Guardar ovelhas até morrer

Norberto Pereira tem 26 anos e é pastor, em Vila Ruiva, Fornos de Algodres Norberto Pereira, de 26 anos, é um jovem pastor de Vila Ruiva, concelho de Fornos de Algodres, que tem apenas a 3.ª classe, não tendo prosseguido os estudos porque “gostava mais das ovelhas” do que dos livros.O jovem que, é pastor […]

Norberto Pereira tem 26 anos e é pastor, em Vila Ruiva, Fornos de Algodres Norberto Pereira, de 26 anos, é um jovem pastor de Vila Ruiva, concelho de Fornos de Algodres, que tem apenas a 3.ª classe, não tendo prosseguido os estudos porque “gostava mais das ovelhas” do que dos livros.
O jovem que, é pastor desde os 7 anos, altura em que começou a guardar as ovelhas dos pais, cuida diariamente, de um rebanho de 54 ovelhas, que apascenta nas cercanias da aldeia onde vive.
Contou que, abandonou os estudos, quando andava na 3.ª classe, um acto de que agora se arrepende, ao reconhecer que, “nos dias de hoje, quem não tiver estudos não se safa em lado nenhum”. “Arrependo-me muito de não ter continuado a estudar. Agora, torço a orelha, mas acho que já é tarde”, admitiu, referindo que os estudos lhe fazem falta para “tirar a carta de carro ou de tractor” e “para resolver a maior parte da papelada” do dia-a-dia.
Apesar da “cabeçada” que, deu em criança, o jovem pastor não se mostra arrependido com a profissão que escolheu, e deixa claro que caso voltasse a estudar “para tirar” a 4.ª classe ou o 9.º ano, “nunca deixava as ovelhas”.
Norberto Pereira não esconde que, tem um grande amor pela profissão e pelos animais que, apascenta diariamente, sempre acompanhado pelo cão Leão. “Sempre gostei disto. Ninguém me manda”, diz, para justificar o ofício que escolheu.
Apesar de passar os dias a cuidar dos animais e de não ter fins-de-semana, feriados nem férias, o jovem pastor, que usa telemóvel e utiliza os adereços típicos da função: um cobertor (“no Inverno tapa o frio e no Verão dá para descansar um bocado”) e um cajado (“para matar as cobras e para tocar as ovelhas”), não se mostra arrependido da escolha profissional, que fez.
Recordou que, nasceu “praticamente debaixo” das ovelhas e que o gosto pelo pastoreio “nasce já com a pessoa”. “Sempre tive o gosto pelas ovelhas e penso morrer com elas”, diz, garantindo que, esteve um ano a trabalhar na Suíça, mas regressou à terra onde nasceu, para voltar a cuidar do rebanho.

“Poucos aguentam
esta vida”

Os animais dão “muito trabalho”, garante Norberto Pereira, relatando que, para além do pastoreio também faz a ordenha das ovelhas, vendendo o leite para uma fábrica de produção de queijo recebendo o respectivo cheque “no fim do mês”. Optou por vender o leite porque não tem quem lhe faça o queijo. “Vendo o leite para a fábrica e estou descansado, porque esta vida é de muito trabalho e muito presa. Não tenho sábados nem domingos, trabalho de noite e de dia. É muito difícil. Poucos aguentam esta vida. É mesmo só para quem gosta disto”.
O pastor investiu cerca de 500 euros na compra das primeiras 44 ovelhas e nunca pediu apoios ao Estado, assegurando que, nem tenciona fazê-lo, porque prefere manter os animais a expensas próprias, sem estar dependente de subsídios. “Quando eles dão, por exemplo, um bocado de queijo, querem o queijo todo”, referiu, para justificar o facto de nunca ter pedido apoios.
O jovem, que, “muitas vezes” já foi “chamado de doido” por alguns habitantes da aldeia, onde vive, quer continuar os dias a cuidar das ovelhas que trata pelos nomes que, atribuiu a cada uma delas: pelada, pinada, morena, morgada, etc.
Como ainda é solteiro, garante que, um dia, se chegar a casar, pretende permanecer como pastor “quer ela [a mulher] queira quer não”.
Joaquim Estrela, de 54 anos, também pastor de Vila Ruiva, disse ao Jornal A Guarda que, o seu vizinho e amigo Norberto Pereira “é o mais jovem pastor da nossa região e com vontade de ir para a frente”. “Penso que, faz bem, tenho-o incentivado nesse sentido e penso que, é um exemplo que devia ser seguido pelos mais jovens, porque em morrendo os velhos a nossa actividade desaparece”, declarou.


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