A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) mostrou-se ontem “muitíssimo preocupada” com a demissão da comissão covid-19 na Unidade Local de Saúde da Guarda e anunciou que já pediu explicações “formais” sobre o assunto.
“A SRCOM, obviamente, que está muitíssimo preocupada com esta situação. Nós já enviámos ofícios formais, tanto à comissão, como ao Conselho de Administração (CA) da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda, a pedir explicações”, disse à agência Lusa o presidente daquela estrutura, Carlos Cortes.
A comissão criada na ULS/Guarda para coordenar a resposta à pandemia da covid-19 demitiu-se em bloco após “uma situação de divergência” com a administração.
O diretor do serviço de pneumologia e coordenador da equipa multidisciplinar para a covid-19 naquela unidade de saúde, Luís Ferreira, referiu que, na segunda-feira, pediu a demissão de coordenador e que os restantes elementos foram solidários e também se demitiram de funções.
Luís Ferreira apresentou a demissão de presidente da comissão covid-19, porque “ocorreu uma situação de divergência” com um elemento da administração da ULS da Guarda, que não especificou.
“Ocorreu uma situação de divergência em que eu achei que foi clara uma desconsideração para comigo, na qualidade de presidente da comissão, e não podia ser conivente com essa situação e tomei a decisão que achei mais adequada, que foi pedir a demissão, que é um ato absolutamente legítimo”, explicou.
O presidente da SRCOM, Carlos Cortes, adiantou que já teve um contacto com o presidente demissionário da comissão “para tentar perceber” os motivos e se os mesmos eram de ordem técnica ou clínica e “pudessem ter um impacto negativo sobre a prestação dos cuidados de saúde” e o combate à pandemia da covid-19 na ULS/Guarda.
“Foi-me garantido que as divergências nada tiveram a ver com estas matérias”, disse.
Carlos Cortes lembra que, recentemente, quando visitou o hospital da Guarda, concluiu que a unidade deu “uma boa resposta” à crise da covid-19 e que essas conclusões mantêm-se, “porque foi assegurado pelo responsável máximo” que liderava a comissão covid-19 na ULS “que nada está posto em causa no que diz respeito aos cuidados de saúde”.
O dirigente fica a aguardar pelas respostas aos pedidos formais enviados à administração da ULS e à comissão demissionária, mas não esconde que “uma notícia destas cria sempre alguma instabilidade junto da população”.
A mensagem que cabe transmitir aos doentes é que “têm de continuar a ir ao hospital”, que “está preparado para os receber com total segurança”.
A presidente do CA da ULS da Guarda, Isabel Coelho, explicou numa nota enviada às redações que a demissão da comissão covid-19 “partiu inicialmente do senhor coordenador da comissão, tendo os restantes membros sido solidários com este pedido”.
Isabel Coelho refere que o CA “nunca retirou a sua confiança a esta comissão ou a qualquer um dos seus membros em particular, antes pelo contrário, não se cansa de enaltecer e agradecer o seu trabalho exemplar ao longo destes difíceis meses”.
A comissão covid-19 foi criada pela ULS no início de março, altura em que o Hospital Sousa Martins foi indicado como hospital de “segunda linha” no combate à pandemia.