Pedras de xisto “únicas” formadas há 500 milhões de anos, num lugar que já foi um oceano, alavancam a economia do concelho de Foz Côa, que as exporta para todo o mundo, para serem aplicadas em diversos trabalhos.
“Trata-se de uma rocha sedimentar formada por camadas há 500 milhões de anos, naquilo que era o fundo de o fundo de um oceano. São pedras que ao serem talhadas, dão sempre um ângulo de 90 gruas. Ou seja, em forma de paralelepípedo, o que lhe confere um caráter e rugosidade únicos”, explicou à Lusa o geólogo Mauro Búrcio.
As pedras de xisto com características únicas, extraídas de pedreiras que se formaram no período Ordovícico (na era Paleozoica), foram inicialmente usadas na produção de esteios para o alinhamento das vinhas do Douro e são agora elementos de decoração de diversos prédios ou moradias, espalhados pelos quatro cantos do mundo.
No século XIX foi descoberto aquele xisto “único em todo mundo” e “só explorado junto ao rio Côa”, numa extensão de cerca de dois quilómetros quadrados, contou o geólogo.
“Trata-se de uma sedimentação marinha, muito rugosa. A rocha, à medida que sofrendo deformações, apenas visíveis neste sítio, torna possível extrair peças que podem ir de um aos seis metros de comprimento, sem praticamente apresentarem defeitos” adiantou o técnico.
Com o auxílio de marreta e cinzel, os trabalhadores rasgam a rocha de xisto nos “planos de estratificação e xistosidade”. Assim, de forma aparentemente fácil conseguem esteios para as vinhas de resistência e comprimentos “admiráveis”.
As pedreiras de xisto, localizadas a cerca de quatro quilómetros de Foz Côa, no distrito da Guarda, nas proximidades do Parque Arqueológico do Vale do Côa, estão em atividade pelo menos desde 1850, numa altura em que havia uma forte atividade vinícola no Douro Superior.
“Já desde o tempo da Ferreirinha [Antónia Adelaide Ferreira], que destas pedreiras se retirou muito xisto para fazer os esteios para as vinhas. Era esta a principal atividade por aqui. Uma crise na produção de vinho no Douro levou à criação de novas oportunidade de trabalho e o xisto ganhou outra importância no mercado há cerca de 50 anos ”, indicou Manuel Monteiro, um trabalhador das pedreiras de Foz Côa há mais de duas décadas.
Contudo, a evolução tecnológica fez com que o número de pedreiras fosse cada vez menos, assistindo-se a uma redução de trabalhadores até 1990.
Atualmente há três empresas de média dimensão a laborar no concelho do Douro Superior, sendo o grupo Solicel aquele que, atualmente com cerca de 70 operários, mais postos de trabalho criou.
Esta empresa, que aposta em rochas criativas para fachadas de imóveis e em mobiliário urbano, exporta para diversos continentes e tem uma faturação anual que ronda os 3,6 milhões de euros, que representam um crescimento de 40% face a 2016.
“Somos o maior empregador privado do concelho de Foz Côa, bem como um dos maiores exportadores dos territórios do Vale do Côa”, disse à Lusa Pedro Duarte, administrador do grupo Solicel.
Os mercados tradicionais do xisto de Foz Côa são: a Alemanha e França, havendo ideias de expansão para a Coreia do Sul, México, Estados, Bélgica ou Noruega.