O desafio era lançado pela frase de Fernando Pessoa: “Gostava de estar no campo para poder gostar de estar na cidade”. Para a conversa estavam convocados os escritores Afonso Cruz, Valério Romão e Bruno Vieira do Amaral. Do painel, apenas o autor de “A Boneca de Kokoschka”, Afonso Cruz vive no campo, em pleno Alentejo.
Em sintonia os três escritores da nova geração da literatura portuguesa consideraram que não é o espaço de habitam que marca a sua escrita. Afonso Cruz explicou que para si é igual escrever na cidade ou no campo, porque diz “escrevo em frente ao computador”.
Também Valério Romão não coloca a tónica no cenário nos seus livros. Ao autor de “Autismo” ou “O da Joana” editados pela Abysmo interessam mais os cenários interiores das personagens. Por seu lado, Bruno Vieira do Amaral, autor de “As primeiras coisas” considera que pode “fazer-se literatura em qualquer lugar”. A questão está na experiência humana e na matéria-prima.
No último debate do Festival Literário de Belmonte, no auditório municipal Afonso Cruz falou dos equivocos sobre o campo. O escritor lembrou a frase do cartoonista José Bandeira: “O campo é um mito urbano” para observar que hoje no campo a “maior parte das pessoas de uma aldeia trabalha em serviços, num banco, num supermercado” e contou que hoje tem mais dificuldade em comprar na mercearia de Asa Branca, onde vive, produtos locais do que “batata doce da África do Sul”.
Na conversa que decorreu numa tarde fria de Belmonte, Valério Romão explicou como lhe interessa mais, enquanto escritor, a “interioridade” das personagens. Nos seus livros, diz que escreve “com muito poucas personagens” explica que gosta “de acompanhar cada uma delas com muita atenção” e conclui que “gosta de ver a interioridade vir à tona e espalhar-se pelo livro”. Talvez por isso, nos livros de Valério Romão não haja necessidade de paisagens exteriores, apenas de mundos interiores.
Em Belmonte, Bruno Vieira do Amaral falou do seu novo livro “Aleluia” que sairá em janeiro pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. A ideia era escrever sobre o “suburbano”, mas o escritor propôs uma reportagem sobre as igrejas evangélicas em Portugal. A radiografia desta realidade mostra, ao que descreveu Bruno Vieira do Amaral uma diversidade de casos.
O Festival Diáspora, terminou este domingo em Belmonte com uma conferência de Álvaro Laborinho Lúcio, ex-ministro da justiça, autor de “O Chamador”.