o caminho inflecte para Norte e passa a estar de regresso ao local de partida. Em trajecto ainda extenso mas relativamente plano, irá passar pelo cimo da barragem do Covão do Conchos, pelo Covão das Lapas cujo topónimo mais se entende pelo tamanho das pedras, cuja forma mais aplanada as classifica como Lapas. Uma delas ficou célebre por ter servido de abrigo à primeira expedição científica à Serra da Estrela em 1884. As suas favoráveis condições acústicas, ampliaram o ressonar de um dos expedicionários, a ponto de ter ficado consagrado no relato da expedição como o Lapão do Ronca.

Feita a última curva do que se poderá continuar a chamar de caminho, avistará uma admirável paisagem de prado natural verdejante. Chegou ao Vale do Conde, destino milenar de veraneio dos rebanhos da Serra e local mítico da transumância, por se manter verde praticamente todo o Verão.

Festuca henriquesii. (LAC)(AF)

Festuca henriquesii. (LAC)(AF)

Este é o domínio do cervum, Nardus stricta e do Festuca henriquesii, uma espécie de erva endémica da Serra da Estrela aficionada da neve que é internacionalmente protegida e homenageia o nome de Júlio Augusto Henriques. Ele foi diretor do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra, instituição que deu um impulso importante ao estudo da flora da Serra da Estrela, a partir da organização da primeira grande expedição científica no final do século XIX.

Se seguir a linha de água da Ribeira do Vale do Conde, vai ter à Barragem do Lagoacho. Se prosseguir pelo prado natural adentro até à barragem do Covão da Malhada, designada também como da “Erva da Fome”, encontrará mais uma, a sétima e última barragem deste percurso. Esta, por conduta subterrânea, abastece o Vale do Rossim. Percorridos 600 m de um ramal de acesso a tal barragem encontrará a estrada do Lagoacho, por onde iniciou este percurso, onde virando à direita estará, passados 1,5 km, no paredão do Vale do Rossim. Se o cansaço o impedir de apreciar mais barragens pode continuar pelos trilhos do Vale do Conde diretamente à Barragem do Vale do Rossim.

Vale do Rossim.(LAC)

Vale do Rossim.(LAC)


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