Estudantes Internacionais duplicam este ano na UBI

Ao segundo ano de vigência do Estatuto do Estudante Internacional, a Universidade da Beira Interior prevê duplicar o número de alunos vindos do estrangeiro.

Na última semana, matriculou-se um grupo de angolanos que se junta a muitos outros estudantes que chegam de países africanos e do Brasil. E até da Síria, como Saffana Sadieh e Sara Hummid.

A Universidade da Beira Interior (UBI) deverá este ano duplicar o número de alunos da instituição com o Estatuto do Estudante Internacional. No ano passado, o primeiro de funcionamento da medida criada pelo Governo para atrair alunos para o Ensino Superior nacional, foram 34 os estrangeiros que escolheram a Covilhã para fazer a sua formação. Nesta altura são 67, número que poderá ainda aumentar na última fase de candidatura – a quarta – que vai decorrer entre dezembro e janeiro de 2016.

Na última semana matricularam-se 32 dos 36 angolanos que vão estudar em áreas técnicas. Formações prioritárias no país de origem e que minimizam a pouca atratividade que os cursos de engenharias ou ciências têm tido entre os portugueses. Os angolanos tornaram-se alunos da UBI na sequência de um protocolo que a instituição assinou com o Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudos de Angola (INAGBE). O organismo governamental financia os estudos em Portugal e o seu país receberá mais tarde quadros qualificados nas áreas de engenharia, tecnologia e saúde.

Este modelo é o culminar da estratégia de internacionalização da UBI, no âmbito da qual foram estabelecidos diversos contatos no estrangeiro, criados sites específicos destinados a informar potenciais candidatos de fora de Portugal e a aceitação de candidaturas com base no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no caso do Brasil.

Nos últimos meses, o plano passou pelo contacto com embaixadas de países de língua oficial portuguesa para que fossem criadas bolsas para os estudantes que viessem para a UBI. “Angola é o melhor exemplo do sucesso desta iniciativa, daí que tenhamos um grupo de 36 estudantes. Será o primeiro, pensamos nós, de outros que virão nos próximos anos”, refere João Canavilhas, vice-reitor com as pastas do Ensino, Internacionalização e Saídas Profissionais. “Praticamente vamos duplicar o número de estudantes internacionais e, visto nesta perspetiva, penso que o caminho traçado está a resultar”, sintetiza o responsável.

Quanto a outros países dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), os candidatos da Ilha do Príncipe podem aceder a um conjunto de bolsas que têm o apoio da Câmara da Covilhã, no caso de Moçambique as bolsas são do Instituto Camões e os provenientes de Cabo Verde chegam ao abrigo de regimes especiais, que já existiam. Quanto ao Brasil, cuja comunidade de universitários na Covilhã é a mais significativa, a divulgação da UBI é feita através da chamada Rede UBI, “um conjunto de colégios brasileiros que funciona como ponto de informação da UBI no Brasil e cujos alunos beneficiam de descontos no alojamento nas residências universitárias”, explica João Canavilhas, lembrando que uma destas escolas, de Porto Alegre, trará em novembro 10 potenciais estudantes para conhecer a Universidade.

Na manhã de quarta-feira, dia 31, os angolanos fizeram a matrícula e tornaram-se oficialmente ubianos. Alguns pela primeira vez em Portugal, recolhiam as primeiras impressões da Covilhã e traziam já algumas informações sobre a Universidade onde vão estudar. Através da Internet ficaram a conhecer os cursos, uma parte das instalações e as Residências universitárias, por exemplo.

“É uma universidade muito bem organizada”, considerou Silândio Calunda, de Luanda, colocado em Química Industrial. Elogiou ainda os laboratórios e a extensão do campus universitário. Ivanildo Paulo, também de Luanda, entrou em Engenharia Informática e vê a Covilhã como um bom sítio para estudar. “E vim para aqui para estudar”, sublinha. Jussara Cunha, da zona do Luango, já tinha ouvido falar da UBI “através de familiares”, apesar de ter investigado o currículo de Ciências Biomédicas e as Residências.

Esta é uma das vantagens de quem chega, uma vez que a instituição assegura o alojamento destes estudantes, além do apoio necessário à formalização da entrada no Ensino Superior da Beira Interior.

Iolanda Sampaio, natural da capital angolana, considera as bolsas atribuídas pelo seu país uma boa forma de “ajudar as famílias que não têm possibilidade de pagar a graduação dos filhos”, mas não só. “Voltar e ajudar no desenvolvimento de Angola”, é um dos propósitos desta estudante de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores.

