Em Celorico da Beira, Jaime Silva lamentou que seja o intermediário a lucrar mais com a venda do queijo da Serra
Titular da Agricultura ouviu muitas queixas por a produção de queijo não compensar
O ministro da Agricultura desafia os produtores de queijo da Serra a criarem uma cooperativa para a sua comercialização. Em Celorico da Beira, Jaime Silva elogiou, na passada sexta-feira, aqueles que fazem «o melhor queijo do mundo», mas lamentou que seja o intermediário a lucrar mais com a sua venda.
«Este é um sector com futuro se souber organizar-se e criar cooperativas fortes para vender. Aqui, o produtor vende o queijo a 10/12 euros o quilo, mas, em Lisboa, eu o pago-o a 25 euros. A diferença vai para o bolso dos intermediários, que é quem não corre riscos e não trabalha sábados e domingos», disse. Na primeira das três feiras que marcaram o último fim-de-semana, o governante apontou a comercialização como a «grande falha» deste sector tradicional e envelhecido. «Há muitos pequenos produtores e nenhuma capacidade de vender queijo pelo dobro do preço. Isto só se altera se se juntarem, com o apoio das autarquias e do ministério, e criarem uma cooperativa de comercialização que lhes garanta mais retorno», sublinhou. E citou o exemplo dos queijos de Azeitão e de Serpa, que «já deram esse salto qualitativo».
Por cá, o ministro ouviu muitas queixas e preocupações de queijeiros, a grande maioria com mais de 55 anos. «Isto não se pode aguentar. A minha mãe vendia o queijo ao mesmo preço que eu, mas as rendas, o gasóleo e a electricidade estão cada vez mais caros. O que ganho já não dá para as despesas, assim mais vale deixar de fazer queijo», reclamou uma produtora. Noutra banca, Jaime Silva foi confrontado com o pagamento obrigatório de 50 euros por trimestre em nome da taxa de auto-controlo e mais ameaças de abandono da actividade. No entanto, o titular da pasta da Agricultura considerou que grande parte destas queixas resultará da falta de informação e da «muita papelada» que é exigida. «O dinheiro e os subsídios existem, pelo que, juntamente com as autarquias, vamos realizar reuniões periódicas para que os agricultores fiquem a saber os apoios que há, quando e onde devem apresentar as candidaturas», adiantou.
Jaime Silva referia-se aos apoios «à agricultura do interior, às pequenas explorações, aos produtos tradicionais e a essa grande denominação de origem que é o queijo da Serra». Já para fomentar o rejuvenescimento da profissão, o ministro anunciou que os jovens agricultores vão ter direito a uma ajuda anual ao rendimento de 225 euros durante cinco anos, além dos apoios já disponíveis e do financiamento da sua formação durante cinco anos «na área que pretenderem». Na auto-denominada “capital do queijo da Serra”, José Monteiro garantiu que a Câmara «dá a mão aos seus produtores para que aproveitem os apoios disponibilizados». O autarca recordou ainda que se está a implementar o processo de HACCP (em português, Análise de Perigos e Controlo de Pontos Críticos) nas queijarias tradicionais licenciadas no município.
Também promete ajudar financeiramente os produtores que não conseguirem a isenção do pagamento da taxa de auto-controlo. Tudo porque, «todas estas micro-empresas juntas fazem uma grande fábrica com 500 empregados, pois este sector é fundamental para a economia da região», sublinhou.