Mais uma vez a tradição será cumprida e os guardenses vão brindar, com familiares e amigos junto ao Madeiro de Natal da Guarda, em tarde de Consoada, depois segue-se o bacalhau e o polvo. Mas há outras tradições para descobrir…

MADEIRO DA GUARDA

Mais uma vez a tradição será cumprida e os guardenses vão brindar, com familiares e amigos junto ao Madeiro de Natal da Guarda, em tarde de Consoada, dia 24 de dezembro, a partir das 16 horas, no Largo João de Almeida (junto à Igreja da Misericórdia). O Madeiro de Natal é ponto de encontro obrigatório em dia de Consoada na cidade mais alta. Os guardenses reúnem-se para brindar com amigos e familiares antes do tradicional jantar de Consoada.
No interior do país, o Natal é marcado pela cerimónia da queima do Madeiro, durante a tarde e noite do dia 24 de dezembro.
É uma manifestação com características comunitárias, em que se transporta para o exterior o hábito privado de reunião à volta da lareira, consolidando a coesão do grupo local. Consiste numa grande fogueira que é feita no adro da igreja, ou noutro local de organização social e espacial semelhante, onde a população se reúne depois da Missa do Galo e/ou antes, ao final da tarde. A fogueira chega a atingir a altura da igreja, ardendo toda a noite até que se apague. Os restos serão guardados para consumo ao longo do inverno.
A queima é antecedida pelo ritual da apanha da madeira e do seu transporte até à localidade, realizando-se de forma diferente consoante a região. Nalguns locais, os madeiros, ou cepos, para a fogueira comum são logo postos de parte quando se recolhe a madeira no início do inverno.

BACALHAU E POLVO SÃO A TRADIÇÃO

Há terras que mantêm tradições próprias, “muito localizadas”, como o capão em Freamunde, o litão (um peixe da família do tubarão) em Olhão, o borrego no ribatejo e as sandes de carne em vinha de alhos na Madeira.
O bacalhau e o polvo continuam a ser os principais pratos do Natal em Portugal, como confirmaram alguns “chefs”, e a Guarda não é exceção, por cá o bacalhau e o polvo são os “reis” da mesa de Natal. Bacalhau cozido com todos, polvo panado e/ou arroz de polvo são pratos que não faltam na mesa beirã.
A tradição explica que a imposição religiosa era a de que se comesse peixe, mas existiam dificuldades de pesca neste período do ano e o bacalhau e o polvo poderiam ser secos e chegar mais facilmente ao interior do país.
E para sobremesa, para além do tradicional bolo-rei, também não pode faltar a tradicional bôla da Guarda, com sabor a canela, e as tradicionais filhoses, rabanadas, sonhos e o arroz doce.

 

 

MAGUSTO DA VELHA EM ALDEIA VIÇOSA (GUARDA)

Reza a história que não há um ano em Aldeia Viçosa, freguesia do concelho da Guarda, sem “Magusto da Velha”. A tradição remonta a 1698 e está ligada a uma obrigação contraída pela Igreja de Vila do Porco, como se chamava então Aldeia Viçosa. Segundo a história, viviam-se tempos de fome quando uma velha abastada terá feito uma doação para que o povo pudesse, um dia no ano, beber vinho e comer castanhas. Em contrapartida, o clero comprometeu-se a rezar em sua memória um Padre Nosso todos os anos depois do Natal. A vontade foi satisfeita e a tradição perpetuou-se durante séculos, não havendo geração que não cumprisse este magusto, embora não seja seguido à risca, uma vez que a “Velha” pedia que se realizasse no dia 1 de Janeiro. No entanto, há mais de um século que esta data é trocada para 26 de Dezembro. No dia os sinos repicam insistentemente e anunciam que a folia vai começar. Junto ao madeiro de Natal, que ainda arde, novos e velhos aguardam que do cimo do campanário da igreja “chovam” os 150 quilos de castanhas. O vinho, esse, está guardado religiosamente para depois ser distribuído por todos. Está tudo pronto. Alguém exclama: «Cuidado com a cabeça vai chover castanha!». E o frenesim começa. Quilos e quilos de castanhas são lançados para o adro, que mais parece o cenário de uma batalha campal, onde só um adversário é que está armado. O jogo do empurra começa para ver quem apanha mais e quem foge melhor à chuva de castanhas. As risadas soltam-se também por causa das “cavaladas”, vulgo saltar para as costas de quem se baixa para apanhar castanhas. Assim que a castanha acaba, aparecem os litros de vinho tinto. Primeiro para os mais velhos e depois para as senhoras. É hora de provar a pinga e confraternizar, mas também de rever muitos velhos amigos, pois ninguém falta à festa.

Para esta edição, preveem-se outras novidades que pretendem catapultar ainda mais o Magusto da Velha, evento singular no nosso país, património imaterial da Guarda. A festa começa como habitualmente, às 14 horas, no dia 26 de dezembro.