Sacos de plástico: Todos os números da nova revolução verde

Por minuto são utilizados um milhão de sacos de plástico leves no mundo. Por ano, circulam 100 mil milhões na Europa e Portugal é um dos países europeus onde são mais utilizados e apenas uma vez, durante 25 minutos.

Os números são chocantes mas não revelam toda a história. Uma investigação da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa, realizado durante 2010 e 2014, revela que os sacos estão no topo da lista dos materiais que poluem as praias portuguesas – dos mais de 11.000 objetos recolhidos, 97% eram plásticos.

“A produção, transporte e tratamento é responsável pelo consumo de muitos recursos, incluindo água e petróleo. Em aterro, misturam-se com os resíduos; no ambiente podem permanecer mais de 300 anos”, explicou ao Diário Económico, esta sexta-feira, Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Quando lhe pedirem €0,10 por um saco de plástico leve, pense que existe uma razão bem objetiva: os sacos de plástico prejudicam gravemente o ambiente e todos pretendem ver-se livres deles, das autoridades aos ambientalistas, e provavelmente até as empresas de distribuição.

Ainda que o Governo pretenda arrecadar €40 milhões com a nova taxa dos sacos de plástico, na sequência da reforma da Fiscalidade Verde, a principal razão para a taxação dos sacos é a ambiental. Idealmente, o Governo pretende que os consumidores utilizem sacos reutilizáveis para levar as suas compras para casa.

As experiências internacionais dizem-nos que este é o caminho a seguir: na Irlanda do Norte, a utilização de sacos de plástico diminuiu 72%; e a União Europeia estima que, uma taxa idêntica nos seus Estados-membro, reduziria em 80% a utilização destes sacos. No resto do mundo, aliás, há cada vez mais registos de medidas idênticas: da Califórnia e pequenas cidades norte-americanas a Porto Rico, Reino Unido ou Nova Deli.

Depois de anos e décadas a usarmos quantos sacos de plástico quantos queríamos, há que parar para refletir: queremos continuar nesta via? Assim, a taxa servirá unicamente como dissuasor para a compra exacerbada de sacos de plástico, uma vez que alguém tinha de dar o tiro de partida para uma nova era comportamental.

É normal que, nos primeiros dias, estranhe os sacos de plano, papel ou ráfia. Depois, certamente, irá utilizá-los de forma natural. É assim que as grandes mudanças acontecem, com o hábito. E se a nova taxa terá dado pouco tempo aos operadores de super e hipermercado para mudarem, a verdade é que todos eles arranjaram forma de proporcionar ao consumidor uma solução para o problema do novo preço dos sacos de plástico – nem que para isso tenham de ter encontrado uma nova oportunidade de negócio.

As farmácias, não vão onerar os consumidores – e as outras partes interessadas, como a Sociedade Ponto Verde, há muito se vêm a preparar para este problema.

O que sobra? A indústria do plástico. Esta será, na verdade, a principal prejudicada com a nova taxa. Ainda que, no que toca ao ambiente, esta nova taxa é o caminho a seguir, é impossível não pensar nas dezenas de empresas e centenas de trabalhadores que irão sofrer com o novo paradigma dos sacos de plástico em Portugal. Ainda assim, só o futuro dirá até que ponto esta crise anunciada se transformará em efetiva – e como.


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