“Nem uma bica”, diz resineiro afetado em Seia

Tinha regressado à atividade de resineiro há 14 anos e, na sua empresa, sediada em Paranhos da Beira, em Seia, são quatro trabalhadores.

O resineiro João Martins tinha visto arder em junho as 10 mil bicas que tinha em Pedrógão Grande e agora, em outubro, arderam as restantes 10 mil que tinha em Seia.

“Nem uma bica. Nada. Foi tudo”, desabafa João Martins, resineiro de Seia, que diz que perdeu toda a área que explorava para a recolha de resina.

Em 17 de junho, arderam as 10 mil bicas que tinha na zona do incêndio de Pedrógão Grande, não tendo sequer conseguido fazer a primeira recolha – marcada para julho – e, quando se preparava para a segunda recolha na zona de Seia, arderam as restantes 10 mil bicas que explorava.

“Sempre disse aos meus colaboradores para não ter o trabalho todo concentrado só num sítio. Tinha em concelhos diferentes e em várias freguesias, duma ponta à outra dos concelhos e não restou nada”, sublinha João Martins.

O resineiro aprendeu a atividade com dez anos e andou a trabalhar no setor até aos 15 anos, altura em que abandonou a área por causa da crise que se abateu sobre a resinagem.

Tinha regressado à atividade de resineiro há 14 anos e, na sua empresa, sediada em Paranhos da Beira, em Seia, são quatro trabalhadores.

“Isto para a sustentabilidade da empresa é fatal”, nota João Martins.

O prejuízo estimado é de cerca de 20 mil euros para a sua empresa, mas não é o prejuízo que o preocupa, mas sim a falta de rendimento para os próximos anos.

“Ficámos sem pinheiros. Não podemos mais trabalhar aqui. Numa empresa normal, em que arde o pavilhão ou as máquinas, faz-se de novo e continua a atividade. Nós, sem pinheiros, ficamos sem atividade. A matéria-prima ardeu quase toda”, constata o resineiro, sublinhando que só daqui a 20 ou 30 anos é que os pinheiros voltam a dar resina.

O futuro, confessa, é difícil de encarar.

“Ainda não dá para pensar [no futuro]. Vamos pensar em quê? Só se for em emigrar. Numa região do interior como esta, com tudo queimado, sem indústria, sem nada, o que estamos aqui a fazer? Não sei”, comenta João Martins.


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