Ajudar é o verbo mais repetido quando se quer saber mais sobre a plataforma de comércio solidário nacional eSolidar. Após três anos do projeto bewarket no Facebook, é lançada nesta terça-feira o site e aplicação que promovem a compra, venda, partilha e leilão de produtos para ajudar instituições de solidariedade sem fins lucrativos. Mas nestas transações online todos saem a ganhar.
Os números são da eSolidar: 83% das pessoas preferem comprar produtos associados a causas solidárias; as organizações gastam cerca de 75% do seu tempo na angariação de fundos para serem sustentáveis; 70% dos fundos das instituições são gerados através da venda de produtos; 50% das pessoas estão dispostas a pagar mais por produtos associados a uma causa. É com base nestes cálculos que é justificada a criação da eSolidar, um “mercado online social que funciona dentro do Facebook, como uma aplicação”.
As doações podem ser feitas através de donativos em dinheiro, bens ou mesmo pelo IRS, com a entrega a uma instituição de 0,5% do que for recebido pelo contribuinte (1724 organizações candidataram-se a este apoio em 2013). No caso da eSolidar, a doação é feita com a venda de produtos novos ou usados de um privado ou da loja online de instituições sem fins lucrativos.
O vendedor coloca o produto no site e determina a percentagem do valor da venda que pretende doar. A compra pode fazer-se através do PayPal, cartão de crédito ou envio à cobrança. Para quem quiser comprar, a página da eSolidar tem os produtos divididos por categorias (criança, desporto, moda, saúde), intervalos de preço, e tipo (produtos de utilizadores ou de instituições).
É no passo seguinte à compra que aumenta o processo de partilha. O vendedor fica com o dinheiro da venda, o comprador com o produto, a organização com o donativo e a eSolidar com 5% do valor da transação, “para sustentar a plataforma e a equipa e investir no crescimento”. Desses 5% (apenas aplicado em casos de doações inferiores a 100% do valor da venda), 1% é dado a quem fez a partilha do produto que deu origem à compra.
O fundador do projeto indicou ao PÚBLICO um número para reforçar a prioridade da empresa: “contribuir para a resolução de problemas sociais através do poder da tecnologia”. “Bastaria 10% do valor total do comércio eletrónico do mundo para acabar com a pobreza”, diz Marco Barbosa. Com a eSolidar “pretende-se que a tecnologia, as redes sociais e o e-commerce tenham um impacto social, potenciando novas mentalidades e diversificando estratégias de sustentabilidade absolutamente necessárias para as organizações”.
Leilões de bola de futebol e camisola da seleção
Até ao final do ano, Marco Barbosa espera que estejam registadas no site mais de 100 organizações sem fins lucrativos nacionais e internacionais. Entre as instituições que já estão registadas está o Mundo de Carolina, associação que ajuda crianças, incluindo as que têm doenças crónicas e/ou uma situação socioeconómica desfavorável. Aderir à eSolidar foi “natural”, afirma Nuno Pombo, responsável da associação. “Na atual situação socioeconómica do país, todos os projetos de cariz inovador e tecnológico assumem particular interesse e oportunidade”, explica.
No lançamento da plataforma, o Mundo de Carolina tem o leilão Bola Solidária, que inclui a bola do recente jogo Benfica-Olhanense, oferecida pelo árbitro Carlos Xistra, e uma camisola autografada pelos jogadores da Luz, dada pelo clube. O valor do leilão vai reverter para um livro infantil a ser lançado a 1 de junho, na Covilhã. As receitas da venda do livro vão depois para a Acreditar, Aldeias SOS e APPACDM-Covilhã.
Também em contagem decrescente está um leilão da Associação Justiça para Todos, destinado a ajudar a Associação Olhar 21, que pede licitações para uma camisola assinada pelos jogadores da selecção que estiveram presentes no Euro 2012.
Com a crise diminuem donativos
A inovação do projecto convenceu também o presidente da direcção da CERCI Braga. “O eSolidar permite-nos explorar novas formas de angariação de fundos e cumprir igualmente com a missão de sensibilizar a comunidade para inclusão de pessoas com deficiência inteletual e multideficiência”, conta ao PÚBLICO Luís Godinho. O responsável espera reforçar a sustentabilidade da instituição e a sua posição nas redes sociais. “Assim que tivermos os nossos produtos na loja eSolidar pretendemos exportar a loja para a nossa página de Facebook e assim estarmos mais próximos da comunidade que nos acompanha”.
A Helpo, organização que promove o desenvolvimento através do investimento na qualidade de vida das crianças e no meio educativo, também já está registada. “Numa altura em que as instituições sem fins lucrativos se deparam com dificuldades acrescidas” é “necessário e urgente adotar novas medidas de divulgação e recolha de fundos”, argumenta Sofia Nobre, da Helpo.
No ano passado, a organização perdeu 696 padrinhos que apoiavam crianças à distância. “Queremos aproveitar esta ferramenta para divulgar os nossos produtos de merchandising e artesanato africano, e assim conseguirmos angariar mais donativos, bem como promover o Programa de Apadrinhamento de Crianças à Distância e outros projetos que a associação Helpo leva a cabo”.
Marco Barbosa tem uma meta em mente para a eSolidar. “Queremos chegar aos 100 mil utilizadores neste ecossistema de solidariedade e angariar cerca de 50 mil euros para as organizações até ao final do ano”. A internacionalização é outro dos passos que já começaram a ser dados, com contactos iniciados no Reino Unido e Estados Unidos.
comprasolidaria.pt
Antes da eSolidar, um outro projeto já ajudava instituições mas de uma forma um pouco diferente, desde novembro e 2012. A comprasolidaria.pt, uma iniciativa particular sem fins lucrativos, é um agregador de produtos, serviços e eventos solidários nacionais, cujos valores conseguidos nas vendas revertem para uma causa, sem quaisquer comissões.
Pela comprasolidaria.pt, também disponível através de uma página no Facebook, já passaram cerca de mil produtos e 400 eventos solidários. Neste momento, reúne? artigos cuja venda reverte para apoiar 56 instituições do nosso país.
Joana Lobo, responsável do projeto comprasolidaria.pt, explica que o principal objetivo da plataforma é divulgar as iniciativas e produtos das organizações, facilitar o acesso a estas e “capacitar as instituições para desenvolverem iniciativas e contribuir para a sua sustentabilidade”. “Assim, consegue-se garantir a auto-sustentação de cada projeto sem que esteja tão dependente de outras ajudas”, acrescentou.
O utilizador da plataforma pode pesquisar pelo produto que quer comprar ou pela instituição que pretende ajudar. Em seguida são apresentadas várias possibilidades para fazer a encomenda, seja por online ou por indicação dos locais onde podemos encontrar os artigos.
