Cinco concelhos da Guarda e de Castelo Branco criam Projeto de Mobilidade Integrada

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A escolha dos cinco municípios em causa deve-se a constituírem entre eles “uma bacia de mobilidade”, com “relações muito fortes entre si”.

A Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) e cinco municípios dos distritos da Guarda e Castelo Branco estão a desenvolver o Projeto-piloto de Mobilidade Integrada da Beira Interior para testar soluções em zonas de baixa densidade que possam ser replicadas.

Segundo a presidente da AMT, o que se pretende é potenciar a mobilidade em territórios onde a oferta é menor, integrando os sistemas existentes nos cinco concelhos: Guarda, Belmonte, Covilhã, Fundão e Castelo Branco.

“Pretendemos fazer um projeto de mobilidade integrada em que se utilizam todos os transportes que estão disponíveis na zona, quer o transporte ferroviário, que serve menos gente, mas também o transporte rodoviário, os serviços de táxis, o serviço a pedido, o transporte flexível, a mobilidade suave e programar, planear uma rede de transportes multimodal que inclua todas estas ofertas e que as pessoas possam de uma forma mais fácil utilizar”, explicou, em declarações à agência Lusa, Ana Paula Vitorino.

As medidas seriam para ser anunciadas na quarta-feira durante a Conferência “Mobilidade integrada – eixo da Beira Interior”, no entanto, devido aos incêndios, o evento foi adiado. Será, portanto, anunciado noutra data a anunciar.

Segundo a presidente da AMT, além do planeamento das redes, vai ser também criada uma plataforma digital para que os cidadãos destes territórios possam ter acesso a todas as possibilidades de transporte para se deslocarem em toda a área dos cinco municípios, numa solução integrada e que se pretende ver otimizada.

Quem não tiver equipamento adequado para aceder a essa plataforma ‘online’, pode fazê-lo através de postos para onde se pode telefonar e essas pessoas não ficam excluídas, garantiu Ana Paula Vitorino.

A prioridade é a de que as pessoas possam ir trabalhar em transportes públicos, mas que possam ir também ao médico, às compras ou “às oportunidades de lazer que existem disponíveis nestes territórios”.

A responsável da AMT afirmou que existe um país “a duas velocidades”, com o litoral, onde se concentra 80% da população, e o interior, onde existe pouca oferta e os transportes públicos nem sempre são compatíveis com as necessidades, além de a população ser “mais velha, ter menos literacia e ter menos transportes”.

“Temos um problema de exclusão social, que faz com que no interior do país tenhamos maiores taxas de utilização de transporte individual, por ausência de opções de transporte público, com a agravante de deixar de lado” quem, por motivos financeiros, de saúde ou outros, não se consegue deslocar, o que configura uma “dupla injustiça”.

Ana Paula Vitorino sustentou que, além de esta ser uma forma de tornar estes territórios mais apetecíveis, contribui para o desenvolvimento económico e é o caminho para um país “mais homogéneo e mais inclusivo”.

“Se nós quisermos novas soluções, temos de usar métodos diferentes. O que estamos a fazer é pensar de forma mais alargada, para arranjar soluções. Usar os meios que existem de forma coordenada”, referiu a presidente da AMT, sem excluir que se venha a perceber a necessidade de ter mais transportes.

Para já está a ser finalizado o levantamento dos recursos e está em andamento o concurso para contratar a empresa que vai criar a plataforma digital.

No primeiro trimestre de 2025, Ana Paula Vitorino conta apresentar uma proposta de estudo de projeto, “ainda que não definitiva”, e tem a expectativa de “ter no terreno as primeiras soluções daqui a um ano”.

“Nós daqui a um ano entraremos em testes. Não quer dizer que não se consiga em alguma parte entrar antes, agora, no planeamento, começamos a funcionar, pelo menos em parte, daqui a um ano. Depois, haverá um período em que o modelo vai ser testado. Se tudo correr bem, iremos propor que seja alargado a outras zonas do interior de Portugal”, revelou a presidente da AMT.

A responsável adiantou que, para já, não é possível saber quais os custos envolvidos e, nesta fase, não há qualquer pacote financeiro.

“Temos as câmaras que têm os seus projetos e no final temos de contabilizar os custos inerentes ao seu funcionamento e as verbas que hoje existem até poderão ser suficientes”, disse, acrescentando que vão ser estudadas “todas as possibilidades de financiamento”, desde as autarquias, Governo central e fundos comunitários, além de as mais-valias relacionadas com o aumento da atividade económica poderem ser canalizadas para a mobilidade.

Ana Paula Vitorino comentou que, se forem necessários mais transportes, e não for apenas uma questão de integração, “existem os passes que o Governo tem anunciado e que são válidos para todo o território”, sublinhando que uma das regras que tem de ser aplicada é a universalidade das medidas de que as zonas de maior densidade populacional beneficiam.

O presidente da AMT aludiu aos passes de 120 euros pagos em freguesias na Covilhã, no distrito de Castelo Branco, para frisar que “não é admissível” praticar esses valores, quando na zona de Lisboa as pessoas podem deslocar-se entre Setúbal e Mafra com passes mensais de 40 euros.

A escolha dos cinco municípios em causa deve-se a constituírem entre eles “uma bacia de mobilidade”, com “relações muito fortes entre si”.


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