Uma nova vida para Martim Rei

Câmara do Sabugal pretende intervencionar parte da Colónia Agrícola, criada pelo Estado Novo em 1936 e agora quase abandonada Joaquim Alves continua a tratar o terreno entregue aos seus pais há 65 anos    Criada há mais de 70 anos, a Colónia Agrícola de Martim Rei, no concelho do Sabugal, espelha o abandono a que […]

Câmara do Sabugal pretende intervencionar parte da Colónia Agrícola, criada pelo Estado Novo em 1936 e agora quase abandonada

Joaquim Alves continua a tratar o terreno entregue aos seus pais há 65 anos
 
 Criada há mais de 70 anos, a Colónia Agrícola de Martim Rei, no concelho do Sabugal, espelha o abandono a que o sector primário tem sido votado. Em 1936, a Junta de Colonização Interna surgiu com o propósito de encontrar um destino digno para vários terrenos baldios no país. O lugar de Martim Rei, na freguesia do Sabugal, foi um dos criados por decreto do Diário do Governo. Agora que os colonos escasseiam, a Câmara raiana quer resolver parte do problema.
 
Em meados de Dezembro a autarquia contratualizou com o Mais Centro – Programa Operacional Regional do Centro uma comparticipação ao Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), na ordem dos 3,5 milhões de euros. Cerca de 10 por cento desse montante destina-se ao programa de protecção e valorização ambiental, onde se enquadra, entre outros projectos, a recuperação ambiental da quinta da Colónia Agrícola pela empresa municipal Sabugal+. Segundo António Robalo, vereador da autarquia, a intervenção prevê «a manutenção do Centro Experimental de Castanheiros e Aveleiras, a vedação do espaço e recuperação do casario, além da criação de uma quinta pedagógica e um campo de férias». Para revitalizar parte de Martim Rei, a edilidade vai contar com a colaboração da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC) com vista à implementação e funcionamento do “Campo Experimental de Castanheiros e Aveleiras”».
 
O espaço será mantido e melhorado pela DRAPC, que vai «promover e ampliar os ensaios de variedades e a sua divulgação junto dos agricultores», bem como «estabelecer parcerias com outras entidades para melhorar geneticamente as variedades existentes». O contrato firmado por Manuel Rito, edil do Sabugal, e Rui Moreira, director regional de Agricultura, é válido por 20 anos e prevê ainda a ocupação pelos serviços da Direcção Regional do hangar a Sul da estrada municipal, os campos de ensaio daquelas duas espécies frutícolas (na totalidade do casal número 18) e a totalidade dos viveiros e campos de pés-mãe de castanheiros.
 
Colonos e produtividade foram desaparecendo com os anos
 
Em cerca de 640 hectares, o Estado Novo decidiu criar 39 casais (de seis a 16 hectares, atribuídos a famílias numerosas) e 400 levas (a cargo de alguns jornaleiros). As famílias eram convidadas «sem a preocupação se tinham ou não muita experiência na área», refere Joaquim Baptista. Exigia-se apenas o pagamento de um sexto da produção ao Estado, e que trabalhassem zelosamente – caso contrário seriam expulsas. Foi neste contexto que os pais de Joaquim Baptista foram convidados, que chegaram a Martim Rei após a expulsão dos anteriores arrendatários. Para além do terreno e da casa, era entregue uma junta de vacas, o respectivo carro e as alfaias necessárias à produção. A escola primária, cujo edifício ainda existe à beira da estrada, chegou a ter 40 alunos, mas «em 1970 metade dos casais estavam vazios, porque os mais novos emigraram», refere o engenheiro aposentado.
 
Joaquim Alves foi para a colónia agrícola com quatro anos, nas mesmas circunstâncias que Joaquim Baptista. «O casal não queria trabalhar e puseram-no fora. Depois chamaram o meu pai, viram que ele era trabalhador e cá ficou a pagar a quinta», lembra. A partir daí, a vida deste reformado, de 69 anos, pouco mudou. Sempre viveu do que a terra e as ovelhas dão e assim será nos próximos tempos. «A agricultura não dá nada. Daqui a uns tempos o mais certo é ir para um lar», vaticina.
 
A recuperação de Martim Rei é um dos investimentos incluídos pelo Sabugal no Plano de Desenvolvimento Territorial da Comurbeiras, que intermediou o contrato, «e cujo horizonte temporal de realização é de 2008 a 2013», refere ainda o documento. A candidatura abrange ainda a arborização das avenidas 25 de Abril e Infante D. Henrique (na sede de concelho), bem como a requalificação do Calvário e Largo de S. Sebastião. Também a zona de localização empresarial e logística, junto ao cruzamento da Rapoula do Côa, vai ser apoiada com mais de 244 mil euros. Montante ligeiramente superior – 266 mil euros – é o destinado ao Pólo de Especialização Tecnológico e ao Centro de Estudos Josué Pinharanda Gomes (noticiado em Outubro por O INTERIOR). A “parte de leão” – mais de 2,5 milhões de euros – será canalizada para a ligação da A23 à fronteira, passando pelo Sabugal e Soito.

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