Ponto final no sonho de uma vida

Vítor Antunes não resistiu às dificuldades e decidiu abandonar a agriculturaDepois de uma vida inteira dedicada à agricultura, Vítor Antunes, de 54 anos, decidiu dizer basta. Há cerca de um ano que os prejuízos mensais elevados o que o obrigou a vender os seus animais e a recorrer às poupanças que tinha de lado. Hoje, […]

Vítor Antunes não resistiu às dificuldades e decidiu abandonar a agriculturaDepois de uma vida inteira dedicada à agricultura, Vítor Antunes, de 54 anos, decidiu dizer basta. Há cerca de um ano que os prejuízos mensais elevados o que o obrigou a vender os seus animais e a recorrer às poupanças que tinha de lado. Hoje, olha com tristeza para a situação que atinge o sector e não hesita em afirmar que os “governantes estão a matar a agricultura”.

Durante mais de 30 anos Vítor Antunes, actualmente com 54, natural do lugar de Quinta de Cima, uma anexa da freguesia de Vila Fernando, no concelho da Guarda, dedicou a sua vida à agricultura e à produção animal. Chegou a ter mais de 60 vacas, a medir 900 litros de leite, o que lhe permitia ter consigo um funcionário a quem viu crescer os quatro filhos.

Hoje, no entanto, a realidade é bem diferente. Quem trabalha no sector já “não recebe o suficiente para liquidar as despesas” o que faz com que a “agricultura no Interior do país está a morrer”.

“Hoje em dia os custos são muito elevados. Somos uma cidade do Interior e, por isso, é muito mais difícil sobreviver nesta Região. O que nos vale é que temos aqui bem perto de nós os nossos amigos espanhóis, caso contrário estaríamos a morrer à fome”, afirma Vítor Antunes.

Para o agricultor, que resolveu seguir as pisadas do pai e do avô, a culpa da situação “lamentável” em que se encontra a agricultura é do “Estado que numa primeira entusiasmou os agricultores e depois tirou o tapete debaixo dos pés”.

“A agricultura em Portugal já não é rentável. Neste momento penso que o maior problema é que as pessoas começaram a ficar desmotivas, e se não têm vontade de continuar a agricultura acaba. Não há incentivos e, assim sendo, a única agricultura que ainda se faz é de subsistência”, analisou.

Perante este cenário Vítor Antunes foi abrigado a vender os animais. Quando faz uma análise à situação reconhece que “já estava a ter prejuízo há mais de um ano” o que o obrigou a recorrer a algumas das economias que foi juntando ao longo de toda a vida.

“O meu prejuízo rondava os 200 ou 300 contos por mês. Esta situação obrigou-me a recorrer a algumas das reservas que tinha. Mas, também posso dizer que foi graças a um conjunto de amigos que temos, e nestas situações os agricultores são muito unidos, que conseguimos resolver muitas situações”, reconhece.

Contudo, para quem não conhece bem a realidade do sector, e as dificuldades que os agricultores atravessam Vítor Antunes faz uma breve resenha.

“Neste momento basta dizer uma coisa: há cerca de um ano um quilo de leite custava cerca de 80 escudos numa quota leiteira, actualmente custa um escudo. Na altura vendíamos uma vaca por 200 contos. Hoje? É vendida por 80 contos. Como é que é possível viver assim?” questiona o agricultor.

Actualmente, sem animais para cuidar e sem trabalho para o seu funcionário, foi obrigado a prescindir dos seus serviços, Vítor Antunes vai passar os seus dias no talho da família, no Mercado Municipal da Guarda mas continua a defender que a única maneira de minimizar os estragos é apoiar a agricultura familiar.

“Por estarmos no interior as matérias-primas saem-nos muito mais caras do que aos agricultores que estão mais perto do litoral. Por isso, acho que o Estado não pode ficar alheio a todas as dificuldades com que se debatem diariamente os agricultores do interior. Têm que ser criadas, urgentemente, medidas de excepção para o interior, caso contrário a agricultura na Região acaba mesmo por morrer”, alertou.

Contudo, e apesar da tristeza que sente por ter sido “obrigado a abdicar dos seus animais”, faz questão de referir que “não há vida mais bonita do que a de agricultor”.

“É a profissão mais digna que existe ao nível do mercado. Só é pena os governantes ainda não se tenham apercebido disso”, concluiu.

Por: André Sousa Martins


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