Cinema, música, teatro, oficinas pedagógicas e exposições itinerantes unem agora sete museus da região centro de Portugal.
Uma nova rede, “Museus no Centro”, integra agora os museus de Aveiro, Guarda, Dr. Joaquim Manso (Nazaré), José Malhoa, Cerâmica (Caldas da Rainha), Francisco Tavares Proença Júnior (Castelo Branco) e Santa Clara-a-Velha (Coimbra). Após terem sido entregues à sua tutela, a Direção Regional de Cultura do Centro (DRCC) desenvolveu um projecto de agregação que pretende «criar novas dinâmicas quer através da atração de públicos quer através do cumprimento da função social e cultural dos próprios museus», explica o diretor de serviços de Bens Culturais, Artur Côrte-Real. O objetivo é transportar para todos os museus um modelo que o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha (MSCAV) tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos. Organizar sessões de cinema, teatro, música, e muitas outras atividades pedagógicas e culturais com o intuito de criar uma programação mais jovem e atrativa. Celeste Amaro, diretora da DRCC, é perentória: «uma exposição vê-se uma vez, se não houver esta dinâmica as pessoas não voltam». Também a coordenadora do MSCAV, Lígia Gambini, compreende esta necessidade de dinamizar os espaços históricos e quebrar um paradigma instituído. «Os museus já não são aqueles espaços sombrios dedicados apenas a eruditos, mas sim abertos à maioria da população», confessa. Também por essa razão, a DRCC pretende desenvolver um maior trabalho de divulgação em plataformas online e integrar neste novo projeto a criação de lojas e cafetarias, bem como alargar os horários de visita. «Esta é uma tentativa de reaproximar os museus das pessoas, de os tornar espaços de lazer, de fazer fruir as cafetarias, os relvados, os edifícios e os monumentos», afirma Lígia Gambini.
Intercâmbio de experiências
A rede “Museus no Centro” revela-se então uma oportunidade de união de esforços entre as diversas entidades nela englobadas. «A ideia é captar aquilo que cada museu sabe fazer melhor e levar esse conhecimento aos outros para que esta dinâmica cultural se torne mais rica, abrangente e concertada – onde a experiência específica de cada espaço enriqueça também os outros», reitera a coordenadora do MSCAV. Assim, técnicos arqueológicos do MSCAV ou técnicos de pintura do Museu José Malhoa poderão dirigir oficinas pedagógicas em qualquer um dos outros museus. A DRCC pretende ainda que as exposições sejam itinerantes rentabilizando os recursos económicos disponíveis. Foi também criado um passaporte para o público de forma a que a visita a cada um dos museus seja registada, permitindo descontos e garantindo uma prenda surpresa no final. «São visitas que se complementam e que no fundo espelham a riqueza da nossa cultura», reitera Lígia Gambini. Segundo Celeste Amaro, um dos principais objetivos é tornar os museus «cada vez mais autosustentáveis», o que implica um aumento do público. E, de acordo com os dados estatísticos da DRCC, este projeto que é agora divulgado, mas que tem estado em fase de experimentação desde janeiro, permitiu aos museus integrados um aumento de visitantes. De um total de 16 908 visitantes anuais em maio de 2012, o conjunto dos museus teve um acréscimo para 26 508 em maio de 2013, um aumento de cerca de dez mil visitantes. Artur Côrte-Real explica: «estes projetos são medíveis e, portanto, não há nada abstrato. Daqui a um ano já fizemos uma primeira apreciação de aumento de públicos e de aumento de receita». No entanto, os responsáveis da DRCC acreditam que o projeto ainda tem um longo caminho a percorrer. Deste acréscimo de visitantes ficam excluídos o Museu Joaquim Manso na Nazaré e o Museu da Guarda cujas condições atuais são, na opinião de Celeste Amaro, o principal entrave ao desenvolvimento. «Pretendemos encerrar o museu da Nazaré, que está sem condições de abertura ao público e nada apelativo, e refazê-lo no promontório», confirma a diretora.
Cultura como um produto vendível
Num momento marcado pela crise económica, onde os cortes na cultura são cada vez mais acentuados, é necessário, na opinião de Celeste Amaro, descobrir novas formas de angariar receitas. «Promover a cultura hoje tem que ser como vender um produto, vender um museu tem a mesma ciência e o mesmo ‘marketing’ que vender outro produto», confessa a diretora. Os três responsáveis deixam ainda bem claro que um museu não é apenas as atividades e exposições que este alberga. «O museu vive também com o trabalho de investigação e com o trabalho de conservação», declara Artur Côrte-Real. Por isso mesmo, o diretor de serviços de Bens Culturais defende a necessidade de «inverter a ideia de que quando se vai a um museu não se paga». No seu ponto de vista «contribui-se para a manutenção de uma memória». Lígia Gambini reforça: «é evidente que a cultura deve ser acessível, mas a gratuitidade completa leva a que também muitas vezes não se valorize os espaços».