Esta ideia esteve presente nos protocolos estabelecidos até agora, como refere João Canavilhas: “Negociámos com os países um conjunto de bolsas para áreas que são de interesse para os países. No caso específico de Angola, pediram-nos para formar técnicos especialistas em áreas tecnológicas. Daí que os alunos estejam fundamentalmente nas faculdades de Engenharia, de Ciências e Ciências da Saúde”.

Uma realidade que tem também vantagens para a UBI. “São áreas em que eles têm necessidades de formação em recursos humanos e, que por coincidência, neste momento em Portugal não estão a ter uma grande procura. É uma feliz coincidência”, salienta.

Engenharia Civil surge sempre como um curso com dificuldades de atração de alunos. No ano passado, a UBI assegurou uma turma do primeiro ano composta maioritariamente por estudantes estrangeiros. Este ano a situação repete-se e na última semana chegou uma nova aluna para este mestrado integrado, vinda da Síria.

Este processo é diferente, uma vez que Saffana Sadieh foi colocada no âmbito dos acordos que a UBI tem com a organização Plataforma Global, dirigida por Jorge Sampaio, no âmbito do qual tem recebido dois universitários por ano. Junta-se aos mais de 500 estudantes estrangeiros que estão na Universidade ao abrigo dos vários programas existentes no setor, de que é exemplo o programa Erasmus.

Ainda não assistiu a muitas aulas, conheceu as instalações e faz um paralelismo com a realidade que conhecia na Universidade de Damasco, onde estudava. “Fiquei muito impressionada com os laboratórios, que são diferentes dos que tinha na Síria. Estão muito bem equipados”, explica, estabelecendo outra diferença: a disponibilidade que certamente encontrará com os docentes, por exemplo.

Isso porque a turma onde que estava integrada tinha um elevado número de alunos. Talvez porque a Engenharia Civil é um curso com muita procura na Síria.

“No meu país estão muito interessados. Penso que pela situação que estamos a atravessar, muitas pessoas pensam que é o futuro, pelas necessidades de reconstrução”, lembra. Há poucos dias na Covilhã, “cidade de montanha muito diferente daquela em que vivia”, Saffana Sadieh está instalada na Residência Pedro Álvares Cabral.

Ao lado, tem a amiga Sara Hummid, que já conhece desde os tempos da Universidade de Damasco. Sara chegou em 2014, também através da Plataforma Global, para estudar Ciências Farmacêuticas. Pode ser considerada um exemplo para os que chegam.

Expressa-se em inglês – admite que o português ainda é uma dificuldade –, mas nem por isso deixa de se sentir satisfeita por ter vindo para a Covilhã. “Para mim foi fácil adaptar-me”, diz, em inglês, “porque a cidade é pequena e calma, com pessoas simpáticas e disponíveis para ajudar”.

Quanto à UBI, corrobora – com conhecimento de causa –, a impressão inicial de Saffana Sadieh: “Na Universidade de Damasco tínhamos 700 estudantes por cada ano. Por isso, se não se entende alguma coisa, é difícil ir ter com o professor e perguntar-lhe. Aqui é melhor porque há mais interação entre os docentes e os alunos. Trabalhamos mais e sinto que estou mesmo a aprender”, explica.

Sara Hummid já esteve em contacto com escolas da região onde foi apresentar a sua cultura a várias crianças. “Expliquei-lhes como é o alfabeto árabe. Foi muito interessante para eles porque temos um alfabeto diferente, escrevemos de uma forma diferente – da direita para a esquerda – e eles ficaram surpreendidos, mas gostaram. Perguntam muito acerca da minha religião e porque uso um lenço, por exemplo, porque para eles é estranho”, conta.

Um exemplo da riqueza da diversidade de culturas que os estudantes estrangeiros podem trazer à região e a Portugal, como o reitor da UBI, António Fidalgo, tem destacado em diversas ocasiões. Sara Hammid complementa com aquilo que está a ganhar, além da formação académica.

“É uma boa experiência viver numa cultura diferente, porque abre a mente. A minha perspetiva do mundo é agora completamente diferente da que tinha”, confessa a estudante síria, que destaca o contacto com outros alunos internacionais que conheceu na Covilhã: “Eu apenas conhecia a cultura portuguesa. Entretanto, contactei com a polaca, italiana, espanhola, brasileira e africana. Conheci muita gente e quando os conheço, aprendo imenso acerca dos seus países da comida ou da língua. É uma grande riqueza para mim”.


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